Zoe Smith
Abro os meus olhos devagar e fecho-os novamente de forma desesperada pela luz que os invadiu de forma bruta. Pisquei mais algumas vezes e só assim me dei conta de que estava deitada sobre a grama. Virei-me e me deparei com alguém que não via há muito tempo.
— Lice? Lice, eu não acredito que é você! — digo, enquanto me levantava e corria até ela para abraçá-la.
— Zoe, estou sentindo tanto a sua falta — ela diz com lágrimas nos olhos.
— Eu sinto tanta saudade de você, Lice! — pronuncio num tom de voz fraco, já chorando. Tentei me aproximar, mas ela se afastou.
— Desculpa, Zoe, eu não posso...
— Não pode o quê? Lice, eu juro que tentei voltar para te buscar! Por favor, deixa eu te abraçar — digo, correndo até ela e vendo-a se afastar cada vez mais.
— Zoe, eu só quero te avisar! — ela exclama, olhando para mim com carinho.
— Avisar o quê? Eu não quero saber, Alice! — exclamei quando percebi que ela se afastava cada vez mais.
— Zoe, proteja o nosso tio! — ela diz, correndo para longe de mim.
— Tio? Está falando do papai? Ele também sente a sua falta. Volta aqui, irmã, me perdoa, LICE! — eu grito, chorando e soluçando.
— Eu não sou a sua irmã, Zoe! — ela grita para mim, com lágrimas nos olhos, e se afastou.
— Não fale assim, você não consegue me perdoar? Por isso está dizendo isso? — Eu tento correr até ela, mas as minhas pernas falham.
— Você vai entender! Ele chegou, Zoe, ele vai bagunçar a sua vida — ela diz, virando-se para mim.
— Quem? Do que você está falando? — eu pergunto, minha visão estava embaçada pelas lágrimas que persistem em cair sem dar trégua.
— Espero que me perdoe. — Ela diz, e então sai correndo pelo extenso gramado.
— LICE, VOLTA! — gritei, sentindo minhas forças se esgotando. Por que diabos eu não conseguia me levantar?
— Eu não estou aqui, Zoe! E você precisa entender isso. — Ouço ela gritar de volta, e então ela sumiu.
— VOLTA, VOLTA. — Gritei chorando como uma criança.
Num pulo rápido, eu acordei, meu coração batia como louco e eu estava completamente suada. Era um sonho? Por que isso estava acontecendo?
— Zoe? Estava sonhando com ela? — Meu pai pergunta, acariciando minhas costas.
— Pai? Alice não te reconheceu, pai, ela te chamou de tio. Será que ela se esqueceu de você? — eu digo, sentindo um nó na garganta.
— Não se preocupe, Zoe. A Alice dos seus sonhos não é real. Ela nunca se esqueceria de mim — papai diz, fazendo um cafuné em meus cabelos desgrenhados.
— Eu só a queria de volta, pai. — Eu digo, permitindo que uma lágrima solitária caísse sobre meu rosto.
— Ela não vai voltar, Zoe. Durma, pois amanhã tem aula.
Papai diz, me aconchegando entre os lençóis. Meu coração doía e a confusão rondava minha mente. Há tempos não sonhava com minha irmã, e agora ela voltou a aparecer em meus sonhos, porém com informações estranhas. Quando percebi, já havia se passado uma hora desde o meu sonho, e senti meus olhos pesados. Decidi, então, deixar o sono me levar.
Damian Williams
Sinto o suor escorrendo pelo meu pescoço, eu amava acordar logo cedo para treinar. Ouço passos se aproximando e então direciono o meu olhar para ver quem é.
— Você tem mesmo bastante força de vontade, acordar tão cedo para ficar dando chutes e socos em um saco — Derrick diz, vindo até mim com a voz sonolenta.
— Realmente, não tenho o costume de ser preguiçoso como você. — Digo, sarcástico. Derrick apenas me dispensou com a mão.
— Mano, aquela Stacy até que é legalzinha. — Derrick diz enquanto se encostava na parede.
— Você está procurando por problemas, Derrick.
— Ela nos recebeu tão bem.
— Qualquer um nos receberia bem, apesar de não termos os nossos sobrenomes a público, todos notam que temos ótimas condições financeiras. — Digo, voltando a socar o saco à minha frente.
— Sei lá, gostei dela, dos seus amigos, e você gostou daquela moreninha de cabelos cacheados. — Derrick afirma sorrindo.
— O que te faz pensar isso? — Pergunto arqueando uma das sobrancelhas.
— O jeito pelo qual você olhou para ela. Vai dizer que não gostou daquele jeitinho nervoso dela? — Ele pergunta, rindo com malícia.
— Talvez eu tenha gostado da forma como sua paciência é tão pequena quanto uma formiga, mas não sou como você que quer se enfiar em qualquer buraco que vê pela frente. — Digo debochado.
— Vá à m***a! — Derrick exclama, sorrindo e então sai da sala.
Após terminar de treinar, eu saio da sala e sigo para meu quarto. Entro no meu banheiro apenas para tomar um banho rápido, saio de lá, visto uma calça de jeans escuros e uma camisa preta de gola alta, dou uma checada em meu espelho apenas para bagunçar meus cabelos recém-molhados e então desço para tomar o café. Logan está sentado na ponta da mesa e Cecília ao seu lado fazendo um carinho em sua mão.
— Bom dia, filho! — Ela diz com os olhos brilhando.
— Bom dia, mãe — digo, tentando devolver o mesmo olhar.
