Capítulo 22

1289 Words
Benjamim Narrando Quando eu e minha mãe voltamos das compras, eu senti que precisava relaxar. Os dias estavam sendo intensos demais, e minha cabeça ainda estava um caos tentando processar tudo. Olhei pela janela do meu quarto, e a praia logo ali na frente parecia a solução perfeita. Então, decidi que ia passar o resto do dia lá, ouvindo o som do mar e tentando, talvez, organizar meus pensamentos. Peguei minhas coisas: uma cadeira de praia, um guarda-sol e meu livro, que sempre levo comigo pra esses momentos. Fui caminhando até a praia, sentindo a brisa no rosto e o cheiro de maresia me invadindo. Era tão perto de casa que parecia um refúgio privado. Chegando lá, escolhi um lugar tranquilo, não muito cheio, e armei o guarda-sol. Sentei na cadeira, tentando aproveitar aquela sensação de calmaria que só a praia sabe trazer. Estava ajeitando tudo quando percebi que um garçom estava vindo na minha direção. Ele era bonito, parecia ter uns vinte e poucos anos, com um sorriso fácil que combinava com o clima descontraído dali. — Boa tarde, precisa de algo? — ele perguntou, educado, mas com aquele tom simpático que deixa a gente à vontade. Olhei pra ele, então dei um sorriso de canto. — Vou querer uma caipirinha de morango, por favor — pedi, sem hesitar. Morango sempre foi minha fraqueza. Uma caipirinha de morango na praia, então, parecia a escolha certa pra começar o dia. O garçom assentiu e foi buscar o pedido, me deixando com um momento pra observar o mar e sentir o calor do sol na pele. Eu queria esquecer, nem que fosse por algumas horas, tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas. Talvez, com uma caipirinha e o som do mar, eu conseguisse. Eu estava ali, curtindo o momento, finalmente sentindo a mente mais leve enquanto observava o movimento da praia. Tinha um monte de gente bonita passando, e confesso que aproveitei pra admirar alguns caras que, de verdade, pareciam modelos. Era engraçado como a praia sempre atraía pessoas assim. Era impossível não me divertir com aquela vista — tanto o mar quanto... bem, outras coisas. Eu estava distraído, relaxando, quando de repente levei um susto. Uma garota, aparentemente da minha idade, acabou esbarrando na cadeira em que eu estava sentado. Foi tudo tão rápido que até derrubei um pouco da minha caipirinha. — Ai, desculpa! Foi sem querer mesmo! — ela disse, claramente arrependida, com um sorriso sem graça no rosto. — Tá tranquilo — falei, rindo. — Só derrubei um pouco da bebida, mas tá de boa. Ela riu também, parecendo aliviada, e acabamos começando a conversar ali mesmo. Descobri que ela era gente boa, do tipo animada e cheia de energia, daquelas que fazem amizade fácil. Depois de um tempo conversando sobre besteiras e coisas do dia a dia, ela virou pra mim e soltou: — Olha, vai ter um baile lá no morro onde eu moro hoje à noite. Vai ser incrível! Você devia ir. Aquilo me pegou de surpresa. Baile? No morro? Essa era uma ideia que jamais tinha passado pela minha cabeça. Soltei uma risada nervosa. — Ah, não sei... Essas coisas não são muito a minha vibe, sabe? — Ah, para com isso! — ela insistiu, cruzando os braços e fingindo indignação. — Vai ser bom pra você. Se distrair, conhecer gente nova... E, sério, a energia do baile é incrível. Tem que ir! Eu relutei por uns minutos, dando todas as desculpas possíveis, mas ela era insistente. Não parava de listar os motivos pelos quais seria uma boa ideia, e, de alguma forma, aquilo acabou me convencendo. Não sei bem por quê, mas no fundo, talvez eu quisesse sair da rotina, arriscar algo diferente. — Tá bom, tá bom — disse por fim, rindo. — Eu vou. Mas é bom ser tão bom assim quanto você tá falando. — Eu