Era uma tarde quente de sexta-feira quando Sandra aceitou tomar um café com Pedro. Ela havia passado a vê-lo como uma figura gentil, alguém que cruzava seu caminho com frequência, que sempre tinha uma palavra leve e um sorriso sincero. Benjamim adorava conversar com ele, e Pedro sabia como se aproximar — usava a criança como ponte, mas o olhar era sempre nela.
Sentaram-se em uma cafeteria pequena, com mesinhas na calçada. Pedro elogiou o penteado novo dela — mesmo que não tivesse mudado nada — e falou sobre sua suposta vida de solteiro com um toque de melancolia estudada.
— Às vezes, acho que o amor é uma coisa que acaba. Como a chama de uma vela... — disse ele, com os olhos baixos.
Sandra balançou a cabeça, sorrindo com leveza. — Não acredito nisso. Amor é escolha diária. Quando se ama, a chama pode até balançar, mas se sopra com cuidado, ela volta a crescer.
Pedro ficou em silêncio por um momento. Depois, encarou-a nos olhos. Ela desviou. Sentiu o ar esquentar. Era como se tivesse dito mais do que pretendia.
Na semana seguinte, os encontros aumentaram. Um esbarrão aqui, um convite casual ali. Pedro começou a criar situações para vê-la sozinha. E quando ela hesitava, ele recuava — sabia o tempo certo de pressionar e o momento de deixar o desejo amadurecer.
E amadureceu.
Numa manhã nublada, na porta da escola de Benjamim, ele encostou a mão na dela ao entregar um brinquedo esquecido. Foi rápido. Mas ela sentiu. E pela primeira vez, não se afastou.
A culpa veio logo depois. Sandra passou o dia irritada, confusa. Amava sua família, seu marido era um bom homem, trabalhador, presente. Mas Pedro a fazia sentir algo que ela não sentia há anos: vista. Desejada. Mulher.
Na semana seguinte, ele a convidou para um passeio rápido, só para mostrar um terreno que "talvez comprasse". Ela aceitou. Lá, em meio ao mato alto e ao silêncio, Pedro a beijou. Ela resistiu... por segundos.
O beijo foi intenso, proibido, sufocado por anos de rotina. Naquele momento, ela cruzou a linha que jurou jamais ultrapassar.