Loja De Ferragens

1808 Words
 Callie No dia seguinte acordei tão grog que mesmo depois de passar duas horas acordada olhando para o teto ainda sentia que 80% do meu corpo dormia ou ao menos se recusava a levantar ou dar algum sinal de vida. Olhei para o lado segundos antes do número do meu despertador virar começando a tilintar avisando que estava na hora de levantar-se e viver. Estiquei a mão apertando o botão para desligá-lo me sentando em seguida, passei a mão no rosto algumas vezes na tentativa de me manter acordada ou que eu ao menos conseguisse levantar e andar até o banheiro. Com metade do cabelo cobrindo o rosto e um estômago enfurecido por não ter jantado na noite passada, apoiei as mãos sobre o colchão apenas para dar um impulso e me levantar. Uma forte tontura me atingiu fazendo com que eu me apoiasse na parede e andasse cambaleando até o banheiro. — Isso que dá tomar dois comprimidos de uma vez Callie. — Sussurrei abrindo a torneira da pia. Juntei as minhas mãos formando uma concha para pegar um punhado d'água me abaixando e jogando contra o meu rosto várias vezes. Sentir aquela água gelada batendo contra a minha pele me causava pequenos calafrios que iam me acordando aos poucos. Agora olhando meu reflexo no espelho podia ver perfeitamente um belo de um hematoma no meu rosto já que não havia mais resquícios de maquiagem. — Você consegue Callie... Um dia de cada vez... — Sussurrei pegando meu velho amigo ** compacto de dentro da gaveta começando a passar em meu rosto. Hoje eu tinha a chance de mudar ao menos um pouco as coisas, só uma chance de talvez tornar as coisas menos duras, talvez até mesmo acelerar o projeto: "Cair fora daqui com vida".  Fiquei sabendo que a loja de ferragens a alguns quarteirões daqui estava contratando jovens na minha faixa etária então eu passaria lá depois da aula e precisava parecer o mais normal possível. Antes de sair do banheiro penteei os meus cabelos desfazendo todos os pequenos nós com uma certa dificuldade o prendendo em um r**o de cavalo. Fui até o meu quarto e comecei a vasculhar as gavetas da cômoda a procura de uma roupa limpa e descente, optei por uma calça preta e uma blusa de listras vermelhas e brancas. Calcei meus tênis, peguei meus óculos sobre a mesa de cabeceira e minha bolsa que estava no chão próximo a cama.   Quebra De Tempo   Acabei saindo um pouco mais atrasada que o normal então optei por não tomar café.  Chegando à escola tirei meu celular do bolso apenas para olhar a hora em sua tela bloqueada, graças ao ônibus que andou um pouco mais rápido hoje acabei chegando 5 minutos antes do início das aulas, tempo o suficiente para engolir ao menos uma maçã, ou quem sabe um bolinho se eu tiver sorte.  Segui direto para o refeitório com minha mochila caída sobre um ombro, havia uma pequena fila na cantina, apenas três pessoas estavam a minha frente. — A Calliope está atrás de você... — Ouvi as duas pessoas a minha frente sussurrarem.  Só então percebi que as pessoas a minha frente se tratava do Peter e seu amigo gordinho, acho que seu nome é Ted ou algo do tipo, devia reconhecer esse suéter azul em qualquer lugar... Qual era o problema de eu estar atrás dele? As vezes esses dois conseguem ser totalmente estranhos... — Você deu sorte mocinho, é o último bolinho. — Disse a senhorinha da cantina entregando o bolinho ao Peter.  Droga... Vou ter de aguentar até o intervalo... Sai da fila indo em direção a saída do refeitório, já que ficaria sem bolinho mesmo ao menos pegaria meu caderno de esboços no meu armário. — Ei! Ei! — Ouvi alguém me chamando não muito perto de mim, quando me virei consegui ver Peter vindo em minha direção com seu bolinho em mãos. —  O-Oi... — Gaguejou ao parar na minha frente. — Oi. —  Respondi o olhando com uma sobrancelha arqueada, é estranho, ele nunca veio falar comigo antes. — Você estava atrás de mim na fila... Toma. — Disse esticando timidamente o bolinho para mim. — Que? Não! É seu. — Tenho de confessar que eu estava totalmente surpresa com a sua atitude. — Pode pegar... Eu sou alérgico a chocolate, não vi que era disso quando peguei. — Ele estava claramente mentindo. — Ninguém é alérgico a chocolate. — Bom, eu sou... Pega. — Disse esticando novamente a embalagem metálica do bolinho na minha direção. — Valeu... — Um tanto sem graça peguei. — E lamento pela sua alergia. — Tudo bem eu já estou acostumado... — Disse sorrindo com um leve rubor invadindo suas bochechas. — Bom, eu meio que preciso correr para aula agora... Novamente, obrigado Peter. — Você sabe meu nome... — Ele parecia mais surpreso do que eu quando ele veio atrás de mim com um bolinho. — Sei, acho que estudamos juntos a uns dois anos... Não espero que você se lembre disso..., mas eu realmente, realmente, realmente preciso ir agora. Nos vemos por aí Peter. — Disse já dando alguns passos de costas. — Tchau... Ok, talvez ele seja a salvação do seu gênero e não um completo i****a como eu achei que fosse... Abri a embalagem sem parar de andar até a sala onde eu teria aula de espanhol, mas quando vi o bolinho tive