Maileen.
― Leen, por que mamãe e papai nos batem tanto? ― Meu coração afunda quando ouço sua pequena voz sussurrar essas palavras para mim. Como lhe responder? Nem eu sei o motivo de tudo isso!
Abraço minha irmã com força e beijo seu cabelo.
― Eu não sei, pequena ― admito, deixando escapar um pequeno suspiro. ― Mas prometo a você que isso não vai durar muito tempo, apenas aguente um pouco mais.
Ela levanta a sua cabeça e me encara com os seus lindos olhos verdes.
― Deixaremos a mamãe e o papai? ― embora a curiosidade, sei perfeitamente que está prestes a chorar. Apesar de tudo, ela ama muito os nossos pais. ― Eu quero estar com a mamãe e o papai, não me importo se eles nos machucam.
― Eu sei, mas não podemos, Maddie. ― Mantenho-me firme. ― Algum dia eles pagarão por tudo o que fizeram e aí vão querer nos separar. E eu não vou deixar que nos separem.
Ela tremia um pouco e sem dizer mais nada se aconchega ao meu lado.
Nem por brincadeira saímos do quarto e, por obra divina, nenhum de nossos pais invadiu o cômodo. Estamos a salvo, pelo menos esta noite. Eu corro minhas mãos sobre o corpo da minha irmã, tentando lhe dar um pouco de calor e quando chego em suas pernas ela geme de dor.
Levanto-me e rapidamente acendo a luz. Observo a minha irmã e me surpreendo ao ver vários hematomas em suas pernas, assim como nos braços e no pescoço.
Estes não estavam lá ontem!
― Maddie, papai estava aqui hoje?
Ela olha para baixo e não responde. Isso é tudo o que eu preciso saber para reagir.
― Eu disse para você não deixar ninguém entrar, Maddie! ― Repreendo-a. ― Por que você fez isso?
Ela começa a chorar e meu coração aperta um pouco, mas volto a ficar firme.
― Papai disse que tinha um presente para mim ― ela soluça alto e por um momento temo que eles a ouçam. ― Papai entrou com uma corda nas mãos e me bateu com muita força... Doeu muito, Leen. Ele disse que eu tinha que preparar a comida e eu não sabia o que fazer...
Minha irmãzinha começa a chorar em meus braços e eu tenho que engolir a enorme vontade de ir matar com as minhas próprias mãos aqueles dois seres humanos horríveis. Não dou a mínima se eles são os meus pais, não acho que existam seres mais nojentos que eles.
Maddie tem apenas seis anos!
― Está tudo bem, vai ficar tudo bem, irmã ― digo a ela enquanto a abraço e acabo engolindo minhas lágrimas. Nada está bem e eu realmente não sei o que vou fazer para ajudar a minha irmã.
Denuncie os seus pais e a deixe com o departamento de família....
Não! Ignoro aquela vozinha na minha cabeça. Eu nunca deixaria a minha irmã, muito menos com o departamento de família. Já ouvi falar desse lugar, sei que há muitos como ela, e sei que vão demorar anos para que me aprovem como uma pessoa apta a cuidar dela, e isto, se não a adotarem primeiro.
Eu, definitivamente, nunca vou deixá-la lá.
Apago as luzes do quarto novamente e sussurro para minha irmã que é hora de dormir e que amanhã será um dia melhor. Eu sei que é uma grande mentira, mas ajuda a tranquilizá-la. Fecho os olhos e tento acreditar em minhas próprias palavras, as coisas estavam piorando com o passar do tempo e eu precisava agir diante aos acontecimentos, principalmente por ela.
Eu faria tudo por ela.
(...)
Com o passar dos dias, consegui deixar Maddie com a mãe de Casey, isso não acontece com frequência, pois a Sra. Lina Harley está lutando contra o câncer e precisa descansar muito, mas também estou ciente do quanto ela ama a minha irmã. Então, deixo Maddie sozinha por algumas horas, para que minha mente possa descansar de todos os pensamentos horríveis, que incluem minha irmã e todas aquelas pessoas terríveis.
