Na quarta-feira desisti de três aulas para ensinar sobre coesão textual para j**k no refeitório, após ele insistir muito e me trancar no meu próprio dormitório. A sorte que tive foi que, se ajudasse no reforço dele e de outros alunos em Literatura, minhas faltas seriam descontadas. E qual o melhor jeito disso acontecer não sendo ajudando o garoto que é motivo das minhas faltas? Acabei aceitando já que não tinha muito o que perder. No entanto, j**k, pelo contrário, tinha bem mais o que perder.
A redação que j**k está se preparando é sobre o livro The Handmaid's Tale, que será na quinta-feira, e ele quase não sabe escrever algo decente. Quer dizer… j**k não sabe escrever quase nada decente. Provavelmente deveria ter faltado quase todas as aulas do primário. Ele consegue escrever mais erros ortográficos em um texto com a mesma frequência que fala porcarias.
— Bem… a coesão, para ser mais fácil de você entender, são frases e palavras que ligam o texto para torná-lo coerente. Quase semelhante com a coerência, porém, enquanto a coesão trabalha com frases e palavras, a coerência trabalha com a ligação de ideias no texto. Repetindo, coesão é ligação de frases e palavras e coerência é ligação de ideias no texto. Entendeu? — j**k pisca os olhos e confirma.
— Desculpe, não prestei atenção.
— Como não prestou atenção? Já é a segunda vez que explico — sim, minha paciência tinha acabado.
— Não consegui entender direito, pode explicar de novo? — pede com o olhar focado nas páginas do livro que está sobre a mesa. Coço a sobrancelha agoniada enquanto auto questiono se não é eu que estou explicando errado.
— Acho que sou eu que não estou explicando bem — confesso puxando um livro do lado direito de j**k. Coloco um pé em cima do banco e consigo trazer o livro até ele. Sento-me novamente, deixando que ele abra o livro e leia o que precisava.
Não faltava muito para a tarde chegar, e eu não havia ensinado quase nada para ele. Nada que o ajudasse a desenvolver adequadamente uma redação para tirar no mínimo um C +. Estamos desde às 7h00 da manhã no refeitório e sem nenhuma evolução. Por um lado estou feliz que minhas faltas serão descartadas mesmo não tendo dado reforço de nada. Por outro lado, estou me sentindo culpado por saber que ele irá tirar um F ou pior, um F –.
— Não, não é você. Acho que sou eu — j**k diz.
— Não, acho que sou eu mesmo. Vou explicar mais uma vez. Certo? — j**k força um sorriso e, seguidamente, desliza o livro pela mesa até mim. Abro-o e passo algumas páginas sentindo os olhos dele sobre mim.
— Você vai se sair bem — tento consolá-lo.
— Não, não vou — respondeu em tom brincalhão.
— Se ficar dizendo isso não vai mesmo.
— Não preciso dizer, até você sabe disso.
— Mas ser negativo não vai adiantar — passo por mais algumas páginas.
— E ser positivo vai?
— Talvez sim — encontro finalmente a página que estava procurando e deslizo o livro de volta para ele.
Meia hora depois de lermos e relermos trechos de The Handmaid's Tale e eu usar suposições para j**k conseguir montar a redação, eu concluo meu reforço. Eu acho que concluí. Pelo menos um C tinha garantido para ele. Ora que não seria suficiente para livrar j**k do reforço, mas seria suficiente para me livrar de dar aula no reforço.
Passamos os minutos seguintes conversando. Conversando idiotices, para ser exato. E o que mais me deixou surpreso na conversa foi saber que j**k também faz desenhos. Desenhos perfeitos, tão perfeitos que conseguia ver as marcas de pele das pessoas nitidamente. Como ele sabia fazer isso? Não sei, mas ele fazia muito bem. Sempre soube que ele desenhava bem, mas não tão bem assim.
— Tenho desenhos seus também, mas estão no meu dormitório — diz e vai dobrando os desenhos que trouxe e colocando de volta no bolso da calça.
— Quantos desenhos tem de mim? — ainda estou olhando o desenho que ele deixou comigo. A que está na minha mão é um desenho do Eltery. O jeito que j**k o fez, deixou Eltery com cara de ter um ego tão grande quanto na realidade.
