Benjamim Narrando
Meu nome é Benjamin. Tenho 20 anos e, às vezes, quando me olho no espelho, vejo alguém que talvez não seja o mais forte, mas que carrega algo próprio. Meus cabelos são loiros, caindo de forma leve sobre minha testa, quase como se quisessem cobrir meus olhos, que são azuis, daquele tom de azul que lembra o mar em um dia claro, profundo e calmo. Meu corpo? Não vou mentir, não sou o tipo que se destaca pela musculatura. Pouco definido, talvez. Mas uma coisa que definitivamente chama atenção é a minha b***a. Sempre foi grande e redonda, impossível de não reparar. Uma das primeiras coisas que me falam, seja por brincadeira ou não. E, por algum motivo, não tenho pelos no corpo, o que me colocou naquele rótulo de "twink". Não ligo muito pra isso, na verdade. Faz parte de mim, e aprendi a gostar do que vejo.
Meus pais decidiram que a gente precisava de uma viagem em família. Sabe, aquelas escapadas que todos ficam planejando há anos e nunca fazem? Pois é, essa foi a nossa. Rio de Janeiro. Sol, praia e toda aquela energia de cidade grande, mas com o calor que eu tanto amo. Eu não estava tão empolgado no início, só pra ser honesto. Mas isso mudou rápido.
Quando finalmente chegamos à praia de Copacabana, foi como se o mundo inteiro sorrisse pra mim. A areia branca sob meus pés, a brisa salgada acariciando minha pele e o som das ondas quebrando ao fundo. Era... perfeito. Cada detalhe parecia gritar que eu estava no lugar certo, na hora certa. Eu simplesmente amei. Era como estar dentro de um daqueles filmes que eu sempre assistia quando criança, mas dessa vez, eu era o protagonista.
Andar pelas calçadas de Copacabana, com o mar ao lado, é uma sensação indescritível. Tudo parecia estar em harmonia, e a vibe do Rio me pegou de jeito. Meus pais também estavam se divertindo, o que tornava a viagem ainda melhor. A gente ria, comia nos quiosques e caminhava sem rumo, apenas aproveitando cada momento.
Até o jeito que as pessoas se movimentam aqui é diferente, leve, como se o tempo passasse mais devagar. E, sinceramente, eu não queria que esse sentimento acabasse.
O dia estava quente, daqueles que você sente o sol grudar na pele. Eu e meus pais estávamos sentados, cada um em sua cadeira de praia, tomando água de coco. A brisa leve que vinha do mar fazia o calor parecer mais suportável, e o mormaço nos envolvia como um cobertor. Tudo parecia tranquilo. A gente só estava curtindo o momento, sem pressa pra nada.
Em um certo ponto, meu pai sugeriu que a gente desse uma volta pela cidade. Ele queria explorar mais, conhecer novos lugares, e como a gente não sabia muito bem o caminho, ele pegou o celular e colocou o GPS. Sem discutir, fomos pro carro. Sentei no banco da frente com ele, enquanto minha mãe ficou no banco de trás. O passeio estava ótimo, a cidade tinha uma energia que me fazia sentir vivo. A cada esquina, a gente via uma nova paisagem, novas pessoas, novas histórias.
Mas então o GPS mandou a gente entrar em uma rua com um nome estranho, que eu nunca tinha ouvido falar. Meu pai, meio confuso, seguiu as instruções. Assim que viramos, o clima mudou. O silêncio que antes era quebrado só pelo som do rádio deu lugar a uma gritaria que ecoou ao nosso redor. Vozes altas, desesperadas, mandando a gente baixar o vidro do carro.
Foi tudo muito rápido. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti algo quente, como se fosse fogo, atingindo meu corpo. A dor veio como uma explosão, tão intensa que era impossível de descrever. E, a partir dali, tudo ficou escuro. Não vi mais nada.
Mesmo inconsciente, eu podia ouvir os gritos dos meus pais. Era como se minha mente estivesse presa em algum lugar entre a realidade e o nada. Os sons vinham abafados, mas eu sabia que eles estavam desesperados. Meu pai gritava o meu nome, e a voz da minha mãe estava tomada por pânico. Era um som que eu nunca imaginei ouvir vindo deles, algo que cortava fundo, como se pudesse arrancar a alma do peito.
Alguns minutos depois, eu escutei um barulho distante, quase imperceptível no meio do caos: sirenes. Ambulâncias, talvez. Aquele som cortava o ar e, de alguma forma, me deu uma noção do que estava acontecendo. Eu sabia que algo muito errado tinha acontecido, mas o que? Eu tentava falar, tentava gritar de volta, avisar que eu estava ali, que ainda podia ouvir, mas nada saía. Era como se minha voz estivesse presa dentro de mim, sufocada.
Mesmo sem conseguir reagir, eu ouvia tudo. Cada palavra, cada ordem apressada de socorro. Então, no meio da confusão, eu escutei claramente alguém dizer que eu tinha sido atingido. Não por qualquer coisa, mas por um tiro de doze. A palavra soou como um veredito, e meu coração afundou.
Depois que me levaram ao hospital, tudo ficou ainda mais confuso. Eu sentia o movimento ao meu redor, o barulho de gente correndo, vozes falando rápido. Não sei ao certo quanto tempo passou até me colocarem em uma maca e me encaminharem para a sala de cirurgia. Eu ouvia tudo de longe, como se estivesse preso em um sonho do qual não conseguia acordar. Mas, de repente, minha consciência começou a se apagar.
Aos poucos, a escuridão tomou conta, e, a partir daquele momento, não lembro de mais nada.