A Dívida

1437 Words
ATENÇÃO: O LIVRO EM REVISÃO E SENDO REESCRITO INÍCIO DIA 10/11/2025 Beatriz Eu tava lá, quietinha no meu canto, mergulhada num livro que nem era tudo isso, mas era o que tinha pra me distrair daquela vida de merda na favela. De repente, PÁ! Um trovão na porta, mano, parecia que alguém tinha dado um soco com raiva mesmo, daqueles que faz a casa toda tremer. Levei um susto do c*****o, fechei o livro na hora, marcando a página com o dedo porque nem marcador eu tinha, e fiquei parada, ouvindo. O coração já tava na boca, tá ligado? — Robson? — chamei baixinho, voz de quem tá com medo de ouvir resposta. Nada. Só o silêncio e o barulho do meu coração batendo que nem funk pesadão. Levantei devagarinho, pé no chão frio de cimento queimado, aquela luz amarela da lâmpada piscando que nem luz de Natal quebrada. Lá fora a noite tava viva pra c*****o: som de funk descendo o morro, risada de bêbado, cheiro de maconha subindo, mas dentro de casa… silêncio de morte. Um silêncio que pesa, que engole a gente. Aí eu ouvi as vozes. Vozes de homem, grossas, pesadas, daquele jeito que já te faz gelar a espinha antes mesmo de entender o que tá rolando. — Eu quero o meu pagamento, Robson. Caralho. O sangue sumiu do meu corpo inteiro. Robson devia de novo? De novo essa p***a? Eu já sabia que ele tava metido com os cara errado, mas sempre achava que era só mais uma confusão de bar, mais uma dívida de jogo, mais um rolo que ele ia se virar pra pagar… ou não. Mas dessa vez o tom era diferente. Era sério. Era fim de linha. Cheguei na pontinha do corredor, espiando que nem criança que sabe que vai apanhar. E aí eu vi. Três caras dentro da minha sala. Três malucos grandões, armados até os dente, cara de quem não tá pra brincadeira. O que falava era o chefe, dava pra sentir no ar. Alto pra c*****o, corpo de quem malha todo dia, braço todo tatuado, barba fechada, uma cruz tatuada aqui do lado da sobrancelha. O olhar… mano, o olhar dele era de matar. Frio, direto, sem dó. O tipo de olhar que faz você querer sumir. E o Robson tava na frente deles tremendo que nem vara verde. — S-Shark… eu juro, mano, eu vou pagar. Só mais um tempo, por favor… Shark. Só o nome já parecia um tapa na cara. — Tempo é o que tu não tem mais. Robson começou a chorar. Aquele choro feio, de homem que se fodeu e sabe. Eu odiava aquele choro desde pequena. Me dava nojo e pena ao mesmo tempo. Aí o Shark deu um passo pra frente e… sei lá, meu corpo reagiu antes da minha cabeça. Eu abri a boca e soltei: — Que que tá acontecendo aqui, p***a? Pronto. Todos viraram pra mim ao mesmo tempo. E o olhar daquele cara… mano, o olhar do Shark me atravessou. Eu senti um negócio que nunca senti na vida. Medo pra c*****o, claro, mas tinha outra coisa ali, um calor estranho, um troço que fez meu estômago dar um giro. Ele me olhou como se já me conhecesse, como se tivesse me esperando. — Beatriz, vai pro quarto AGORA! — o Robson gritou, desesperado. Mas eu não consegui mexer as pernas. Eu tava travada. — Quem é ela? — o Shark perguntou, sem tirar os olho de mim. A voz dele era calma, mas parecia que cada palavra pesava uma tonelada. — Minha irmã… — o Robson respondeu, engasgando. Aí o olhar dele desceu pelo meu corpo inteiro. Devagar. Não foi nojento, não foi tarado, mas também não foi bonzinho. Foi como se ele tivesse me escaneado, me pesado, me medido com os olhos. Depois voltou pro meu rosto. — Interessante… — ele murmurou, girando um anel prata no dedo. — Por favor, Shark, ela não tem nada a ver com isso! — o Robson implorou. O Shark deu um sorrisinho de canto de boca. Um sorriso que não chegava nos olhos. Um sorriso de quem já ganhou o jogo. — Agora tem. E deu um passo na minha direção. Eu recuei na hora, o coração querendo sair pela boca. — Ela vem comigo. Eu pisquei. Achei que tinha ouvido errado. — Quê? Como