Na pensão de Rosa, depois de Inês tomar um bom banho para tirar toda a lama, ela desce para o jantar.
— Ah! Agora sim!... Posso ver melhor o seu rosto! — disse Rosa sorrindo.
— Pois é! Tirei lama de lugares que eu nem sabia que tinha! — brincou Inês.
— E então, Doutora? Gostou das suas acomodações?
— Estão perfeitas, Rosa! — responde Inês. — ... Poderia me fazer um favor?
— Claro! O que deseja?
— Me chame de Inês.
— Se prefere assim... Inês.
— Agora está ótimo!... Mas onde estão os outros inquilinos? — ela pergunta.
— Daqui a pouco chegam. Estão todos no trabalho. Tem uma mocinha que trabalha na cooperativa, tem o rapaz que está estagiando no fórum da cidade e tem o Jacinto, aquele senhor que te ajudou com o trator.
— Ah, sim. Me lembre de agradecer muito a ele depois. Se não fosse por ele, talvez eu ainda estivesse naquela estrada. Acredita que eu pedi ajuda a uma caminhonete que passava e o motorista além de não me ajudar ainda me banhou toda de lama!
— Minha Nossa!... Tem muita gente m*l educada no mundo, meu Deus! — espantou-se Rosa. — Mas e você? Está pronta para o seu primeiro dia de trabalho amanhã?
— Acho que sim. Se bem que eu estou um pouco receosa, já que eu nunca trabalhei numa cidade pequena antes. — responde Inês.
— Você tem ótimas recomendações! A Macarena falou muito bem de você. ... Você tem experiência com cavalos?
— Já tratei de alguns. Por quê? — pergunta Inês.
— Porque tem um fazendeiro que vai precisar muito dos seus serviços. Victoriano Santos.
— E quem é esse?
— Ele "só" é um dos fazendeiros mais ricos de El Paso.
— Sério?... Nossa! — disse Inês.
***
Dia seguinte.
Fazenda Santos.
Victoriano se levantava cedo. Sua rotina era bem organizada. Já que suas filhas estavam em férias escolares, então todos se adequavam a rotina da fazenda.
— Consuelo, depois acorde as meninas. Não quero que fiquem dormindo até tarde.
— E pra onde o senhor vai assim tão cedo? — pergunta a criada.
— Vou saber quem é esse novo veterinário que chegou a cidade e se é bom o bastante pra cuidar dos meus cavalos! — disse Victoriano tomando apenas uma xícara de café e saindo.
***
Na pensão de Rosa.
Inês também se levantara cedo. Queria abrir logo o consultório e se familiarizar com o lugar.
— O café da manhã está pronto, Inês. — disse Rosa.
— Ah, Rosa!... Infelizmente, eu vou só tomar um gole de suco e pegar essa maçã. — disse Inês apressada.
— Mas você vai ter um dia e tanto hoje! Tem que se alimentar!
— Eu como alguma coisa por aí!... Tô indo! Tchau! — disse Inês saindo.
Pouco tempo depois, Inês já chegara na clínica. Abriu as portas, inspecionou o lugar de cima a baixo para ver as condições do local, ficou satisfeita.
— Eh... Até que pra uma cidade pequena... Tudo muito bom!
— Bom dia!
— Ai! Meu Deus! - disse Inês assustando-se. — Quem é a senhora?
— Sou Margarida. Sua atendente.
— Sou a Dra. Inês Huerta. Muito prazer. — disse Inês se recobrando do susto e cumprimentando.
— É um grande prazer conhecê-la! A minha prima disse que você estava chegando.
— Sua prima?
— Sim. A Rosa. Você está morando na pensão dela, não é?
— A Rosa é sua prima? - surpreendeu-se Inês.
— Sim. Somos quase irmãs.
"Rosa. Margarida. É, tem a ver!" pensava Inês enquanto se divertia com a espontaneidade de Margarida.
