Liderança

2714 Words
-Isa, você vai se atrasar. Acorda! – escutei a voz da minha mãe batendo na porta. Levantei minha cabeça devagar até perceber que havia dormido em cima dos livros no chão do meu quarto. Tudo estava uma bagunça. Me aliviei quando descobri que a empregada poderia limpar tudo por mim. Me levantei rapidamente e corri até o quarto do Jony, abri a porta antes de bater e me deparei com ele já trocado de roupa. -Parece que alguém está atrasada. – ele me olhou. – Bom dia! -Pensei que você ainda estava dormindo. – ainda segurando a maçaneta da porta e sem entrar, eu o olhava da porta. – Bom dia! -È melhor você se apressar. – Jony foi para frente do espelho pentear seu cabelo. -Certo. Vou me arrumar rápido e te encontro na cozinha. Leva o casaco e desce com o meu também. -Você que manda! – o vi concordar, fechei a porta e fui correndo para o banheiro. Desci as escadas correndo. Corri para a cozinha, peguei o sanduiche e sai apressada com Jony. O ônibus iria passar em cinco minutos. -Por alguns segundos e vocês ficam sem ônibus. – Joe era o motorista do ônibus. Um senhor com um bigode grisalho, não sabia se ele tinha cabelo, pois ele sempre usava um boné do colégio. Baixo e gordo, eu só o via com o grande casaco cinza com o brasão do colégio bordado nas costas. -Obrigado por esperar Joe. – sorri para ele e subi com o Jony. Só depois que sentei, percebi que o céu ainda estava nublado. Olhei para o meu celular, nenhuma mensagem. Descemos. -Bom dia senhorita Isa. – Jeremy estava em seu lugar de sempre, na portaria. -Bom dia Jeremy. – sorri para ele – Mesmo procedimento, levarei o Jony e depois voltarei. – ele acenou positivamente e abriu o outro portão para eu poder passar. Eu não queria me encontrar com o Erik, mas eu estava na ala dele. Agora ele era professor de educação física dos mais novos, porém seguia sendo instrutor dos médios e os mais velhos, que seria o meu caso. Havia um tipo de relatório que os responsáveis deveriam assinar, para confirmar que havia deixado a criança no prédio. Cris era uma adulta super legal, ela que cuidava disso e eu gostava bastante dela. -Erik? – fiquei surpresa ao vê-lo no lugar de Cris. – Onde está a Cris? -Olá!- ele nem me olhou , seguiu rabiscando uns papeis em sua prancheta. – Ela não está se sentindo bem e tive que ficar no lugar dela. Por favor, assine aqui. – ele me entregou a prancheta e a caneta, porém sem me olhar. – E ai garotão, tudo bem hoje? – Erik abaixou para falar com Jony. -Sim! – ele respondeu com pouco entusiasmo. -Aqui está. – coloquei em cima do balcão e me voltei para Jony. – Já sabe não é? Não sai da sua ala até eu chegar, vou ver se a Ray pode nos levar para casa hoje. – Jony confirmou com a cabeça – Ótimo, entra vai. – o empurrei e o vi entrando. Ao ver que Erik não iria falar nada, me retirei. Eu não me lembrava muito da noite passada, mas sei que consegui colocar todos meus exercícios e trabalhos em dia. Entreguei pelo menos a metade deles antes do tempo estimado para os professores e me senti mais aliviada. -Você conseguiu alguma coisa para ajudar a Mel? – ouvi a voz de Alice atrás de mim, e ao me virar vi Sofia logo atrás dela. -Não, e nem irei. – andei para longe da quadra e as vi me seguindo. – Eu tive uma pequena briga com o Fascínio ontem e disse que não queria mais saber de nada disso. E aí, ele sumiu. -Ele sumiu? – Sofia perguntou. -Simplesmente sumiu? – Alice enfatizou a pergunta. -É, sumiu. Eu fiquei assustada com o que ele pode fazer, comecei a gritar e a chorar como louca e pedi para ele ir embora. E foi o que ele fez, pelo menos eu espero que tenha