Agora estou divorciada

1704 Words
Apenas consigo conter o nó que cresce na minha garganta, minhas mãos estão tremendo, e só consigo sentir como meu coração desmorona. Tenho entre meus dedos o resultado dos meus exames de laboratório que pedi ao hospital, pensava em falar sobre isso com meu marido, mas em vez disso decido dobrar e guardar na minha bolsa, enquanto meus olhos contemplam como ele acaricia e beija a barriga da sua ex. A porta entreaberta me permite presenciar tudo sem ser descoberta. Acabei de receber uma notícia que praticamente condena a minha vida e agora recebo isso na minha própria casa. —Eu te amando... E você se enrolando com ela... —digo para meus próprios ouvidos, enquanto n**o com a cabeça e limpo com total indignação minhas bochechas. —Estou com medo, Belial —foram as palavras dela, pousando as mãos no peito—. Você é casado, mas serei eu quem terá seu filho, por favor, não me deixe. Ele a abraça e beija delicadamente sua testa, fica claro quem é a prioridade na vida dele. —Eu juro pela minha vida que vou proteger esse bebê e você. Tenho pronto o papel do divórcio, se necessário, a obrigarei a assinar e casarei com você. —Você faria isso por mim? —O que for necessário para te ver feliz, Ratja. Cubro os lábios para não soltar um soluço, enquanto fecho meus olhos com força e as lágrimas voltam a me trair, mas isso já foi demais. Não vou ficar aqui chorando feito uma Madalena. Decidida, empurro a porta e vejo como eles se separam abruptamente. —Ana, querida... —diz ela, tentando se aproximar. —Cala a boca, não quero te ouvir! —digo, levantando o dedo. —Cuide das suas palavras, Ana —me diz Belial, colocando—se na frente de Ratja—. Você não vai levantar a voz para ela. —Então é verdade... Você! Maldito! —exclamo com dor, dando—lhe um tapa que ressoa pela nossa casa, mas nem isso o intimida e ele continua sério. —Ela está grávida, ela vai me dar algo que você não conseguiu em três anos de casamento, acho que nós dois sabemos quem está sobrando. —Eu não queria que isso acontecesse, Ana. Eu até tenho apreço por você —diz com total descaramento a outra. A vontade de jogar minha bolsa na cara dela me fez apertar os punhos com raiva. Não havia dúvida de que eles eram feitos um para o outro. Hipócritas, falsos e traidores. —Quero você fora da minha vida, Ana. Os papéis do divórcio estão nessa mesa —aponta—. Assine—os e faça o favor de sumir daqui. —Belial, acho melhor deixá—los sozinhos. Sua avó me pediu para ir visitá—la, ela quer comprar coisas para o bebê. —Avó? —digo incrédula—. Então os outros sabiam...   Mordo meus lábios para não soluçar. —Sim, é melhor você ir. Pedirei ao funcionário que arrume seu quarto. Eu já não sabia o que era pior, o diagnóstico no papel que guardo na minha bolsa ou isso. Ratja foi embora, e eu só senti que ficava tonta, que a respiração me faltava. —Quanto tempo? —consegui dizer respirando pela boca—. Quanto tempo me enganou, Belial? Muito tranquilo, ele colocou as mãos nos bolsos e me deu as costas. —O que você quer ouvir? Minha resposta não vai mudar as coisas. —Você disse que me amava! —exclamo com total indignação—. Até fomos de férias para a cabana que seu avô nos deu! Tudo isso foi mentira? De repente, ele ficou em silêncio, respirou fundo e apoiou a mão na moldura da janela. Ele também se lembrava. Aqueles dias tinham sido os mais bonitos. Apenas um mês atrás ele dizia que me amava, enquanto fazia amor comigo todas as noites no meio da natureza. Ele tinha se tornado incrivelmente mais romântico e atencioso. Me olhava nos olhos e sorria com aquele olhar tão azul como o céu, era como um sonho, e aparentemente foi apenas isso. Um sonho passageiro. —Confiei em você... Então, ele me olhou novamente e soltou uma risada irônica. —Você realmente acreditou em todas essas palavras? —disse sem remorso algum, dando passos para se aproximar de mim, enquanto meu corpo não me obedecia e ficava paralisado—. Achou que eu poderia amar uma anormal como você? Olhe para você, tem um olho verde e o outro azul, não é normal —cada palavra doía, como se estivessem me matando lentamente—. Te dei tanto prazer a ponto de implorar pelo meu amor? EU NUNCA VOU TE AMAR, ANA! E com essas palavras ele quebrou completamente o meu coração. No fundo talvez fosse necessário para que eu abrisse os olhos e entendesse que nunca deveria tê—lo amado mais do que a mim mesma. Que enganada eu vivi nesses três anos. Me enchi de ilusão quando me casei com ele. O amei em silêncio desde os meus treze anos, então ser sua esposa foi como um sonho se tornando realidade, mas... que