Capítulo 9

1161 Words
Jacaré Narrando Depois de saber da fita que tão querendo invadir meu morro, eu já não tava conseguindo dormir. Já organizei os vapores, cada um em um lugar estratégico, e mandei os olheiros ficarem esperto. Qualquer movimento estranho, é pra passar o rádio. O Jaguatirica descobriu que o Plutão tá querendo invadir por causa das drogas de qualidade que mandei vender na boca, e ele tá querendo as recompensas. Mas se depender de mim, ele é homem de morte e ainda tiro o morro Pão de Açúcar dele. — Aí, Jaguatirica, tem mais alguma novidade? — Passei o rádio pra ele. — Tem não, mano. Por enquanto, tá tudo na paz. — Ele responde. — Já é, mano. Qualquer coisa, mete bala, derruba tudo. Aproveitei que a Valentina não tava no barraco hoje e desci pro boteco pra comer uma quentinha. Quando sentei, escutei o rádio chiar e já peguei, achando que tava vindo B.O. — Patrão, o moleque lá que levou os tiro tá aqui na contenção com os coroas querendo subir. — Quando o vapor falou que o moleque tava lá, já comecei a sentir um bagulho estranho e um nervosinho. — Pode liberar a subida deles, fala pra ir direto pro meu barraco. — Paguei a quentinha, montei na moto e subi a mil pro meu barraco. Fiquei esperando eles na porta, e de longe vi o Nivus chegando perto do meu barraco. O coroa do moleque buzinou, eu fiz sinal com a mão, ele parou o carro e desceu, mas vi que o moleque ficou dentro do carro, me olhando com cara de bolado. — E aí, coroa, suave? — Falei e fiz toque de mão com o coroa. — Tá tudo bem, trouxe o Benjamim pra conversarmos todos juntos. — O coroa fala, e eu faço sinal pra entrar. Os coroas entraram, e eu fui na porta do carro, fiquei esperando o moleque descer. Ele me olhava com sangue nos olhos, mas não me assustei não, já tava acostumado com cara feia. — Tu não vai descer não, moleque? Eu não mordo, a não ser que me peça. — Falei, e depois me arrependi. Não sei o que acontece comigo, quando tô perto desse menino, falo umas coisas e me sinto tudo estranho. — Você é m*l educado mesmo. — Ele desceu do carro e passou por mim, batendo no meu ombro. — A moleque abusado... — Retruco pra mim mesmo. Entrei pro meu barraco e vi que o moleque olhava tudo de cima a baixo, mas percebi que ele gostou do que viu. Ele foi sentar junto com os coroas dele, e eu sentei no sofá de frente pra eles. — Fala aí, qual é o assunto da visita? — Já fui direto. — Então, tivemos uma conversa com o Benjamim, e ele decidiu por ele mesmo que queria vir aqui te pedir desculpas por ser m*l educado. — A coroa dele fala, e ele olha pra ela, bolado. — A senhora sabe que não é verdade. — Ele fala e leva um beliscão dela. — Desembucha, Benjamin! — Ela fala. — Não é verdade o que ela falou, mas mesmo sendo obrigado, vim aqui te pedir desculpas pelo que falei e pensei sobre você. — Ele falou, revirando os olhos. — Tranquilo, tá tudo certo, só tu que tá nas paranóias. — Eu falo. — Tem um banheiro por aqui? — Ele perguntou, e eu fiz sinal pra ele me seguir. Subi as escadas com o moleque na minha frente e reparei que ele tem um bundão, mas logo afastei esses pensamentos. Sou hetero, não tenho que ficar reparando em b***a de homem. Ele entrou no banheiro e bateu a porta. — Tem geladeira em casa, não, p***a? — Eu falo e escuto ele respondendo: “Não.” Ele abriu a porta do banheiro, e eu fiquei parado na frente da porta, impedindo ele de sair. — Dá pra sair da minha frente? — Ele fala, tentando me empurrar, mas é em vão. — Se me pedir com educação, eu saio. — Eu falo e rio da cara dele. — Até parece que você tem educação. — Ele revirou os olhos. — Vamos ver se vai revirar o olho quando tiver de quatro pra mim. — Eu falei, e vi ele ficar paralisado. Logo me arrependi de ter falado aquilo. Ele passou por baixo dos meus braços e tentou correr, mas eu vi que ele tinha dificuldade. Voltei pra sala, e escutei ele chamando todo nervoso os coroas dele para irem embora. — Ficam aí pra jantar comigo. — Eu falei, e dei uma risadinha sacana pro moleque. — Já que está convidando, nós ficamos. — O coroa dele falou, e eu vi o moleque se mordendo de raiva. — Não estou com fome. — O moleque falou. — Que pena, então você fica olhando nós comerem. — Eu falei e fui pra cozinha rindo, deixando ele bolado na sala. — Aí, dona Amélia, aumenta a água no feijão que vamos ter companhia pra comer. — Eu falei, e ela confirmou, toda feliz. Saí e busquei a Valentina na casa da prima dela. Ela veio nas minhas costas, e subimos o morro caminhando. Quando entramos no meu barraco, vi o moleque me olhar confuso. — Quem são essas pessoas, titio? — A Valentina me perguntou com vergonha. — São amigos do titio, princesa. — Eu falei. — Oi, princesa linda, como vai? — A coroa do moleque falou, e vi que ela se encantou com a Valentina. Fiquei na sala brincando com ela, e de vez em quando sentia as olhadas do moleque em mim. A Valentina chamou ele pra brincar também, mas ele, igual uma criança birrenta, não quis. Dona Amélia chamou a gente pra comer, e fomos todos pra mesa. Ajudei a Valentina a servir o prato e depois sentei na minha cadeira. — Está tudo uma delícia. — A coroa falou, terminando de comer. — Valeu aí, o merecimento é todo da dona Amélia. — Eu falei e vi dona Amélia ficar vermelha. — Não me faça vergonha, Antony. — Ela me chamou pelo meu nome, e eu me engasguei. Nunca ninguém soube meu nome, só sabiam meu vulgo, mas a dona Amélia deixou escapar. — Desculpe. — Ela me olhou assustada por ter me chamado pelo nome. — Tranquilo, dona Amélia. — Eu falei e vi os coroas me olharem. — Agora que já sabemos seu nome, vamos falar os nossos. Eu sou a Clara, e ele é o Bento. — A coroa falou. Depois de saberem meu nome, eles decidiram ir embora pro hotel. Fui com eles até a porta, eles se despediram de mim, e como sempre, o moleque me tratou com grosseria. Pra provocar, dei uma piscada e mandei um beijo. Vi que ele ficou sem jeito. Quando eles fecharam a porta do carro, escutei barulho de tiro, e o rádio chiou com o Jaguatirica me chamando.
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