Esperanças de Um Sonho

Despedida

Dizem que a dor da perda é insuportável nas primeiras horas, mas que, aos poucos, você vai se acostumando, Harry discordava disso. Ele recebeu a notícia cedo, não eram quatro da manhã nos Estados Unidos, ele havia acordado com o rosto banhado em lágrimas e uma incômoda sensação de perda, seu primeiro pensamento foi Hermione, mas, quando desceu e viu Sirius e Severus ali com semblantes tristes ele percebeu que não era a amiga, de alguma forma ele sabia que ela estava bem, e então veio a confirmação: Ron morreu doando sua magia para que Hermione acordasse, ele havia perdido seu melhor amigo em troca da melhor amiga, um jogo c***l do destino 

Ele queria ter estado lá, queria ter estado perto dos amigos quando aconteceu, não era justo que quando os dois mais precisassem ele estivesse longe sendo que sempre que ele precisou eles estavam ao seu lado, ele odiava ter que fugir, ele odiava não poder garantir a Ron ou a Hermione a segurança que estava tendo e, foi por esse motivo, que ele faz de tudo para convencer Severus a ir à Inglaterra ver o ruivo uma última vez

Vestindo vestes negras e com o cabelo preso em um r**o de cavalo Harry apareceu n'A Toca através de uma chave de portal exatamente às sete da manhã acompanhado de Severus e Sirius, George foi quem o recebeu, Arthur havia se trancado no quarto do filho no dia anterior e não saia por nada, Gui e Carlinhos foram os responsáveis por organizar o pequeno funeral.

Na sala Blaise estava sentado em um sofá olhando o nada, suas mãos pareciam segurar algo com força, mas ninguém sabia o que era, Fred estava ao seu lado também em completo silencio, Percy estava no escritório com um Goblin que apareceu ali junto com o sol e Fleour, que Harry descobriu ali ser a namorada de Gui na França, arrumava as coisas no jardim onde ocorreria a cerimônia. Hermione estava em um dos quartos ainda se recuperando enquanto amamentava a pequena Ayla em companhia de Ginny e Vítor, Draco estava na porta da cozinha, um cigarro trouxa na boca, enquanto falava com a mãe, os outros do círculo interno ainda não haviam chegado, todos muito abatidos e organizando-se com McGonagall para estarem ali na hora certa

Harry subiu para o quarto de Ron onde Arthur estava, entrou depois de bater e se sentou na cama ao lado do homem, não era o mesmo quarto em que ele costumava passar as férias já que a casa havia passado por reforma, mas, ao mesmo tempo, era exatamente o mesmo quarto bagunçado com os pôsteres de quadribol e as revistas acumuladas, roupas que ele deixou pelo chão enquanto organizava sua mala para o tempo no Castelo Peverell e as pesquisas em relação a guerra na mesa da escrivaninha, o cheiro de Ron também estava lá e Harry não conseguiu segurar as lágrimas, ele estava segurando desde que recebeu a notícia, mas ali, sozinho com Arthur Weasley, ele chorou a morte do amigo

O dia estava claro, sem nem uma nuvem no céu, o sol ainda era fraco e o jardim estava lindo, disseram a Harry que as flores eram obra de Ginny e ele gostou de saber que a garota havia achado algo útil para fazer no verão, as cadeiras foram distribuídas em fileiras de oito com um corredor no meio, nas primeiras estavam a família e o namorado, na segunda fileira estavam Harry, Sirius, Severus, Hermione, Vítor e Ayla, Fleur e McGonagall, logo atrás Remus, Tonks, Narcisa, Draco, Luna, Neville, Theo e Susana, na quarta vinham Greg, Simas, Dino, Pansy, Hagrid e o Goblin de Gringotes, na frente de todos estava uma pira que seria acendida em breve conforme as tradições Weasley

Às nove horas Arthur e Ginny entraram juntos, as vestes negras adornadas com flores que a garota colheu, atrás deles vinham Guilherme e Carlos em vestes negras igualmente adornadas com flores carregando o caixão onde Ron estava usando suas roupas favoritas e cercado por flores, atrás vinham Percy e Fred vestidos como os irmãos, George, como Lord e chefe da Casa, os esperava junto a pira, todos eles tinham olhos vermelhos e os rostos inchados, mas não choravam mais

O caixão foi posto sobre a pira e um feitiço feito por todos os sete Weasley acendeu as chamas que guiariam o espírito de Ron para o além túmulo, Ginny começou um bonito cântico sobre flores e esperanças e todos abaixaram sua cabeça pranteando silenciosamente o amigo que partira

Após um almoço simples os convidados foram embora e os Weasley, junto de Harry, Blaise e Hermione, se reuniram no escritório de George onde o Goblin estava para ler as vontades do caçula dos homens, foi um procedimento que todos do círculo fizeram quando perceberam que a guerra em breve recomeçaria, fazer seus testamentos para o caso de algo acontecer, assim não foi surpresa para nenhum deles serem chamados, na verdade fora para Blaise, ele não achou que seria contemplado visto que se tornaram namorados apenas a duas semanas, ao que parecia Ron havia pensado além

- Estamos aqui para ler os últimos desejos de Ronald Weasley - O Goblin começou pegando os papéis de sua maleta