uma surpresa, ele não era marrom como um bolinho de chocolate deveria ser, pelo contrário, era levemente amarelado. Virei a embalagem até ler "Sabor baunilha", não pude conter um riso nasal ao perceber que o Peter não tinha nem se preocupado em ver o sabor do bolinho antes de me dá-lo. Involuntariamente um sútil sorriso brotou em meu rosto enquanto eu atravessava a porta da sala de aula levando o bolinho até a boca. Não tive aulas com o Peter hoje e ele estranhamente não estava no refeitório na hora do intervalo então não tive a chance de falar algo sobre a sua suposta alergia. Assim que o sinal tocou anunciando o fim das aulas fui direto para o banheiro feminino, em frente ao espelho abri um dos bolsos da minha mochila tirando um discreto gloss que eu havia ganhado de aniversário da minha tia Alice... Às vezes me pergunto o porquê de ela ter parado de escrever... Eu o adorava, era discreto, dava apenas um suave tom rosado aos meus lábios, além de ter um maravilhoso aroma e gosto de chiclete, eu geralmente evitava usá-los já que o Charlie não reagia muito bem ao me ver usando qualquer tipo de maquiagem que ele julgava inapropriado, tenho uma cicatriz próximo ao peito até hoje para me lembrar disso..., mas eu tiraria antes de voltar para casa e acredito que é o ideal para a situação. Sai da escola com meus fones de ouvido e fui direto ao ponto de ônibus, eu não conseguia esconder meu nervosismo nem de mim mesma durante todo o caminho, o que com certeza também se tornava perceptivo a qualquer pessoa que estivesse ao meu redor ou que simplesmente batesse os olhos em mim uma única vez. Desci do ônibus uma quadra antes de chegar à loja de ferragens, precisava me preparar o meu psicológico para não ter um treco na frente do gerente, nada melhor que uma curta caminhada para acalmar os meus nervos que se encontravam a flor da pele. Quando passei pela porta ouvi o característico tilintar de um sino que estava logo acima anunciando toda vez que um cliente entrava, caminhei pelos corredores a procura de algum funcionário até me deparar com um homem que não aparentava ter mais de quarenta anos de costas para mim colocando alguns produtos na prateleira. — Com licença... — Disse tocando levemente o seu ombro. — Posso ajudá-la mocinha? — Perguntou vira-se para mim com um sorriso gentil no rosto. — Eu vi a placa na porta sobre o emprego... — Ah sim, quer se candidatar a vaga? — Sim senhor. — Respondi sendo a mais amistosa que eu poderia. Ele começou a me fazer algumas perguntas ali mesmo no corredor, as típicas perguntas de uma entrevista comum, como, por exemplo, se eu já havia trabalhado antes e em que ano eu estava na escola. Aquela seção de perguntas não durou muito tempo e com certeza foi menos intimidadora do que eu pensei que seria. — Bom, ontem mesmo eu contratei um jovem da sua idade... — Assim que o ouvi dizer isso senti todas as chances que eu tinha de conseguir o emprego escapulir por entre meus dedos. — Mas acho que ele precisará de ajuda para cuidar da loja, está contratada Calliope. — Obrigado! Muito obrigado mesmo! o senhor não vai se arrepender disso. — Eu possuía um sorriso tão grande e tão largo em meu rosto que não faço ideia de como não rasguei minhas bochechas. — Por favor, sem senhor, me chame apenas de Carl... Você começa na segunda-feira junto com o outro jovem tudo bem? — Claro, com certeza. Obrigado de novo senh... Carl, até segunda. — Até segunda. — Disse acenando para mim enquanto eu caminhava em direção a porta da pequena loja de ferragens. Eu realmente não me lembrava a última vez que eu havia recebido uma notícia tão boa quanto essa, na verdade eu não me lembrava de um dia tão bom quanto esse nos últimos anos. Fui para casa até saltitando. Chegando em casa subi as escadas até o meu andar tendo uma certa dificuldade para abrir a porta devido a um problema que fazia a fechadura sempre emperrar. Depois de um empurrão consegui abrir a porta e para meu grande alívio não havia ninguém em casa ainda. Passei pela cozinha pegando uma maçã e seguindo para o meu quarto. Cantarolando fechei a porta do meu quarto largando a mochila no chão, tirei meus tênis colocando a ponta do pé no calcanhar, prendi a maçã com os dentes tirando a minha camiseta ficando apenas de sutiã branco simples e minha calça jeans. Estava tão distraída que m*l percebi que caminhava até o campo de visão da minha janela, quando levantei a cabeça pude ver alguém me olhando pela janela do prédio ao lado, rapidamente usei a camiseta que ainda estava em mãos para cobrir meu corpo.   — Mas que merda... — Sussurrei me afastando da janela. Não consegui ver direito o rosto de quem estava me olhando, caminhei até a parede usando as cortinas para cobrir meu corpo olhando lentamente para fora em direção ao stalker da janela, mas ele não estava mais lá. — Era só o que me faltava agora... — Reclamei fechando as cortinas. — As pessoas esqueceram o que significa privacidade! Nota mental: Além de trancar a porta, começar a fechar as cortinas.
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