Quando finalmente terminou seu trabalho na cozinha, a mãe de Larry secou as mãos trêmulas em um pano de prato já desgastado, sentindo o peso da noite sobre seus ombros. Caminhou lentamente até a sala, cada passo ecoando pela casa silenciosa como uma marcha fúnebre. Ao entrar no salão, encontrou Larry sentado no sofá, a luz suave da lareira projetando um brilho morno que parecia ser devorado pela escuridão ao redor.
Ela se sentou ao lado dele, o sofá afundando ligeiramente sob seu peso, e por um momento, ficaram em silêncio, compartilhando a companhia um do outro em meio à penumbra. Os olhos dela, cheios de uma tristeza indescritível, encontraram os dele, e em uma voz suave, quase sussurrada, como se temesse perturbar a paz melancólica que os envolvia, perguntou:
- Essa menina que você passou a tarde é alguém especial? É alguma nora que eu ainda vou conhecer?
- Que nada. Mas se quer saber se ela tem alguma coisa de especial, ela é filha do mega empresário do ramo de estofados, Charles Novel. A senhora con...
O instante se estirou como um arco de tortura, pronto para romper-se sob o peso do desconhecido. Cada segundo parecia uma eternidade, um fio tênue esticado ao limite, prestes a se partir e liberar uma enxurrada de emoções reprimidas. Helen, envolta por uma energia sinistra, precipitou-se sobre Larry com uma ferocidade que cortava o ar, silenciando sua fala com um golpe que ressoou como o estampido de um trovão no vácuo da noite. O som ecoou pelo ambiente, reverberando nas paredes e no chão, como se o próprio espaço ao redor estivesse reagindo àquela explosão de violência.
A surpresa estampada no rosto de Larry era tão tangível quanto a dor que se insinuava em seus traços, onde as marcas das mãos maternas pareciam ser cicatrizes gravadas na própria alma. Seus olhos arregalados refletiam um misto de incredulidade e desespero, enquanto ele levava a mão ao rosto, sentindo o calor e o latejar onde o golpe havia caído. As memórias de uma infância protegida e de um amor materno inabalável agora pareciam ilusões distantes, esmagadas pelo peso daquele momento brutal.
Curiosamente, aquele gesto era inédito para Larry, jamais tendo sido afligido pela rudeza materna em sua face. Era como se aquela agressão fosse a súbita erupção de um mundo oculto até então, lançando-o em um abismo de perplexidade diante da brutalidade inesperada. As palavras que ele buscava desesperadamente na mente se perdiam em um turbilhão de pensamentos desconexos, enquanto tentava compreender o motivo por trás da ação de sua mãe. Era como se ele estivesse frente a frente com uma estranha, uma figura desconhecida que, até então, se escondia sob o véu da familiaridade.
Os olhos de Helen, fixos e penetrantes, irradiavam uma fúria primitiva, como se ela fosse uma b***a selvagem, uma leoa defendendo seu território. Havia uma intensidade neles que Larry nunca tinha visto antes, uma chama bruxuleante de emoções que se debatiam para escapar. Larry, aturdido, viu-se prisioneiro daquele olhar, incapaz de decifrar inteiramente os desígnios que se urdiam na mente dela. Era como se uma barreira invisível tivesse se erguido entre eles, uma barreira feita de dor, mágoa e uma raiva ancestral que Larry não conseguia compreender.
Uma aura de mistério pairava no ar, enquanto Larry tentava desvendar o que acabara de acontecer. Sua mente, ainda não corrompida pelas teorias estéreis da psicologia acadêmica, percebia que algo mais sinistro estava em jogo ali. Era como se aquele tabefe fosse apenas a superfície de um abismo de ressentimentos e segredos inconfessáveis, onde sombras ocultas dançavam ao som de um cântico soturno. Ele sentia que estava à beira de descobrir verdades sombrias, segredos que haviam sido enterrados nas profundezas da alma de sua mãe, esperando o momento certo para emergir.
O silêncio que se seguiu era pesado, opressor, como se o ar ao redor deles tivesse se tornado sólido, carregado de eletricidade estática. Larry podia ouvir seu próprio coração batendo descompassado, cada batida um lembrete de sua vulnerabilidade, de sua incapacidade de compreender o que havia transformado sua mãe em uma figura tão aterradora. Ele queria falar, queria romper aquele silêncio com perguntas, com gritos, mas as palavras morriam em sua garganta, sufocadas pela incerteza e pelo medo.