— Acho que tenho setenta.
— Setenta? Como?
— Setenta não, setenta e oito. Faço desenhos seus desde o quarto ano.
Meu rosto não se move. Como assim desde de o quarto ano? Eu m*l sabia ler e ele já fazia desenhos.
— Também faço fanarts seus — comenta ainda mais entusiasmado.
— Fanarts?
— Sim, mas não são tão realistas quanto esses.
— Ah, sei — em algum momento da aula de artes devo ter aprendido sobre isso. Passo os dedos pelos detalhes do desenho, seguindo as linhas que o formam, mas logo entrego o desenho de volta para j**k.
— Por que desenhou o Eltery?
— Acho ele bonito. O rosto tem curvas muito diferentes e… bem, interessantes — queria contrariar, mas não tive como. j**k está certo. Talvez demais, mas está. Eu também julgava que até por isso Eltery tinha sido escolhido para a liderança do time de baseball, não apenas por ser bom, mas também por ser bonito. Para reproduzir uma boa imagem do internato e dizer que somos bem “diversos”.
Não faz muito tempo que eu e Heather tínhamos começado a notar o favoritismo de Eltery só pela forma suave que a professora de educação física falava com ele. Não era apenas com voz suave que ela falava com ele, também sempre colocava uma mecha atrás da orelha exibindo um sorriso antes de dizer: “Oh, Eltery, você é meu melhor aluno,” forçando uma voz feminina e com olhos arregalados parecendo um sapo.
“Eu enfiaria um garfo nos olhos dessa sapa ordinária,” comentou Heather uma vez rispidamente, após uma aula de educação física. Tenho certeza que viramos amigos bem ali, ambos com o mesmo desejo de acabar com a professora de educação física.
“Ela me fez correr dois quilômetros. Duas merdas de quilômetros!” A raiva de Heather não era apenas por ter corrido dois quilômetros, mas sim, ter que ver a professora deixar Eltery sem fazer absolutamente nada enquanto ela se matava na quadra.
Houve uma vez que Romy me mandou fazer oitenta flexões e Heather cem agachamento. O motivo do castigo foi chegarmos atrasados na aula, mas esse não é o problema, o problema é: que Eltery sempre chegou atrasado, e ela ainda oferecia água e mandava ele descansar no banco. Deveríamos denunciar ela para o diretor. No entanto, só seríamos vistos como dois órfãos mimados. Bem, não seríamos vistos como apenas dois órfãos mimados se surgissem boatos que a professora de educação física anda sendo chupada pelo líder do time de baseball.
“Vamos f***r com essa p**a,” Heather falou sombria enquanto estudava na mesinha de seu dormitório após eu ter contado o que vi no refeitório.
— Quer algo para beber? — pergunto a j**k, que está focado em terminar o treino de redação que eu tinha passado. Apenas três páginas ele tinha feito, porém, continuava focado.
— Sim, de preferência gelado — a ponta de seu lápis quebra sobre a folha e, rapidamente, ele pega um apontador e uma borracha, voltando a escrever assustadoramente rápido.
Afasto-se da mesa e caminho em direção ao refeitório. Uma senhorinha sorri de trás do balcão ao me aproximar. É uma velhinha de cabelos platinados presos em um r**o de cavalo e olhos azuisque estão ampliados pelas lentes do óculos.
— Tem… — começo e tento olhar para a geladeira de vidro atrás dela. Poucas opções de bebidas. Raramente o internato de North Battleford disponibiliza refrigerante ou algo que continha mais de 3% de açúcar. — Tem alguma bebida gelada além de suco?
— Só água — diz e leva o olhar à porta da cozinha — Bem… chegou ontem uma remessa de Gatorade para os meninos do baseball. Ainda estão gelados, irá querer?
— Ah… pode ser — ela sorri e se vira, entrando na porta esquerda que leva à cozinha. Enquanto ela não volta, viro-me para as mesas do refeitório com a intenção de ver se j**k ainda estava fazendo a redação. E por um breve segundo, sinto as coisas pararem. Pararem inexplicavelmente. Meu rosto começa a arder e sinto suor nascer no centro das costas.