Casey e eu, somos estudantes do terceiro ano de comunicação social. Eu realmente amo a minha carreira e é graças a minha amiga que estou estudando isso, eu não queria deixar Maddie sozinha, mas Casey me fez entender que se eu quisesse um futuro melhor para a minha irmã e para mim, eu tinha que ter um diploma universitário. Agradeço a ela do fundo da minha alma, nem todos nós temos a sorte de conhecer pessoas assim.
― Maileen! ― escuto alguém gritar. ― Maileen!
Me viro e vejo a garota de cabelos loiros correndo com um enorme sorriso nos lábios.
― Qual é o problema? ― pergunto confusa. Eu estava prestes a pegar um pouco de comida no refeitório para o jantar da minha irmã...
― Você ganhou!
O que? O que disse?
― Quê? ― pisco uma vez, ainda mais confusa.
― O concurso! Você ganhou! ― ela afirma, dando alguns pulinhos de alegria.
Levei vários segundos para reagir àquela notícia. Acabo de ganhar cinco mil dólares, o dinheiro que preciso para tirar a minha irmã daquele mundo, minha pequena Maddie não vai levar mais surras de ninguém em sua vida.
Ela foi salva, nós fomos salvas!
― Eu ganhei? ― perguntei espantada. ― Minha ideia foi aceita?
Ela balança a cabeça mais animada do que eu. Ainda não consegui assimilar a notícia.
― Não só foi aceita, foi de longe a melhor ideia e eles vão executá-la imediatamente. Eles querem que você seja a que ajude com tudo o que for necessário, já que você foi a criadora.
Abro os olhos surpresa e francamente assustada. Eu não posso fazer isso.
― Isso não fazia parte do concurso.
― Sim, é verdade, mas é uma grande oportunidade, Maileen. Você poderia usá-la como parte da tese universitária, isso te beneficiaria muito.
― A tudo isso... Como você sabe todas essas informações? ― estou realmente curiosa sobre tudo o que ela sabe.
Ela pareceu um pouco envergonhada por um momento, mas eventualmente ela dá de ombros e sorri para mim.
― Você deixou o seu e-mail aberto no meu celular e eu recebi a notificação, desculpe.
― Não ― eu a interrompo. ― Está tudo bem, não se preocupe.
Eu ando até ela e a abraço, lágrimas brotam dos meus olhos e eu tento esconder o meu rosto no cabelo da minha amiga. Ela, como sempre faz, sente minha respiração pesada e passa a mão para cima e para baixo nas minhas costas.
― Calma, amiga ― ela murmura baixinho. ― Vamos tirar Maddie daquele lugar e tudo vai ficar melhor para você de agora em diante, mamãe e eu vamos te ajudar a encontrar um novo lugar.
Eu soluço baixinho.
― Ah, Casey. O que eu faria sem você ou Lina?
― Nós nunca vamos deixá-las. Agora, enxugue essas lágrimas. Devemos ir ― nos separamos e enquanto ela enxugava as lágrimas do meu rosto, eu lhe dou um pequeno sorriso sincero.
― Para onde?
― Talvez eu tenha esquecido de mencionar que você deve se encontrar com Colton Hemsley em duas horas.
Abro os olhos um pouco assustada e ela apenas encolhe os ombros e sorri para mim com ternura.
Oh, não! Este rosto não vai funcionar para você, Casey.
― Eu não tenho nada para vestir, Casey. Como...? Por que não me disse? ― coloco as mãos na cabeça, o velho tema da comida esquecida. ― O que vou fazer?
Ela sorri para mim de novo, mas desta vez é seu típico sorriso de “eu tenho um plano”. Ela costumava usá-lo para me fazer aceitar a comida que fazia para mim, compromissos ou notas para os testes.
― Não se preocupe, eu tenho um plano ― ela pega em meu braço e quase me arrasta para fora da universidade.