Helen, por sua vez, parecia um vulcão prestes a entrar em erupção, sua respiração pesada e irregular, os punhos ainda cerrados ao lado do corpo. A energia que emanava dela era quase palpável, um redemoinho de emoções conflituosas que ameaçavam consumir tudo ao seu redor. Ela olhou para Larry, seus olhos queimando com uma intensidade quase insuportável, e por um momento, ele viu algo mais profundo, uma tristeza avassaladora, um arrependimento que logo foi substituído pela mesma fúria indomável.
A cena parecia se desenrolar em câmera lenta, cada movimento, cada expressão sendo ampliada até o limite, revelando camadas de complexidade emocional que Larry nunca imaginara existir. Ele sentia que estava à beira de um precipício, prestes a cair em um abismo de revelações dolorosas, e sabia que nada seria o mesmo depois daquela noite. A relação entre ele e sua mãe havia sido irrevogavelmente alterada, e as cicatrizes daquele momento permaneceriam, gravadas na memória e na alma, como um lembrete perpétuo da fragilidade dos laços humanos.
A menção do nome do patriarca de Sandrine ecoava pelos corredores da mente de Helen como o clamor sombrio de um corvo noturno, despertando uma tempestade de emoções há muito represadas. Seus olhos, habituados à escuridão de segredos ocultos, lançaram faíscas de fúria contida, enquanto sua mão, erguida como uma garra afiada, desferiu um golpe c***l contra a face inocente de Larry. O rapaz, perdido na névoa da inocência infantil, m*l conseguia decifrar a sombria conexão entre as palavras proferidas e a violenta reação de sua progenitora. No entanto, no âmago de sua alma, ele percebia a presença sinistra de um segredo profano, um mistério sepultado sob camadas de silêncio sepulcral.
Entre os estalidos do tapa que ressoavam como o estalar de ossos quebrados, pairava um silêncio opressivo, denso como a névoa que envolve as sombrias mansões abandonadas. Era como se o próprio ar naquela sala estivesse impregnado com a essência do terror, testemunhando a ruptura irrevogável entre mãe e filho. Não era apenas o rosto de Larry que ardia com a marca da violência, mas também as relações familiares, corroídas por segredos sombrios e verdades ocultas. Marcas invisíveis, mais profundas que qualquer cicatriz física, foram gravadas na alma daquela família, condenando-os a um destino de escuridão e desespero. A mãe de Larry aponta o dedo pra ele e fala com uma rispidez profunda nas palavras:
- Nunca mais repita esse nome aqui dentro dessa casa!
Na sala envolta pela penumbra crepitante, apenas o sussurro distante da televisão se atrevia a interromper o silêncio que pairava como um espectro sombrio. A sala, com suas paredes cobertas por um papel de parede desbotado e móveis antigos que exalavam o cheiro de memórias há muito esquecidas, parecia congelada no tempo. As cortinas pesadas, de veludo marrom, apenas deixavam passar um fio de luz da rua, que lutava para se infiltrar na escuridão quase palpável.
Larry, imerso na estática realidade das imagens em movimento, permanecia enclausurado em seu próprio mundo. Seus olhos vidrados fixavam-se na tela da televisão, que exibia um velho filme em preto e branco, cujas cenas de drama e melancolia pareciam ecoar sua própria existência. As rugas de preocupação em sua testa revelavam uma alma cansada, perdida entre os fantasmas de um passado que teimava em não desaparecer. Ele se sentava no velho sofá de couro, cujo estofamento rasgado deixava escapar a espuma amarelada, como se fosse um reflexo de sua própria desintegração interna.
Enquanto isso, sua mãe, Helen, uma figura enigmática na semi-escuridão, parecia diluir-se na sombra projetada pelo brilho eletrônico. Ela se posicionava ao lado da janela, onde a fraca luz da rua esculpia seu perfil em um relevo de tristeza e resignação. Helen, uma mulher outrora vibrante, agora se movia com a lentidão de alguém que carregava o peso do mundo em seus ombros. Seus olhos, profundos e sombrios, observavam o mundo exterior com uma mistura de saudade e desdém. O vestido floral que ela usava, desbotado pelo tempo, balançava suavemente com seus movimentos quase imperceptíveis, como se estivesse vivo, tentando lembrar-lhe dos dias passados de felicidade.