Victoriano não estava acostumado a ser tratado da forma como Inês o tratou. Sempre foi habituado que os outros fizessem sua vontade, e conhecer alguém que não o fazia, era uma situação nova para ele.
Mas Victoriano não estava disposto a baixar a cabeça para nenhuma "Doutorazinha petulante." como ele a chamava.
Ele pega o telefone.
- Alô?... Quero falar com o Dr. Augusto. ... Aqui quem fala é Victoriano Santos. ... Pois mande ele parar o que estiver fazendo e vir até a minha fazenda! É urgente, mocinha! - ele diz.
***
Na pensão de Rosa.
A mesma vai até o quarto de Inês, para levar-lhe um lanchinho.
- Posso entrar, Inês?
- Claro que pode, Rosa! - disse Inês.
- Te trouxe esse lanchinho. Já que a senhorita se alimentou pouco hoje. - disse ela colocando a bandeja na cama. - O que tanto você escreve aí?
- Estou organizando a ficha de alguns pacientes. - disse Inês.
- É engraçado você dizer pacientes! - disse Rosa sorrindo.
- Mas é o que eles são, Rosa. - explicou Inês. - Mesmo sendo animais, como eu sou veterinária, eles são os meus pacientes.
- Eu entendo. Você parece ser muito apaixonada por seu trabalho. - disse Rosa.
- Ah, isso eu sou mesmo! Adoro animais.
- Deu pra notar pela sua reação com a galinha! - disse Rosa dando uma risada.
Inês também acabou rindo.
- É verdade. Às vezes, essa paixão passa do limite! - disse Inês rindo.
- Minha prima Margarida me contou como foi o seu primeiro encontro com o Victoriano Santos.
- Aquele fazendeirozinho arrogante?!... Pois é, acredita que ele queria passar na frente dos outros?!... Ah, mas eu não deixei barato de jeito nenhum! - disse Inês.
- Só tome cuidado, Inês. Mexer com ele é como mexer num vespeiro. - advertiu Rosa.
- Ele que não mexa comigo, Rosa. Só porque muitas pessoas aqui abaixam a cabeça pra ele pelo fato de ele ser rico, não significa que eu vá fazer a mesma coisa!
- Não o julgue m*l, Inês. Apesar do temperamento difícil, o Sr. Santos é uma boa pessoa. Ajuda muitas pessoas em El Paso. - disse Inês.
- Ele é muito é do grosseiro, isso sim! - exclamou Inês. - E machista!
***
De volta à Fazenda Santos.
Victoriano ainda estava no seu escritório quando seu primo e amigo, Dr. Augusto Rodrigues chega.
- Com licença, senhor. - disse a criada.
- O que foi, Consuelo?
- O Dr. Rodrigues já chegou.
- Peça a ele que venha até aqui. - ordenou Victoriano.
- Sim, senhor. - disse Consuelo.
Em seguida, Augusto adentra o escritório.
- Eu não sei por que eu ainda atendo os seus pedidos, Victoriano. Eu estava no meio de uma consulta, sabia? - disse Augusto.
- Porque, além de meu primo, você é meu amigo, Augusto! Como vai? - disse Victoriano.
Os dois se cumprimentam.
- Mas a atendente me disse que o assunto era urgente. O que foi? - perguntou Augusto.
- Preciso que seja responsável pelos meus cavalos. - disse Victoriano sem fazer rodeios.
- Responsável pelos seus cavalos? Mas e o Dr. Contreras? Ele cuida dos cavalos aqui há anos.
- Ele precisou se ausentar. Tirou uma licença. - disse Victoriano. - E a doutora que ficou no ligar dele, eu... Bem... Eu não fui com a cara dela!
- Não foi com a cara dela?... O que você fez? - perguntou Augusto.
- Por que eu teria que ter feito alguma coisa?!
- Porque conheço você. Vamos lá, desembucha! - disse Augusto.
Victoriano então, resolveu contar ao primo como se desenrolaram os fatos.
- Não me leve a m*l, mas ela teve razão. - disse Augusto.
- Está do lado dela, Augusto?! - indignou-se Victoriano.
- Só estou tentando ser justo. Você com esse seu jeito turrão encontrou alguém tão turrão quanto você! No caso, turrona. - disse Augusto sorrindo.