feito. – parei em um dos bancos brancos ao lado da quadra e sentei. -Isso significa que acabou? – Sofia estava em pé na minha frente, tentando entender o que eu acabara de falar. -Eu não sei o que significa. O que eu sei é que não tenho mais como ajudar vocês, não que eu tivesse, porém não tenho mais nenhuma ligação com nada. -Mas acontece alguma coisa estranha com você também. -Se acontece, não sei como ativá-lo ou usá-lo. Portanto, pra mim, não acontece nada. – me levantei e olhei para elas. – Boa sorte para vocês, e por favor, parem de me procurar. – ajeitei meu suéter e sai. -Será que isso é verdade?- Alice se voltou para Sofia questionando sobre o que Isa falou. -Ela não tem porque mentir. E ela me pareceu bem verdadeira. – Sofia respondeu e de braços cruzados, ficou observando a garota ir embora. -Temos que contar para a Luna. – Alice começou a andar e Sofia a seguiu. Luna estava com sua gangue do outro lado da quadra, todos em uma enorme roda. – Luna, precisamos falar com você. – Alice parou atrás da garota loura a fazendo virar em direção a voz. -E o que vocês querem? –Leo tomou a voz e respondeu por Luna. -Luna, queremos realmente falar com você. Sem brigas, sem discussões, apenas conversar em um lugar calmo. – Alice voltou os olhos para Luna, ignorando totalmente Léo. – Algo particular. -Desculpa, mas não tem nada que vocês falem com ela, que não podemos escutar. – Léo falou outra vez, tomando voz por Luna. A garota levantou e ajeitou sua roupa. -Voltarei em alguns segundos. Léo, toma conta de tudo por aqui. – Léo ia falar alguma coisa, mas Luna saiu antes que ele pudesse falar alguma coisa. Ao chegarem no mesmo local que estavam há pouco com Isa, Sofia começou a falar. -A Isabelle nos abandonou. -Como assim, nos abandonou? – Luna arregalou os olhos. – Ela morreu? -Não, nada disso. – Alice tomou a voz. – O que a Sofia quis dizer é que, ela não poderá mais nos ajudar. Pelo que entendemos, ela brigou com o tal cara que aparecia para todas nós. -Ela mandou ele sumir e foi o que ele fez. – Sofia continuou a explicação – A Isabelle disse que não queria mais saber disso, e que ele não a procurasse mais. E pelo visto, ele a obedeceu. -Isso só pode ser brincadeira. – Luna sentou no banco branco atrás dela. – Ela era nossa única ponte com ele e que iria nos ajudar com a Mel. Alguma de nós tem que ficar no controle. – as duas olharam ao mesmo tempo para Luna, a deixando entender que ela deveria cuidar de tudo. – O que? Não! Não , eu não sirvo pra isso. -Qual é Luna, você manda em muita gente aqui. Isso é fichinha pra você, e sem falar que a Mel é sua amiga. -Vocês não estão entendendo. – Luna se levantou .- Isso se trata de responsabilidade, coisa que eu não tenho. – ela andava em círculos. – Pode ser uma de vocês. Porque não? A Alice manda muito bem quando o assunto é liderança. -Não vem colocar isso pra cima de mim. Vamos pensar um pouco, pra quem ele apareceu na ultima vez? -Mel. – Luna respondeu . –Mas ela não quer falar sobre isso, então voltamos a estaca zero. -Porque não perguntamos para a Isabelle como ele aparece para ela? – elas olharam para Sofia – Eu não sei vocês, mas eu quero saber o que está acontecendo comigo. E se soubermos como ele aparece, talvez podemos resolver isso juntas. -Difícil de acreditar que saiu uma ideia boa de você. – Luna a olhou e debochou. -Eu vou deixar passar porque não estamos em tempo de ficar com briguinhas bobas. – Sofia jogou seus cabelos para trás e se mostrou inferior. -Ok. Você fala com a Isabella. – Alice olhou para a Luna. – Ela já deixou claro que não quer ser vista conosco no colégio, então