prometo que você não vai se arrepender! — ela respondeu, sorrindo satisfeita. E assim, sem nem perceber direito, eu já tinha planos pra noite. A gente continuou conversando, e percebi que ela era realmente divertida, uma pessoa com quem era fácil se dar bem. Antes de irmos embora da praia, trocamos contatos e marcamos de nos encontrar mais tarde. Parecia que eu tinha ganhado uma nova amiga... E também uma nova aventura pela frente. Cheguei em casa com a mente ainda meio confusa sobre ter aceitado aquele convite. Um baile no morro não era o tipo de coisa que eu planejava fazer na vida, mas, de alguma forma, a insistência da minha nova amiga me convenceu. Subi direto para o meu quarto e comecei a me arrumar, tentando equilibrar o casual com algo que ficasse apresentável. Escolhi uma camiseta ajustada, uma calça confortável e tênis que combinassem. Nada extravagante, mas o suficiente pra parecer que eu tinha caprichado. Depois de tudo pronto, me olhei no espelho, respirando fundo. Não sabia ao certo o que esperar, mas eu já estava comprometido. Peguei o celular e mandei mensagem pra ela, avisando que estava pronto. A resposta veio mais rápido do que eu esperava: "Tô mandando um Uber pra te buscar. Fica de olho na frente de casa!" E lá estava eu, minutos depois, parado na calçada enquanto o carro se aproximava. Entrei, soltei o endereço que ela havia enviado, e tentei não pensar muito enquanto o carro ia passando pelas ruas escuras. Mas, assim que o Uber parou na frente do morro e percebi onde eu estava, meu coração gelou. Era o mesmo morro que pertencia ao Jacaré. Aquele morro. Por um momento, a vontade de voltar atrás quase me venceu. Eu pensei em pedir ao motorista pra me levar de volta, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, avistei a minha amiga esperando bem ali na contenção, me acenando animada. Fiquei sem saída. Já estava ali, e não queria estragar o clima dela. Suspirei fundo e saí do carro, caminhando até onde ela estava. — Achei que você fosse dar pra trás — ela brincou, me puxando pela mão. — Vem, vou te mostrar o que é um baile de verdade! Entrar no baile foi como mergulhar em outro mundo. O som do funk estava tão alto que eu podia sentir as batidas no peito. Luzes piscavam por toda parte, e havia gente por todo o lado, rindo, dançando, vivendo intensamente aquele momento. Era tudo tão caótico e vibrante que, por um instante, fiquei perdido. Minha amiga, notando isso, segurou firme na minha mão, me guiando através da multidão. Mas enquanto eu tentava me adaptar ao ambiente, não demorou pra que meu olhar fosse atraído para cima. Foi impossível não perceber Jacaré. Ele estava no camarote, debruçado na grade, olhando tudo lá de cima como se fosse o rei daquele lugar. Sua presença era dominante, impossível de ignorar. Por algum motivo, meu coração deu um salto desconfortável. Antes que eu pudesse reagir, notei um dos homens dele descendo em nossa direção. Ele chegou perto, dirigindo-se a mim: — O chefe quer que você suba pro camarote. Olhei para minha amiga, então voltei o olhar para o homem. Meu instinto me mandava negar. Não fazia ideia do que Jacaré queria comigo, mas já era demais estar ali, e subir até ele parecia cruzar uma linha que eu não estava pronto pra enfrentar. — Tô bem aqui. Não precisa, tô com minha amiga — respondi, tentando ser o mais firme possível. O homem me olhou por alguns segundos antes de dar de ombros e voltar para onde veio. Eu continuei parado ali, com minha amiga ao lado, mas sentia os olhos de Jacaré queimando em mim de longe. O que quer que ele estivesse pensando, eu sabia que aquela noite ainda seria longa.
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