assim vem comigo, p***a? — Não! NÃO! — o Robson gritou e se jogou na frente, mas levou um empurrão que foi pro chão na hora. Dois capangas vieram pra cima de mim. Eu gritei, esperneei, chutei, mordi, fiz tudo que uma mina da favela aprende a fazer quando tá encurralada. — ME SOLTA, FILHO DA p**a! ROBSON, SEU FILHO DA p**a, O QUE VOCÊ FEZ?! Mas não adiantou p***a nenhuma. Me arrastraram pela sala, pela porta, pela rua. O vento frio da noite bateu na minha cara, eu senti o cheiro de asfalto quente, de fumaça de churrasquinho, de cerveja derramada. A favela inteira tava ali, vendo eu ser levada, e ninguém mexeu um dedo. Ninguém nunca mexe. — Calma aí, menina… — um dos cara falou, como se aquilo fosse normal. — CALMA É O c*****o! ME SOLTA! Me jogaram dentro de um carro preto, porta bateu com força, eu ainda tava gritando, batendo no vidro. Aí eu olhei pro banco de trás. Ele tava lá. Shark. Sentado, pernas abertas, braços cruzados, me olhando com aquela cara de quem manda no mundo. Silêncio. Só o barulho do meu choro e da minha respiração acelerada. Eu tava tremendo inteira. As pernas, as mãos, os dentes batendo. — Por favor… — minha voz saiu um fio — não faz isso comigo… eu não fiz nada, mano… Ele não respondeu na hora. Só ficou me olhando. Olhando mesmo. Como se estivesse tentando enxergar dentro da minha alma. — Pode agradecer pro teu irmão. Eu engoli o choro. — Que que tu quer comigo, p***a? Ele virou o rosto pra janela, como se eu não merecesse resposta. O carro começou a andar. Cada curva era um pedaço da minha vida ficando pra trás. Eu só conseguia pensar: o que esse cara vai fazer comigo? Vai me matar? Vai me vender? Vai me estuprar? Eu tava apavorada, o corpo inteiro gelado, a cabeça girando. De repente o carro freou forte. Eu quase voei pra frente. Ele virou o corpo inteiro pra mim. Os olhos pretos, intensos, me prenderam. Eu não conseguia desviar. Ele esticou a mão e segurou meu queixo com força, mas sem machucar. O toque dele era quente pra c*****o. Me obrigou a levantar o rosto. — Para de chorar. Eu engoli seco. Tava apavorada. Ele me olhou mais um pouco. E aí o olhar mudou. Não era mais só raiva. Tinha um troço ali que eu não sabia explicar. Curiosidade? Dúvida? — Eu não vou te machucar — ele falou, soltando meu rosto devagar, mas a mão ainda ali perto. — Olha pra mim. Eu olhei. Não porque quis. Porque não conseguia parar. — Eu não sou estuprador. Se é isso que tu tá pensando, pode tirar da cabeça agora. Eu fiquei sem ar. Queria acreditar. Queria muito. Mas o medo ainda tava gritando mais alto. — Então… então por que tu me trouxe? Ele respirou fundo, passou a mão na nuca, como quem tá segurando a raiva. — Porque teu irmão deve pra gente errada. E se não fosse eu lá hoje, tu já tava morta. Ou pior. Muito pior. Eu fiquei quieta. A raiva subiu quente no meu peito. — E tu acha que me sequestrar te faz melhor que eles? Um canto da boca dele subiu. Quase um sorriso de deboche. — Não. Mas pelo menos comigo tu tá viva. O carro voltou a andar. Eu encostei a testa no vidro frio, tentando segurar o choro. Lá fora as luzes da cidade passavam borradas. Os morros, os prédios, as pontes. Tudo passando rápido demais. Minha vida inteira ficando pra trás. Eu não sabia ainda, mas naquela noite, dentro daquele carro preto, com aquele homem que tinha destruído minha liberdade em dois minutos, também tinha começado outra coisa. Um troço que ia me f***r muito mais que qualquer dívida do Robson. Porque o Shark… ele não era só o monstro que eu imaginava. Ele era muito pior. E, ao mesmo tempo, era o único que ia me fazer sentir viva de verdade pela primeira vez na vida. Mas isso eu só ia descobrir depois. Muito depois. Naquela hora eu só queria morrer. Ou matar. Ou os dois. ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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