— Damian, quero que venha até o meu escritório antes de ir para a faculdade, preciso que me faça alguns favores. — Logan diz enquanto se levantava da mesa.
— Quais? — pergunto.
— Esses assuntos devem ser tratados em sigilo, caso fosse necessário dizer para todos, eu não pediria para vir até o meu escritório. — Ele diz autoritário enquanto caminhava até o seu escritório.
Eu já sei muito bem do que se trata, Cecília sabe quem é Logan. Mas, por algum motivo, ele não tratava de seus negócios sujos na frente dela, sempre impedindo que ela soubesse de qualquer detalhe.
— Já fez m***a? — A voz de Derrick ressoa pela cozinha.
— Não sou eu quem está virando amiguinho de quem ele pede distanciamento, então, não. — Pronuncio enquanto sorrio de forma debochada para ele.
— Seu pirralho de m***a, quer que ele me mate? — Pergunta, vindo até mim em passos ligeiros.
— Talvez... — afirmei sorrindo.
— Às vezes eu não tenho a certeza de que vocês se amam como irmãos — Cecília diz, receosa.
— Eu não tenho culpa se Derrick só faz m***a. — Digo divertido.
— Por que você não vai à m***a, assim como aquela tal de Zoe disse ontem? — ele sorri.
— Coma rápido ou eu te deixo para trás — digo, enquanto me levanto.
Após sair do escritório do Logan, dirijo-me para a universidade, ouvindo Derrick repetir a todo momento que queria saber se eu estava dedurando-o. Estaciono o carro e saio em direção ao campus de arte, vou caminhando despreocupado até ouvir uma voz não tão desconhecida.
— Você me traumatizou e ainda quer que eu volte com você? Você só pode estar brincando comigo! — ouço a voz de Zoe que soa impaciente.
— Zoe, você não precisa esconder que ainda me ama, eu aceito voltar com você, princesa — O garoto de cabelos claros diz em um tom de voz meloso.
— Nem morta, eu nunca voltaria com alguém como você — Zoe, diz enojada. Vejo ao longe o garoto trancar a mandíbula e seu rosto se fechar.
— Você deve se achar muito importante, não é mesmo? Sorte a sua que alguém como eu tive coragem de passar tanto tempo beijando sua boca e várias outras partes do seu corpo imundo. — O garoto diz alto.
— Agora você tem nojo, não é mesmo? Quanta hipocrisia, Kelvin — ela diz, batendo o punho em seus braços.
— Uma negrinha medíocre como você deveria se sentir orgulhosa por ser comida por alguém — O garoto denominado como Kelvin diz, me pegando de surpresa. Algo que eu sempre abominei foi o racismo.
— Você é mesmo um grande i****a!
Zoe grita com lágrimas nos olhos. Vejo ela sair correndo e então eu me escondo atrás das lápides da parede. Logo a mesma passou correndo e seus olhos se encontravam marejados. Eu não esperava por isso, logo nos primeiros dias da faculdade, e eu já tinha alguém para sujar as minhas mãos, mas eu o pegaria de surpresa. Recomponho-me e sigo para a sala de pintura, procuro por Zoe e não encontro, suponho então que esteja com Stacy.
A manhã passa rápido e, como num estalo, eu já estava adentrando as portas do refeitório, olho ao redor e sigo até a mesa em que Derrick está, novamente com Stacy e seus amigos.
— Por que não esteve nas aulas, senhorita? — pergunto, me sentando ao lado de Zoe.
— Desde quando isso lhe convém? — Ela pergunta hostil. Sempre fui acostumado com todos me tratando bem, então por que caralhos essa garota não podia simplesmente ser como as outras?
— Que seja, realmente não me agregará a nada. — Digo ríspido.
— Por que você é sempre tão raivosa? — Derrick indagou.
— Desde quando vocês estão incluídos em nosso grupo? — Zoe pergunta bufando.
— Zoe? Por que está agindo assim? — Adrien pergunta, parecendo preocupado.
— Qual o problema de vocês hoje? Eu estou normal! — ela diz enquanto cruza os braços.
— Você definitivamente não sabe mentir, Zoe.
Stacy diz. Zoe pegou seus fones e então vejo que ela colocou uma música em seu telefone. Vez ou outra, eu percebo que ela lança olhares para mim e isso me intriga, seus olhos me intrigam. Ela sai andando pelos corredores levando consigo vários olhares, será que ela era popular? Por que ela não me olhava da mesma forma como as outras garotas? Sinto-me como uma criança boba quando não recebe atenção e então decido afastar pensamentos ridículos como estes de minha mente. Eu tenho qualquer uma aos meus pés e não iria me sentir afetado por uma garota que não me olha com malícia e sim que é raivosa.
20:30 PM.
Pilotando pelas ruas da Califórnia, eu não sei quanto tempo havia se passado desde que os malditos policiais me seguiam, aumento a velocidade e só então me dou conta de que estou longe o suficiente para nem sequer ver as luzes daquelas sirenes irritantes. Diminuo a velocidade e então acendo um cigarro. Eu amo essa sensação de adrenalina correndo pelas minhas veias, amo a paz que a m***a do cigarro me traz. Talvez eu seja um pouco viciado nessas merdas, mas eu não me importo. Fecho os meus olhos e então aqueles olhos aparecem novamente em minha mente... Zoe, eu estou assim porque ela não dá a devida atenção que eu mereço ou eu só sou uma cópia de Logan? Talvez a segunda opção esteja mais certa. Apago meu cigarro com minhas botas e volto a pilotar, agora em direção à minha casa.