vá até a casa dela. – Luna soltou um sorriso um tanto irônico. -Quem você acha que é para mandar em mim? -Eu não quero mandar em ninguém , vamos lá Luna, você sabe que pra saber o final disso temos que estar juntas. -Eu já ouvi isso uma vez, e parece que não deu muito certo. -Então vamos fazer certo dessa vez. – Luna olhou para Alice, que viu ela sorrindo ao olhar para Sofia. Ela já tinha visto aquele olhar, a garota tinha confiança no que falava. -Certo. Eu vou até ela. – Luna viu as garotas batendo palmas e sorrindo. – Parem com isso, não deem bandeira. – as garotas pararam na mesma hora. O sinal soou. –Hora do almoço! – Luna sorriu e saiu dali. Isabelle sentia uma grande liberdade, ela sentia que tinha tirado um grande peso nas costas. Seu cabelo estava bem arrumado, seu rosto tomado por uma maquiagem leve e seu sorriso parecia mais radiante. Deixando de lado o problema com Erik, tudo estava caminhando muito bem. Na mesma mesa de todos os dias, Isa estava acompanhada por seus amigos. -Ray, tem algum problema de você me deixar em casa? Com esse tempo louco, não quero arriscar estando com o Jony. – quebrei o silencio que havia na mesa. -Sem problemas. – Ray sorriu para mim. – O tempo está um pouco louco ultimamente. -Exato! – Lucas concordou. – Não só o tempo, a cantina também. Todo mundo aqui dentro me dá agonia. -È verdade. – Debs concordou.- A cantina está um pouco cheia. – olhei ao redor e percebi uma coisa, em meio ao grande grupo de Luna, Mel não estava com ela. Fiquei pensando onde ela deveria estar. Dei uma geral no lugar, porém nada dela. -Está procurando alguém Isa? – escutei a voz de Ray, fazendo meus olhos voltar e olhar para ela. -Hã? Ah, não. Ninguém.- sorri sem graça e voltei a comer. – Apenas estou vendo como está cheio. O resto do dia passou calmamente. Eu não havia tido sinal de nenhuma das meninas atrás de mim, ou mesmo de Erik. Na portaria, eu vi Jony me esperando. Peguei ele em sua ala, e logo depois o levei até o carro de Ray. -Olá Jony! – Ray sorriu para ele ao vê-lo entrando no carro. –Tudo bem com você? -Oi Ray! – ele respondeu com um sorriso. – Sim, tudo perfeito. – Ray o via pelo retrovisor, enquanto ele colocava o sinto. –Eu pensei que voltaríamos com o Erik. – Jony lamentou e fechei os olhos. -Eu e o Erik ainda precisamos conversar sobre algumas coisas, até lá, podemos dizer que não haverá carona com ele. – olhei para Jony e respondi com bastante calma. -Você sempre brigando com as pessoas. – vi ele falar chateado e virar o rosto para outra direção. Ray percebeu que era a hora de ir. Chegamos em casa e Jony passou direto para o seu quarto. Eu podia perceber que ele tinha ficado irritado com o fato de Erik ter que ficar afastado de nós por um tempo. Nosso pais não haviam chegado ainda, eram quase seis da noite e eles normalmente chegavam às sete. Passei para meu quarto, e logo após tomar um banho demorado e bem merecido, percebi a tela do meu celular acender. "Eu preciso falar com você. Luna." "O que você quer? Acho que não temos nada para conversar." "Não comece. Você nos abandonou, mas não pense que vou fazer o mesmo. " "Do que está falando?" "Irei em sua casa em algumas horas." – respirei profundo, pensei comigo, será que aquilo nunca iria acabar? E eu ainda tinha que aguentar Luna na minha porta. Me vesti e então desci para esquentar o jantar, e colocar os pratos na mesa, já que o garoto não havia descido. No meio ao silencio do nosso jantar, a campainha tocou e todos nos olhamos. -Estão esperando alguém? – os olhos verdes da minha mãe passou por todos nós, que negamos com a cabeça. Só depois de