As coisas corriam bem na clínica. Inês estava se adaptando muito bem. Até em como alguns moradores pagavam as consultas ou algum atendimento aos seus bichinhos.
— A senhora não precisa se preocupar. Foi só uma luxação na pata, seu cãozinho vai ficar bom. — disse Inês afagando o cachorrinho.
— Ai, Doutora! Muito obrigada! - disse a mulher. — Agradece a Doutora, garoto!
— "Brigado"! — disse o menino.
— Vai lá buscá o agrado da Doutora, menino! — ordenou a mulher.
— Imagina, senhora! Não precisa. — disse Inês.
— Faço questão, Doutora! — disse a mulher.
De repente, o garoto entra na sala com um saco enorme, e de dentro dele ele tira uma galinha.
— Uma galinha?! - disse Inês.
— Sim. Mas não é qualquer galinha, não senhora! É a melhor galinha do nosso galinheiro! Bota ovo que só ela! — disse mulher toda orgulhosa.
Inês achou aquilo um pouco estranho, mas não iria fazer desfeita com aquela senhora.
— Muito obrigada. Vou cuidar bem dela. — disse Inês.
Passou-se algum tempo quando Victoriano chega à clínica. Além de muito impaciente, digamos que Victoriano se achava no "direito" de passar na frente dos outros.
— Bom dia. — ele cumprimenta a todos de forma séria.
— Bom... Bom dia, Sr. Santos. — disse Margarida com certo receio.
— Diga para o Doutor que Victoriano Santos está aqui e quer vê-lo.
— Sim, senhor.
Margarida avisa para Inês que responde a seguinte coisa:
— Diga ao senhor Victoriano Santos que assim que eu terminar de atender as outras pessoas, eu o chamo.
Margarida arregalou os olhos.
— Com todo o respeito, Doutora... Mas a senhora ficou doida?!
— Por quê?
— Não se deixa um homem como Victoriano Santos esperando! — disse Margarida.
— E por que ele não pode esperar? — pergunta Inês.
— Ora! Por que se trata do Sr. Victoriano Santos. Uma das pessoas mais influentes de toda essa região.
— Quando você fala de influência, está se referindo ao dinheiro dele?
— Quer influência maior Doutora?
— Olha, Margarida, eu não sei como as coisas eram aqui com o Dr. Contreras. Mas enquanto eu for a responsável por essa clínica, o fato desse senhor ter ou não dinheiro, não vai ditar como as coisas vão funcionar por aqui. — disse Inês de forma enérgica. — Agora pode sair e dizer ao Sr. Santos que se ele quiser falar comigo, que espere como todos os outros. E faça o próximo entrar, por favor.
Margarida sai fazendo o sinal da cruz, pois sabia muito bem o que iria acontecer.
Fora da sala.
— A Doutora disse para o senhor entrar. — disse ela se referindo a outro senhor que estava sentado.
— Ei! - chamou Victoriano. — Você disse que eu estou aqui?!
— Sim, senhor. E ela disse que o senhor esperasse, pois ela vai atender as pessoas que chegaram primeiro. — disse Margarida com a voz trêmula.
— Espera um pouco!... Você disse "ela"?! É uma mulher que está atendo lá dentro?! - perguntou Victoriano.
— Sim, senhor. A Dra. Huerta.
— Pois saiba que ninguém diz a Victoriano Santos o que fazer! Principalmente uma mulher!
Tomado por uma indignação sem motivo, que se diga logo, Victoriano invade a sala de Inês.
— Quem você pensa que é pra deixar Victoriano Santos esperando?! — disse ele.
— Eu é que pergunto!... Quem o senhor pensa que é pra entrar na minha sala desse jeito?! Por acaso esqueceu sua educação em casa, ou nunca lhe deram?! — rebate Inês.
Os dois tinham fogo nos olhos. De cara Inês percebeu que Victoriano era um homem rude. E a primeira impressão de Victoriano sobre Inês, era que ela não era uma mulher como as outras.