Eu não consigo…
Eu não consigo acreditar que Alice Kayller está sentada na mesa com j**k. Ela está conversando com ele. Ela está falando com ele! Falando com ele!
O calor começa a se espalhar por todo o meu corpo junto com arrepios. Com certeza poderia beber qualquer coisa da geladeira da cantina. Passo a mão na testa e sinto gostas de suor espalhar pelas costas da mão. Eu realmente estou suando igual um porco. Nenhuma novidade.
— Oh, desculpa a demora — ouço a senhorinha dizer.
— Tudo bem — tento ser educado, mas ainda com os olhos nas mesas e querendo entender o que m***a Alice Kayller está dizendo para j**k e ela estarem rindo. Que m***a essa garota faz ali, na verdade?
— Está aqui sua bebida, irá querer só uma mesmo? Parece que vocês têm mais companhia agora.
— Sim… só... uma e… — volto a olhar para eles e depois para a senhorinha — obrigado.
— De nada.
Deixando a cantina e indo em direção a eles, arranco a tampa da garrafa e engulo o líquido descontroladamente e desconfortavelmente. Sinto uma dor abrupta entre os olhos, então pressiono o dedo indicador na região ao mesmo tempo que vou chegando mais perto deles.
— Angus?! — a voz de Alice praticamente racha minha cabeça. Sorrio, mas ainda com o dedo entre os olhos.
— Oiê, Alice — respondo.
— Vocês se conhecem? — j**k levanta o rosto para mim.
— Sim, eu e Angus temos uma coisa muito incomum — diz ela tão casual. Por um segundo j**k fica confuso, porém, não demora para entender o que ela se referia. Ele me encara e, para eu tentar desviar sua atenção, bebo um gole de Gatorade.
Sim, j**k, Alice e eu transamos com a mesma pessoa.
— Angus, você disse que ia pegar uma bebida para mim — j**k ainda continua com o olhar em mim. Olho de relance para a cantina, mas acabo dando minha garrafa a ele. Alice passa os dedos pelos cabelos ruivos e logo me direciona o olhar.
— Senta Angus, parece cansado. Sei o quanto é difícil dar reforço.
Outro sorriso i****a sai dos meus lábios e acabo por me sentar ao lado de j**k, que aliás, bebia quase toda a minha bebida.
— j**k estava me dizendo que você está o ensinando bem. Tá fazendo um trabalho melhor que o da Kira? — Alice passa um dedo pela ponta da mesa. Demoro a perceber que ela estava falando da irmã de j**k.
— Sim… parece que sim — respondo tão receoso.
— Kira não tem paciência comigo, sou burro demais — Kira não estava nem um pouco errada.
— Mas Angus parece estar tendo — ela olha para mim e passa novamente o dedo pela ponta da mesa. — Soube por Kira que vocês andam se beijando. Estão namorando?
Jack é o primeiro a arregalar os olhos. Parece que a língua solta é de família.
— É sim… quer dizer, ainda não — que m***a eu tô falando? Não estamos não! Espera, é bom para ela pensar que não sou um grande concorrente para Hector.
— Isso é tão fofo… mas por quê não, Angus? — Alice me encaminha o rosto com um sorriso maligno. Muito maligno.
— Não estamos porque ele ainda não se decidiu — j**k intervém, colocando a garrafa sobre à mesa.
— Por que ainda não se decidiu, Angus? — usualmente eu responderia que não é da conta dela, mas não podia, quando j**k também parecia querer saber. Desde quando estou me importando com os sentimentos dele?
— Ah… — começo, porém sem resposta alguma. Sem qualquer resposta. Ela queria me deixar desconfortável. Desconfortável com um assunto que nem eu ou j**k tínhamos chegado a tratar direito.
— Eu realmente não me importo com isso — diz ela levantando-se. — Só quero que você fique longe do p*u do Hector. E j**k, dá um jeito nesse seu namoradinho, não quero ter que chamar alguns amigos de baseball para bater nele. Seria muito r**m ele ter mais um maxilar quebrado.
