Capítulo 1

679 Words
Capítulo 1 Dia atual, local desconhecido Lábios frios roçam minha testa latejante, trazendo consigo um leve aroma de pinho, oceano e couro. — Shh... Está tudo bem. Você está bem. Acabei de lhe dar algo para aliviar sua dor de cabeça e tornar isso mais fácil. A voz masculina é profunda e sombria, estranhamente familiar. As palavras são ditas em russo. Minha mente confusa luta para se concentrar. Por que russo? Estou na América, não estou? Como eu conheço essa voz? Esse perfume? Eu tento abrir minhas pálpebras pesadas, mas elas se recusam a ceder. O mesmo vale para a minha mão quando tento levantá-la. Tudo parece incrivelmente pesado, como se meus próprios ossos fossem feitos de metal, minha carne, de concreto. Minha cabeça pende para um lado, meus músculos do pescoço são incapazes de suportar seu peso. É como se eu fosse um recém-nascido. Eu tento falar, mas um ruído incoerente escapa da minha garganta, misturando-se com um rugido distante que meus ouvidos agora podem discernir. Talvez eu seja um recém-nascido. Isso explicaria por que estou tão ridiculamente indefesa e não consigo entender nada. — Aqui, deite-se. — Mãos fortes me guiam para alguma superfície macia e plana. Bem, a maior parte em mim. Minha cabeça acaba em algo elevado e duro, mas confortável. Não é um travesseiro, duro demais para isso, mas também não é uma pedra. Não há muito o que dizer sobre o objeto, mas uma coisa posso dizer. É estranhamente quente também. O objeto se mexe ligeiramente, e dos recessos nebulosos da minha mente, a resposta para o mistério emerge. Um colo. Minha cabeça está deitada no colo de alguém. Um homem, a julgar pelas coxas duras e musculosas debaixo do meu crânio dolorido. Meu pulso acelera. Mesmo com meus pensamentos lentos e confusos, eu sei que isso não é normal para mim. Não sou de colos ou homens. Pelo menos, não tive muito contato até agora em todos os meus vinte e cinco anos. Vinte e cinco. Eu me agarro a essa lasca de conhecimento. Tenho vinte e cinco anos, não sou recém-nascida. Encorajada, vasculho mais os fios emaranhados, buscando uma resposta para o que está acontecendo, mas isso me escapa, as lembranças vêm lentamente, se é que chegam. Escuridão. Incêndio. Um demônio do pesadelo vindo me reivindicar. Isso é uma lembrança ou algo que eu vi em um filme? Uma agulha cravando-se profundamente no meu pescoço. Prostração indesejável se espalhando pelo meu corpo. Essa última parte parece real. Minha mente pode não estar funcionando, mas meu corpo sabe a verdade. Ele sente a ameaça. Minha frequência cardíaca se intensifica enquanto a adrenalina satura minhas veias. Sim. Sim, é isso. Eu posso fazer isso. Com a força nascida do terror crescente, abro minhas pálpebras pesadas e olho para cima, para um par de olhos mais escuros do que a noite que nos cerca. Olhos fixos em um rosto cruelmente bonito que assusta meus sonhos e pesadelos. — Não lute contra isso, Alinyonok — Murmura Alexei Leonov. Sua voz sombria é promessa e ameaça enquanto ele gentilmente passa os dedos pelo meu cabelo, massageando a tensão latejante no meu crânio. — Você só vai tornar isso mais difícil para si mesma. As bordas de seus calos prendem nos emaranhados do meu cabelo comprido, e ele retira os dedos, apenas para curvar a palma da mão ao redor do meu queixo. Ele tem mãos grandes, mãos perigosas. Mãos que já mataram dezenas só hoje. O conhecimento agita meu estômago mesmo quando algum nó de tensão dentro de mim se desfaz. Por dez longos anos temi este momento e, finalmente, está aqui. Ele está aqui. Ele veio atrás de mim. — Não chore — Meu futuro marido diz suavemente, afastando a umidade do meu rosto com a ponta áspera do polegar. — Não vai ajudar. Você sabe disso. Sim, eu sei. Nada nem ninguém pode me ajudar agora. Eu reconheço aquele rugido distante. É o som de um motor de avião. Estamos no ar. Fecho os olhos e deixo a escuridão nebulosa me levar.
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