- Não sei que graça pode ter nisso! - disse Victoriano aborrecido. - E então? Vai aceitar cuidar dos meua cavalos?
- Primo, você sabe que eu gostaria de ajudar, mas estou com uma viagem marcada para um congresso, em Londres. E eu não posso faltar. - disse Augusto.
- Augusto, não me diga isso! O que vou fazer agora? A competição de Diana é na proxima semana, eu preciso de um veterinário pra acompanhar o desempenho desses cavalos, especialmente o Aquiles, que é o cavalo dela de competição.
- Simples, fale com a Dra. Huerta. - disse Augusto.
- O que?! Me humilhar pra aquela mulher?! Jamais! - disse Victoriano.
- Victoriano, deixe de orgulho, homem! Você precisa de um veterinário, e ela é a única disponível. Fale com ela. - aconselhou Augusto.
- Victoriano Santos não se rebaixa a ninguém! Principalmente a uma mulher!
Victoriano parecia bem convicto de que não precisaria de Inês. Mas sabe aquela expressão "Não devemos cuspir pra cima..." pois é, Victoriano cuspiu.
***
Já era noite, quando Benito entra na casa aflito, Victoriano jantava com suas filhas.
- Patrão! Patrão!
- Pra que esse escândalo todo, Benito?! - disse Victoriano.
- Senhor, a Jasmin. Ela está parindo! - disse Benito.
- Ouviu isso, Dianita? - disse Catarina empolgada. - Vamos ter mais um potro!
- Sim, Catarina. - disse Diana.
- Outro cavalinho! Que legal! - disse Ana.
- E qual a razão dessa aflição toda, Benito? Ela já não estava as vias de parir a qualquer momento? - disse Victoriano.
- Acho melhor o senhor vim dar uma olhada, patrão. - disse Benito.
Victoriano o acompanhou até a baia. Chegando lá, percebeu que a pobre égua fazia força, o potrinho parecia também querer sair, mas ambos não conseguiam.
- Mas o que é que está acontecendo com essa égua, Benito?! - perguntou Victoriano.
- Eu não sei, patrão. Não seria melhor chamar a veterinária na cidade?
- A Dra. Huerta?! Negativo!... Vamos tentar alguma coisa!... Vem, me ajude.
Victoriano não queria recorrer a Inês, não depois da briga que tiveram.
Já havia passado algum tempo, suas filhas estavam do lado de fora das baias.
- A Jasmin não vai morrer, vai Dianita? - pergunta Catarina assustada.
- Eu não quero que ela morra, Diana! - disse Ana com lágrimas nos olhos.
- Calma, meninas. O papai tá lá com ela, ele vai pensar em alguma coisa. Vai ficar tudo bem. - disse Diana tentando acalmar as irmãs.
Porém, todos os esforços de Victoriano e seu empregado foram em vão. Eles não conseguiram fazer nada e a situação se complicava cada vez mais, foi então que Victoriano não viu outra alternativa.
- Benito, pegue as chaves da caminhonete e vá a cidade depressa! Traga a Dra. Huerta!
- Sim, patrão.
Mais do que depressa, Benito foi cumprir as ordens de Victoriano. E logo chegou a cidade.
A campainha da pensão de Rosa tocava insistentemente.
- Calma, já vai! - disse ela. - Quem pode ser a essa hora, meu Deus?! - ela abre - Benito?!
- Boa noite, Rosa. - ele entra apressado.
- Mas o que foi, homem de Deus?! Parece nervoso!
- É que aconteceu uma emergência na fazenda com uma das éguas do senhor Victoriano. Eu preciso que a Doutora venha comigo pra fazenda! - disse Benito.
Rosa vai até o quarto de Inês, que já dormia.
- Inês?... Sou eu, Rosa. Abra, por favor.
Inês ainda sonolenta, abre a porta.
- O que foi, Rosa? Algum problema?
- Tem sim, filha. É lá na fazenda do Sr. Santos. Com uma das éguas dele. Ele mandou te chamar.
E agora?... O que Inês fará?... Vai ajudar Victoriano, mesmo que ele a tenha destratado?... Ou vai ignorar o pedido dele para dar-lhe uma lição?