negar, me lembrei da mensagem de Luna mais cedo, ela disse que viria. Ela veio. -Deixa que eu atendo. – me levantei da mesa e sem esperar alguém contestar, fui até a porta. Abri. Vi o sorriso irônico da garota, aquele sorriso que quando fazia algo de errado e se safava sem lesão alguma. –Você veio! – bufei ao vê-la. -Boa noite também. – ela encostou na porta. – Você disse que não queria que nos vissem juntas no colégio, então estou aqui, onde seus amigos não podem ver. -Está bem. Entra. – abri a porta e a mandei sentar na sala, enquanto daria explicações na sala de jantar. –Mamãe, preciso resolver umas coisas com uma das meninas no colégio. – vi meu padrasto revirar os olhos. -E não pode dizer para ela que espere , até terminar seu jantar? – ouvi a voz grossa do homem ao fundo. -È importante! –ouvi a voz de Luna ecoar na sala e me virei rapidamente para olhá-la. – Desculpem interromper, juro que não era minha intenção. Me chamo Luna Sccot. Herdeira da empresa Sccot. – percebi o olho do homem alto, um pouco gordo e com cabelos ralos , brilharem. Ele soltou um sorriso. -Senhorita Sccot. – ele levantou da mesa. – È um grande prazer tê-la aqui, não é incomodo nenhum. A Isabelle já havia terminado de comer. – revirei meus olhos ao vê-lo babando para a Luna. Aquilo tudo, era porque a empresa a qual ele trabalhava acabara de fechar negocio com a Sccot Industry. -Muito obrigado senhor. Agradeço bastante me deixar falar com a Isabelle. - Luna sorriu e saiu logo após de ver o homem sentar novamente. Sai logo em seguida. Chegamos ao meu quarto e a vi reparando em tudo que é lugar. –Seu quarto é bastante esquisito. -Luna, fala logo o que você quer. – sentei em minha cama e a vi fazendo o mesmo. -Como você chamava o tal cara até você? -Você está falando do Fascínio? -Sim. -Eu não chamava, simplesmente ele vinha. Depois de um tempo ele disse que o fato de eu não ter medo dele, facilitava a chegada dele até aqui. – respondi sendo sincera. – Vocês querem chamá-lo? -Claro! Temos que saber mais coisas sobre o que está acontecendo com todas nós. Você era nossa ponte com ele, mas você já deixou bem claro que não quer ajudar. -Eu não disse que não queria ajudar. – falei com a voz um pouco baixa ao perceber que ela estava certa. -Não é o que pareceu quando você falou para as meninas. Enfim, eu só quero saber um jeito de ajudar todas nós. – Luna suspirou profundamente – Se você não percebeu, fazemos parte dessa loucura. – naquele momento eu vi a sinceridade no olhar de Luna. – Eu senti o que você fez comigo no outro dia na cantina. Sua fúria quase me queimou, e olhe que pensei que a coisa do fogo era com a Alice. -O que acontece comigo é diferente. Eu nem sei o que eu tenho. – falei me levantado indo em direção ao meu criado mudo. -Certo. Eu não vou ficar aqui te fazendo entender alguma coisa, porque ao contrário de você, não vou abandonar as garotas. -Você fala assim porque está envolvida. – alterei meu tom de voz ao ver Luna se fazer de boa moça. -Tem razão. Mas olha só, você também estava e você nos abandonou. Não vou fazer igual. – a garota se levantou e foi até a porta. – Passar bem Isabelle. – escutei a batida da porta e senti uma alfinetada no peito. Por mais que eu a odiasse, ela estava certa. Não desci após aquilo, eu simplesmente não sabia como lidar com os meus problemas. Abri a janela e deixei a brisa entrar, deitei em minha cama e ainda com a janela aberta, observei as estrelas. Era como se eu pudesse sentir cada pulsação que elas davam, pareciam fogos explodindo um após o outro. Adormeci.
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