Durante o jantar,nos reuníamos sempre as oito. Era o único momento em que todos estavam juntos, fingindo ser uma família normal e feliz. O que era totalmente o oposto. Os adultos viviam brigando, meu irmão tinha sérios problemas com a escola e falta de atenção dos pais, e eu, bem, eu era aparentemente uma adolescente normal e responsável, que sabia dos problemas do irmão e nunca parecia fraca em sua frente.
-Vamos Jony, vamos dormir. – o garoto tinha oito anos, pele clara, cabelos escuros e olhos verdes, assim como o da nossa mãe. – Eu vou te colocar na cama, como todas as noites. – geralmente eu sempre fazia isso com ele. Ele sorriu e me obedeceu.
-Isa, você está ficando grande. – estávamos no quarto dele, que era ao lado do meu.
-Bem observado moleque. – eu estava ajeitando sua cama, enquanto ele colocava o seu pijama do homem aranha.
-Então, quando você for, vai me levar com você? – me virei e o olhei. – Hã, é. Você que cuida de mim nessa casa. Nem as babás dão conta para me cuidar.
-Hã, certo. – sorri e sentei na cama – Vamos fazer o seguinte. – ele se sentou junto a mim – Se eu for morar em um apartamento ou uma casa grande, te levarei sim. E por isso você tem que orar todas as noites, para que sua irmãzinha aqui, tenha um ótimo trabalho.
-Trato feito. – ele me abraçou. Eu amava meu irmão, mesmo sendo filho de outro pai, tive a sorte dele não nascer com o gene r**m dele. O garoto era doce, parecia bastante comigo.
-Agora vai, deita ai. – ele estava se deitando e eu o cobri. – Tenha bons sonhos. Te amo.
-Te amo Isa! – ele virou para o outro lado, apaguei a luz e saí do quarto. Todos os dias eu o colocava na cama, mas sempre era diferente. Não segui a rotina naquela noite, peguei um livro e desci para a sala de visitas. Sentei em um sofá marrom que tinha ao lado da janela coberta por cortinas azuis, minha mãe adorava a cor azul. Me sentei , abri o livro, após ler seis páginas, posso jurar ter sentido um vento frio batendo em mim. O estranho era que, a janela estava fechada. Olhei para os lados, não havia nada, nem ninguém. Observei a escada, nada. Só poderia ser coisa da minha cabeça. Voltei meus olhos para o livro outra vez, e senti um vulto. Virei imediatamente para o corredor, onde dava acesso a cozinha. Não havia nada. Me levantei e andei em direção da cozinha, poderia ter sido o Jony que havia levantado ou até mesmo minha mãe. Ninguém. Ao me virar novamente para voltar a sala, havia um homem em minha frente. Levei um leve susto, e cambaleei para trás.
-Quem é você? O que você quer? – ainda conseguir dizer com o livro na mão e dando pequenos passos para trás.
-Não se assuste. Não irei te fazer nenhum m*l. – ele tinha vestes estranhas e escuras. Seus olhos verdes chamavam atenção e tinha algo em seu rosto que me deixava tranquila. Como se eu estivesse hipnotizada por sua beleza ou algo do tipo. – Eu preciso falar com você. Julgando pelo seu comportamento e de algumas outras garotas, vocês serão as próximas.
-As o que? – todo o medo já havia ido, eu não me interessava mais de onde ele era, como foi parar ali ou como entrou em minha casa. Eu havia focado no "vocês serão as próximas." –Próximas? Próximas de que? Por acaso você é a morte? – ele deu um pequeno sorriso.
-Não! Se algo diferente começar a acontecer com você, não se assuste. Espere a hora certa e tudo ocorrerá bem. – o homem não havia saído do lugar, enquanto eu era acalmada pelo tom doce em sua voz.
-Você pode me explicar melhor? Quem é você? O que vai acontecer? – eu queria saber mais, eu precisava saber mais. Ouvi um alarme ensurdecedor e reparei no meu despertador. Já era de manhã. Hora de ir para a escola. Me levantei atordoada, não sabia exatamente o que havia acontecido. Eu havia sonhado? Não havia tempo para perguntas. Me levantei e fui até o quarto do Jony. –Jony, levanta! Hora de ir pra escola! – bati na porta umas três vezes , na quarta batida, ele abriu.
-Já estou indo! De pé! – ele estava sonolento e esfregando os olhos. Todos os dias era a mesma coisa. Eu o acordava, preparava nosso café e saíamos sem ver qualquer adulto que morava naquela casa. O ônibus passava pontualmente as sete e vinte, com isso, nunca nos atrasávamos. Após deixar meu irmão em sua ala, segui para a minha e me deparei com uma situação fora do normal. Nem Leo ou Luna estavam com seu grupinho no pátio. Fui em direção aos meus amigos.
-Bom dia! – todos me responderam – O que aconteceu por aqui? Cadê a Luna? O Leo? – sentei junto á eles.
-È o que queremos saber. Ao que parece, a rádio corredor está dizendo que eles foram suspensos. – Lucas sabia bastante das histórias que ocorria na escola, não sei se isso fazia parte de ser gay, mas eu gostava de me manter informada pelo meu amigo.
-Suspensos? Não brinca! Finalmente isso aconteceu. – levantei as mãos para o céu em forma de agradecimento e soltei uma boa gargalhada.
-Isa, você está ficando louca? Se lembra que fomos nós que fizemos a brincadeira e eles foram culpados por nossa causa? – Debs parecia se sentir culpada.
-Eu não estou escutando isso. Me n**o a escutar. – virei e a olhei – Você sabe por quanto tempo esse grupinho vem infernizando nossas vidas? A Luna amava pegar no seu pé, e o grupo do Leo fazia o Lucas de gato e sapato. E agora você está com pena deles?
-Eu não disse que estava com pena. Não exatamente.
-Certo! Certo! Eles não foram suspensos, não temos sorte com isso. Daqui a pouco eles chegam, botando o terror novamente. – Ray estava calma e tomou a fala. – Fiquem calmos! – o assunto se encerrou com o ultimo comentário da Ray. Sabíamos que ela tinha razão, eles já deviam ter pago a detenção no dia anterior. Não demorou muito e o sinal tocou. Assistimos as aulas da parte da manhã e fomos a cantina. Mas uma vez tudo estava calmo demais para um dia de colégio. A cantina estava como sempre, cada um com seu grupo, em seu devido lugar. Porém, dessa vez não havia garotos servindo de saco de pancadas, ou os tios sendo xingados, ou até mesmo aqueles gritinhos irritantes das meninas insuportáveis do grupo da Luna. Aliás, avistei uma das meninas do grupo da Luna. Melissa. Eu não sei como a chamavam porque não falava com ela, e para ser sincera, nunca ouvi a sua voz. Ela era fiel seguidora de Luna, porém não a via fazendo nada alem de seguir sua amiga e as demais.
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continua....