Breathe Me

O Trabalho

Peter

E lá estávamos nós... Callie estava sentada no chão lendo um livro, seus cabelos ruivos estavam quase que totalmente jogados para o lado esquerdo, seu suéter era claramente maior que ela e por isso caia deixando seu ombro a mostra, sei que pode estar começando a ficar esquisito, mas não consigo parar de olhar para ela...

—Peter... -Me chamou sem tirar os olhos do livro.

—O-oi...

—Acho que você está me encarando a um bom tempo... Já está meio estranho.

—D-Desculpa... -Abaixei a cabeça subitamente sentindo o meu rosto queimar.

—Tudo bem Peter relaxa. -Ela levantou o rosto e me deu um sorriso encantador.

Pude olhar melhor o seu rosto, seus olhos eram negros como jabuticabas contrastavam bastante com sua pele quase tão branca como a neve, mas então percebi que ela estava com um hematoma do lado esquerdo do rosto que o cabelo estava cobrindo, meu sorriso bobo se desmanchou quase que de imediato.

—O que houve com o seu rosto?

—E-Eu bati no poste... -Levantou-se e Foi em direção a minha janela. -Olha! Sua janela da bem de frente com a janela do meu quar... Escuta, por acaso era você estava me espionando? É que esses dias eu fui trocar de roupa e vi que tinha alguém me olhando...

Ela estava claramente mudando de assunto para não falar sobre o hematoma no seu rosto, mas de todos os assuntos possíveis tinha que ser logo esse?!

—Não! Claro que não... Na verdade eu nunca percebi que você morava ali-Tentei parecer o mais natural possível. Me levantei e fui até ela.

—Sei... - Ela não pareceu acreditar muito. -Por que você mora com sua tia?

—Ah... Os meus pais morreram quando eu era mais novo e a May vem cuidando de mim desde então...

—Lamento, por isso... Sabe... Meu pai também morreu quando eu era mais nova...

—Lamento Callie...

—T-Tudo bem, isso já faz muito tempo... Acho melhor voltarmos ao trabalho...

—É...

Voltamos a pesquisar nos livros e na internet sobre energia limpa, praticamente todos os sites citavam o Sr.Smith como único nome nessa área.

—Ouvi dizer que você faz estágio na Smith é verdade Peter?

—É...

—Você gosta de lá?

—Gosto, é sempre... Instrutivo de certa forma...

—Sério? Ele parece só mais um playboy metido a herói... -Disse extremamente ríspida.

—Não gosta do Sr.Smith?

—Não é nada especificamente com ele... Mas com todos os supostos "heróis" - Disse fazendo aspas no ar ainda com um lápis em mãos. - Quer dizer, você viu aqueles vídeos do justiceiro com em Berlim e aqueles no YouTube?

—Vi... O que tem o justiceiro? Você não gosta dele também?

—Não é isso... É que ele é um bom exemplo de como os heróis são, eles tentam ajudar nas grandes catástrofes, mas ele não pode salvar todo mundo, e acredite todos os dias acontecem coisas horríveis que ele ou nenhum desses heróis fez algo para ajudar... Não o culpo, mas também não o idolatro.

—Coisas horríveis como o hematoma no seu rosto? -Não consegui evitar, as palavras simplesmente escaparam da minha boca.

—Talvez...

Tem alguma coisa errada acontecendo, mas não quis mais tocar no assunto do machucado do rosto dela já que ela sempre dava um jeito de mudar de assunto. Passamos a tarde toda estudando até que finalmente terminamos o trabalho de quase dez páginas.

—Então você gosta de coisas antigas? -Disse apontando para alguns aparelhos eletrônicos que estavam em cima da minha estante com a caneta.

—Um pouco... Acho interessante...

—Vintage. -Ela deu uma leve risada e se levantou indo em direção a estante e pegando um velho Walkman que estava ali.

—Todos temos um hobby... -Me levantei e fui até ela. -Qual o seu?

—Desenhar eu acho...

—Adoraria ver algum desenho seu um dia...

—Quem sabe...

A cada minuto que eu passava com ela me recusava mais a acreditar nos boatos que diziam a seu respeito, mas mesmo que fossem verdade sei que não era da minha conta ou de qualquer pessoa que já havia se intrometido nisso, mas Callie se mostrou tão aberta de certa forma e aquela dúvida começava a me consumir...

—Callie, posso te fazer uma pergunta?

—Tecnicamente você já fez, mas sim pode. - Respondeu cm um riso nasal apertando alguns botões do Walkman.

—Os boatos que dizem sobre você... Eles são verdade?

Callie parou no mesmo minuto como se tivesse congelado no tempo, ela guardou o Walkman no lugar onde estava antes e levantou o rosto me olhando nos olhos.

—O que você acha?

—Que não...

—Não são verdade... O que aconteceu foi que eu fui ao jogo e depois o Tommy Fisher pediu pra conversar comigo, fomos até o vestiário e ele queria que eu fizesse um o**l nele, mas eu não quis, ele tentou forçar então eu chutei ele e sai correndo... ano outro dia ele disse pra todo mundo que eu havia feito isso e começou a se espalhar tão tão rápido que logo eu não tinha só chupado ele, ele também havia me comido atrás das arquibancadas, ou eu tinha feito um menage ou o melhor até agora: Se alguém me desse cinco pratas eu batia uma pra pessoa... - Eu prestava atenção a cada palavra que ela dizia enquanto caminhava de um lado para o outro gesticulando como um desabafo. - Acabei deixando de me importar com o que diziam, até porque não adianta o quanto eu negasse, eu sempre seria a v***a da escola... Sabe o engraçado de tudo isso? - Perguntou olhando pra mim. - Eu nunca nem beijei um garoto...

Eu estava completamente petrificado, não sabia o que dizer, não sabia que ela estava ciente de todos esses boatos, alguns até que eu não fazia ideia... E saber que ela nunca havia beijado um garoto também foi a cereja do bolo.

—Crianças comprei comida japonesa pro jantar. -Disse May entrando de supetão no quarto.

—Jantar? Que horas são? - Perguntou Callie parecendo um tanto assustada.

—20:30 querida.

—Droga... Eu preciso ir pra casa. -Callie rapidamente começou a guardar seus livros na bolsa. -Desculpa não ficar para o jantar May, é que eu realmente preciso ir pra casa agora.

—Tudo bem, querida, quer que eu te leve?

—Não, eu moro literalmente aqui do lado, no prédio ao lado sabe... Obrigado por tudo Sra.Davis...

—Pode me chamar apenas de May... Bom, foi um prazer te conhecer Callie, espero que venha aqui mais vezes. - May aproximou-se dando-lhe um forte abraço. -Vou arrumar a mesa do jantar.

May saiu enquanto Callie colocava desesperadamente suas coisas na bolsa.

—Calma Callie, não está tão tarde...

—Não Peter você não entende...

—O que eu não entendo? Você pode me explicar...

—Desculpa, não dá. - Disse colocando sua mochila nas costas.

—Ok... Eu te levo até a porta então...

Ela apenas assentiu, fomos até a porta em total silêncio, Callie estava um pouco mais pálida que o normal e parecia totalmente nervosa.

—Hoje foi legal Peter... Mesmo eu perdendo a noção da hora e tendo que sair assim... E você é um ouvinte melhor do que eu pensei.

—F-Foi sim... - Disse sorrindo timidamente.

—Tchau... -Ela colocou a mão sobre meu ombro e deu um casto beijo no meu rosto.

—Tchau... -Sussurrei vendo-a partir pelo corredor.