LILY'S POV
Fiquei em silêncio, a mente a mil. O que deveria fazer? As palavras de Ashley pareciam ser reconfortantes, mas algo dentro de mim dizia que havia mais naquela história. John não me testava, ele me manipulava, e o mais perturbador era que Ashley parecia ver tudo aquilo como parte de um jogo de pertencimento. Um privilégio. Mas por que algo tão errado teria que ser um privilégio?
" E é um privilégio entrar no grupo." Ashley repetiu, como se lesse meus pensamentos. "Poucos conseguem."
A tarde se arrastou enquanto eu tentava, sem sucesso, esquecer o que havia acontecido. Voltamos à areia, e Ashley se juntou ao grupo novamente, mas eu me sentei na beira da água, deixando as ondas suaves lamberem meus pés. Olhei para John, que agora estava jogando, sua expressão séria enquanto se concentrava no jogo. Ele parecia tão despreocupado, como se nada tivesse acontecido.
O que eu deveria fazer? Contar para Aidan? Isso poderia arruinar tudo. Mas não contar me fazia sentir como se estivesse traindo a confiança dele. Olhei para o céu, buscando respostas que não encontrava.
Ashley voltou para o meu lado, sentando-se ao meu lado na areia. “Lily, você precisa relaxar. Pense nisso como um rito de passagem. Você passou no teste.”
“Não me sinto aprovada,” murmurei, mais para mim mesma do que para Ashley.
“Você vai ficar bem,” Ashley insistiu. “E, além disso, você tem o Aidan. Ele gosta muito de você. Concentre-se nisso.”
Tentei sorrir, mas sabia que meus olhos traíam minha tentativa de parecer tranquila. Aidan se aproximou, com um sorriso no rosto. “Tudo bem aqui?”
“Sim, tudo ótimo,” respondi, forçando-me a parecer despreocupada.
“Vem, vamos dar um mergulho,” ele disse, puxando-me pela mão.
Deixei-me ser levada, tentando afogar meus pensamentos na água fria do mar. Mas, mesmo enquanto estávamos juntos, eu podia sentir o olhar de John me queimando, e a memória daquela noite continuava a assombrar meus pensamentos. Como eu poderia seguir em frente sem contar a verdade? E se Ashley estivesse errada? E se contar para Aidan fosse a coisa certa a fazer?
“Você está distante de novo,” Aidan observou, segurando meu rosto entre suas mãos. “O que está acontecendo, Lily?”
“Só estou cansada, Aidan,” menti mais uma vez. “Acho que foi o calor.”
Ele sorriu, beijando minha testa. “Vamos para a sombra então. Você precisa descansar.”
Assenti, deixando-me ser guiada de volta à praia. Sentamos sob um guarda-sol, e Aidan continuou a conversar com os amigos, mas eu me sentia cada vez mais isolada. John estava a uma curta distância, e cada vez que nossos olhares se encontravam, eu sentia uma onda de desconforto percorrer meu corpo.
No fundo, eu sabia que essa sensação não desapareceria até que eu enfrentasse a verdade, até que resolvesse o que realmente havia acontecido naquela noite. Mas, por enquanto, tudo o que eu podia fazer era tentar sobreviver à tarde, esperando que o sol se pusesse rápido, levando com ele as sombras das minhas dúvidas e medos.
Ashley me olhou, e eu sabia que ela estava tentando ajudar, mas parte de mim se ressentia da maneira como ela havia minimizado o que aconteceu. Um teste? Era assim que ela via? Não importava como ela ou qualquer outra pessoa tentasse justificar, algo dentro de mim dizia que isso não estava certo. Que John tinha cruzado uma linha que não deveria ter sido cruzada.
Respirei fundo, tentando encontrar coragem dentro de mim. Talvez o primeiro passo fosse contar para Aidan. Mas não hoje. Hoje, eu precisava de tempo. Tempo para entender meus próprios sentimentos e decidir como lidar com essa nova realidade. Por enquanto, tudo o que eu podia fazer era tentar esquecer, pelo menos por algumas horas, e aproveitar a companhia de amigos que, pelo menos até onde eu sabia, eram dignos da minha confiança.
A noite finalmente chegou, trazendo consigo uma brisa refrescante e uma sensação de alívio. A galera começou a se dispersar, e Aidan me levou para casa. Ele estava tão carinhoso, tão atencioso, e isso só tornava tudo mais difícil.
“Foi um dia ótimo,” ele disse, beijando-me na porta de casa. “Amo passar tempo com você.”
“Amo passar tempo com você também,” respondi, tentando não deixar meu sorriso vacilar.
Aidan se aproximou, os olhos brilhando sob a luz suave da lua, e eu podia sentir o calor de sua respiração conforme ele se inclinava. Meu coração acelerou, como sempre acontecia quando ele estava por perto. Suas mãos deslizaram suavemente pelo meu braço enquanto seus lábios se aproximavam dos meus.
De repente, o som de uma porta se abrindo com força nos fez parar. Uma voz fria e autoritária cortou o ar da noite, fazendo meu estômago revirar de ansiedade.
"Lily, entra agora." Era Samuel, meu meio-irmão.
Eu me virei lentamente, sabendo que enfrentaria seu olhar raivoso. Lá estava ele, parado na porta da nossa casa, braços cruzados e rosto sombrio. Os olhos de Samuel estavam fixos em Aidan, mas havia algo mais neles — uma faísca de ciúme que só eu conseguia reconhecer.
Eu suspirei internamente. Samuel sempre foi possessivo. Mesmo com todos os momentos que compartilhamos em segredo, ele agia como se tivesse o direito de me controlar. E agora, sua postura protetora e hostil era mais do que evidente. Ele odiava ver alguém se aproximando de mim, especialmente Aidan.
"Até amanhã na igreja, então?" murmurei, tentando não demonstrar o nervosismo que me invadia.
Aidan me olhou confuso, claramente incomodado com a presença de Samuel. Ele hesitou por um segundo, mas assentiu, forçando um sorriso.
"Até amanhã, Lily."
Eu não queria prolongar aquela tensão. Sem olhar para Samuel, passei por ele rapidamente, sentindo seu olhar pesado me seguir até que entrei em casa. O silêncio caiu entre nós assim que a porta se fechou atrás de mim. Sabia que ele tinha algo a dizer, mas eu não estava disposta a enfrentar isso agora. Não queria relembrar os momentos que passamos juntos, nem encarar o peso das decisões erradas que tomei no passado.
Sem dizer uma palavra, fui para o meu quarto, deixando Samuel sozinho no corredor, com seus sentimentos confusos e sua raiva não dita.