Ron sentia-se ansioso enquanto era guiado para a sala do gerente de cofres da Casa Weasley, ele sabia muito bem o que iria pedir, mas o pensamento de morrer era inquietante, ele se sentia assinando sua sentença de morte, era a prova de que um dia ele iria morrer, uma coisa era você pensar nisso eventualmente, outra era planejar o que queria caso acontecesse, não era algo que adolescentes pensavam em circunstâncias normais, mas não eram circunstâncias normais, era uma guerra. Era a primeira vez que realmente entendia como Harry se sentia, sendo cobrado coisas do tipo o tempo todo, nunca podendo ser uma criança ou adolescente como os outros, sendo lembrado da morte dos que se foram e da sua que poderia vir, m***r ou morrer, esse era o destino de Harry e Ron finalmente o entendeu, a guerra era c***l com seu amigo

Cumprimentou Glynp e se sentou mordendo o lábio nervoso enquanto dizia o que queria ali, o Goblin apenas assentiu e saiu para pegar o necessário voltando exatos dez minutos depois e então o ruivo começou:

"Eu, Ronald Weasley, sétimo filho da Casa de Weasley, em minhas plenas faculdades mentais e por minha própria vontade faço dessas minhas últimas vontades. Começarei dos mais novos então, para Ginny deixo todos os meus equipamentos de quadribol e minhas revistas, além de um livro que está em meu cofre onde reuni contatos para quando se tornar a jogadora famosa que está destinada a ser. Para Harry eu deixo dois livros que estão em meu cofre e o pomo de ouro que compramos no nosso terceiro ano em uma loja de segunda linha. Para Fred deixo minha parte nas ações da Gemialidades Weasley e algumas invenções, agora você é o sócio majoritário! Para George deixo meus broches e minha varinha. Para Percy deixo todos os livros que acumulei ao longo dos anos, não que tivessem sido muito. Para Carlinhos deixo um livro sobre criaturas mágicas que venho estudando com Hagrid. Para Gui deixo minhas figurinhas de ações e minha coleção de artefatos mágicos. E para papai deixo tudo o que não foi listado aqui, espero estar ajudando de alguma forma

Blaise, meu amor, caso ainda não tenha tido coragem de te falar, eu deixo uma carta e todos os direitos que meu marido teria, acredito que nós dois daríamos uma ótima dupla, encontre alguém menos complicado que eu e seja feliz, eu te amo

Hermione, você é e sempre será alguém especial para mim, espero que tenha te falado isso claramente antes de morrer, mas se não eu falo aqui o quanto te admiro e amo, se eu for metade da pessoa que você é eu serei um homem bom e feliz, deixo um cofre em seu nome, vinha juntando dinheiro pra mestria e ele agora é seu, você vai poder fazer um melhor uso que eu

Harry, Hermione, espero que quando precisem ouvir essas palavras tenham ganho essa maldita guerra, mas se não for o caso então completem essa aventura sem mim, desculpe descumprir nossa promessa de sermos os três até o fim, eu tive que ir antes, mas ainda estarei aqui, em meu malão tem um amuleto, um colar de prata com um pingente porta-fotos com uma foto de nós três, ele se abrirá apenas em resposta a magia de vocês, acredito que tenha algo que pode os ajudar, eu andei pesquisando sobre o ritual e isso pode ser útil

Amo todos vocês, Ron"

Blaise estava impassível, ele não derramou uma lágrima desde que encontrou o ruivo em paz sentado na enfermaria, levantou-se sem falar uma palavra e saiu rumo ao jardim, sentou-se pouco antes das barreiras anti-aparatação terminarem e olhou o céu azul, como os olhos de seu namorado. Os direitos de um marido...Ron havia pensado em um futuro para eles, o ruivo o queria tanto quanto ele, por que as coisas tiveram que ser daquele modo? Por que não conseguiram achar outra maneira de ajudar Hermione?

Ali, sozinho, depois de ouvir os desejos de seu ruivinho, sentado entre flores e mato, Blaise Zabani chorou, chorou como não fazia desde os sete anos quando seu coelho morreu, chorou como nunca, era uma dor insuportável a que estava sentindo, a de perder o amor de sua vida depois de tanto procurar, a de perder alguém importante, a de se sentir perdido, sem uma bússola em meio a tempestade que viviam, ele não queria estar ali sem Ron, ele não queria chorar, ele queria sorrir e beijar seu namorado, queria planejar jantares e encontros, queria passar horas rindo e jogando conversa fora, ele queria Ron de volta e apenas isso, por que tudo teve que ser assim?

Ele nunca culparia Hermione ou Ayla, não era culpa delas Ron escolher ajudar, mas ele ainda sim se sentia ressentido, por que as coisas foram por esse caminho?!

Draco se sentou ao lado do amigo e ofereceu um copo de uma bebida dourada que Blaise bebeu e sentiu descer queimando, os dois continuaram em silencio apenas contemplando o vazio até Blaise suspirar de forma audível

- O que pensa em fazer? - Draco perguntou pegando o copo de vidro antes que o amigo quebrasse de tão apertado que segurava

- Vencer essa maldita guerra e garantir que ninguém mais morra - Blaise levantou e ajudou Draco a fazer o mesmo voltando para a casa, era hora de colocarem aquele maldito plano em ação e acabarem de uma vez por todas com Tom Marvolo Riddle, era hora de garantir que todos ali pudessem ter uma boa vida e fossem felizes, por Ron, por seus pais, por seus amigos e por todos aqueles que deram a vida para ajudar