estúpida fui... Fazendo com que meu corpo reagisse finalmente, eu disse a mim mesma que não perderia a compostura diante de alguém como ele. Um ser humano desprezível e que apenas zombou de mim. —Muito bem —digo, levantando minha mão na frente dos seus olhos, para tirar a aliança do nosso casamento—. Aqui está o símbolo da sua mentira —afirmo, jogando a aliança no peito dele—. Nunca deveria ter me enganado, mas acabou. Aqui terminou o amor que senti por você. Sem dar—lhe oportunidade de responder, afastei—me e fui direto à mesa da sala, peguei os papéis do divórcio, tirei uma caneta da minha bolsa e os assinei sem hesitar. —Aqui está, nada mais nos mantém unidos. A partir de hoje, é um desconhecido para mim, e se me vê, finge que não me conhece, porque é isso que farei.— Belial não disse nada, seu olhar estava desconcertado. Provavelmente pensou que eu faria um escândalo e que me recusaria a assinar os papéis, mas não. Percebi que não valia a pena permanecer em um lugar onde não sou amada. Me ergui completamente e, limpando a última lágrima que escorreu pela minha face, dirigi—me à saída. —Se quiser, pode queimar as minhas coisas. Não pretendo voltar por algo que tem a sua lembrança. Vou te apagar da minha mente e fingir que nunca existiu.— Saí da casa Bercelli e, sem olhar para trás, caminhei sem rumo aparente até chegar a um ponto de ônibus, onde peguei um táxi. Não tinha para onde ir, então me hospedaria em um hotel, enquanto analisava o que fazer com a minha vida. Sem casa, sem vida, sem nada aparente que me tirasse dessa profunda depressão. Não permiti que Belial me visse chorando, mas assim que me tranquei naquele quarto frio de um hotel barato, escorreguei com as costas encostadas na porta, lembrando o momento em que o meu médico me deu a notícia. *Flashback* —Sinto muito, Ana, mas é perigoso continuar com uma doença—. Acabara de descobrir que, depois de tantas tentativas, finalmente estava grávida, depois de pensar que talvez não pudesse ter filhos, descobri que havia vida em meu ventre. A alegria em meu coração inundou meu corpo, meu desejo de ser mãe se tornava realidade, no entanto, a felicidade durou pouco, pois não foi o único diagnóstico que recebi. —O que está tentando me dizer?— perguntei com os joelhos tremendo naquele consultório. —A leucemia é um tipo de câncer nos tecidos que compõem o sangue, o tratamento é complicado, Ana. Não é recomendável que tenha o bebê— disse ele, com um olhar cheio de pena. —Sou consciente de que queria ser mãe, mas primeiro tem que se tratar. Ainda há tempo, e no seu caso há grandes possibilidades de superar isso.— —Quer que eu me livre do meu bebê?— minha voz quebrou. —Sabe o que está me pedindo? Esperei três anos por isso!— —Ana, não há outra maneira. Trabalho há dezoito anos nesta área, é difícil que possa lidar bem com uma doença e uma gravidez.— —Difícil, mas não impossível!— respondi firme, enterrando minhas unhas nos meus joelhos. —Belial vai me apoiar. Quando souber do bebê, ele será quem me dará forças para superar essa doença.— —Ana...— —Não! Não vou perder meu bebê. Vou lutar para levar minha gravidez adiante e superar essa doença— levantei—me da cadeira e, com os olhos marejados, olhei para o médico. —Juro que vou superar isso!— * Fim flashback * Abraçando meus joelhos, finalmente comecei a chorar. Estava desfeita e mais do que quebrada. Ali, naquele quarto escuro e frio, liberei minha alma dilacerada. —Ah! Ahhh! Meu Deus!— gritei, batendo no chão com os punhos. Não proferi uma única palavra a mais, apenas deixei minha dor se expressar, precisava tirar o que estava dentro de mim. Gritei tanto, até que minha garganta ficou seca e a dor se transformou em ardor. O que esses três anos tinham significado? O que tinha acontecido com os meus sentimentos? Quem sou eu? E para onde estou indo? Não sei quantos minutos fiquei nesse estado. Acho que foram horas, perguntando—me: O que aconteceu? Por que aconteceu? Até que uma dor lancinante nos meus músculos me fez ver que estou viva. Levei as mãos ao meu ventre e solucei, meu corpo tremia e não pude deixar de pensar no que seria do meu bebê. Estou sozinha, sem ninguém para me dar uma mão. Se eu morrer, o que acontecerá com o meu filho? Então, olhei para mim mesma no espelho pendurado na parede, observei meu estado; essa não podia ser eu. Essa mulher não podia ser a mãe do meu filho. Sim, doía, mas decidi que superaria. Meu bebê merece uma mãe forte, não uma dilacerada. Isso não era o fim, apenas um novo começo.
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