A mão dela bate na garrafa de Gatorade, fazendo o líquido respingar na minha blusa e cair nas calças de j**k. j**k se ergue apavorado enquanto Alice deixa o refeitório. Tiro os cadernos da mesa antes que manche e os coloco em outra mesa.
— Angus, você já teve o maxilar quebrado? — ele questiona ao mesmo tempo que tenta limpar as calças com folhas de caderno. Não respondo e continuo passando as coisas para outra mesa. — Responde Angus.
Aperto os lábios, tentando tomar coragem e procurando alguma mudança de assunto rápida. — Eu aceito! Na verdade eu aceito — a frase saí exponencialmente. j**k ergue as sobrancelhas e abre a boca parecendo querer dizer algo.
— Aceita o que?
— Aceito namorar com você — j**k continua desorientado.
— Sério…? Não, não muda de assunto Angus, é verdade o que Alice disse?
— Quer saber, j**k? — pergunto já irritado.
— Sim — ele para de limpar as calças.
— Eu não gosto de você. Acho você nojento, i****a e burro. Satisfeito?
— A minha irmã diz isso para mim. Quer tentar me ofender com isso? — debocha junto a um risinho ordinário.
— Você é nojento! — qual a chance de eu ter o maxilar quebrado mais de uma vez? Pego as minhas coisas e começo a colocar dentro da mochila de forma furiosa.
— Sinceramente, vai ser f***r, Angus — ele chega perto de mim e puxa um caderno da minha mão. — Esse caderno é meu — ele começa a socar as coisas dentro da sua mochila com mais agilidade que eu. Ele termina de arrumar suas coisas na mochila e a coloca no ombro.
— Para onde você vai? Nem terminou a redação
— Vou terminar no meu dormitório e sem você.
— Não pode me deixar! O que vou dizer para o Hector?! — gritei enquanto ele ia se afastando.
— Não sei. É você que transa com ele. Vai dar um jeito! — vira novamente para mim e vai andando de costas. — O bom é que não vou precisar organizar nada para o passeio ao acampamento. Nem acredito que estava pensando em f***r com você!
Quando ele vai embora, coloco a mão no rosto. Observo cautelosamente ao redor do refeitório junto ao peso da vergonha. Mesmo não tendo ninguém que pudesse ter ouvido, sinto o rosto arder de raiva por ele ter dito aquilo em voz alta.
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Anos atrás eu contrai algumas infecções sexuais por estupidez. Quase morri, mas por sorte, obtive o tratamento e os remédios necessários para controlar uma boa parte delas. No entanto, as infecções que restaram, viraram doenças e até hoje tenho obrigação de tomar coquetéis de medicamentos para controlá-las.
Angus assente e aponta para uma das gavetas da pia. Dou alguns passos até alcançá-las e começo uma busca rápida pelos preservativos. Sem muita demora, eu os encontro. São apenas dois, mas fico feliz dele as ter. Abro a embalagem com os dedos e trago o p**********o ao p*u. Quando termino de inserir, ando na direção dele massageando o m****o por cima da c*******a, verificando se está suficientemente lubrificada.
Fico perto o suficiente para notar melhor seu odor devido a abafação do banheiro. Angus cheira a menta, nem forte e nem fraca demais, é suave e estranhamente bom.
Beijo-o e deixo que me puxe para debaixo do chuveiro. Seus braços se envolvem ao meu redor, suas unhas arranham minhas costas e seus lábios tocam os meus carinhosamente.
Aperto sua cintura e o oriento para trás, um pouco agressivo, causando um gemido nele. Junto um lado do meu rosto ao um lado de seu rosto, pressionando toda a frente de seu corpo contra a parede. Água desce fervendo pelas minhas costas, fazendo o calor que sinto ainda maior.
Arrumo o p*u no centro de sua entrada, iniciando a penetração sutilmente. Suas mãos estão abertas e prensadas contra a parede. E cada vez mais, meu p*u vai ficando confortável e mais fundo.
“Tá desconfortável?”
“Um pouco” responde em meio ao som do chuveiro.