Prólogo
Não...
Isso não pode estar acontecendo.
Meus dedos trêmulos pousaram sobre o próprio corpo, como se isso pudesse conter a avalanche dentro de mim.
Mas era inútil.
Nada poderia conter o peso insuportável que se acumulava por dentro.
Um peso que esmagava os meus pulmões, meu coração… minha alma.
— Você está... me mandando embora? — minha voz saiu baixa, rouca, desfeita pelo desespero que queimava como fogo em minha garganta. Ainda assim, ergui o que restava da minha força e mantive a cabeça erguida.
Se ele queria me despedaçar, que o fizesse olhando nos meus olhos.
Ele estava encostado na beira da mesa como se nada daquilo tivesse importância.
Braços cruzados, expressão entediada, e aquele maldito sorriso torto nos lábios… o mesmo sorriso que um dia me fez perder o ar, agora parecia uma sentença c***l e definitiva.
— Estou te mandando embora? — ele repetiu, arqueando uma sobrancelha com um sarcasmo tão afiado que quase cortava o ar entre nós. — Não, meu amor. Estou te dando o privilégio de sair pela porta com alguma dignidade. Porque, se fosse por mim, você sairia jogada no meio da rua.
Meu coração parou por um segundo.
Era como se a presença dele tivesse congelado tudo ao redor.
Frio... Vazio...
Como se eu nunca tivesse sido nada além de um erro administrativo.
— Você mentiu pra mim. — ele deu de ombros, indiferente. — Mas... Parabéns pela atuação. Quase me enganou com aquele olhar de "moça inocente".
— Eu nunca menti sobre o que senti. Nunca sobre o que vivemos... — tentei falar, implorando com os olhos, mas ele me cortou sem sequer piscar.
— Ah, por favor — disse, erguendo a mão, impaciente. — Essa parte melosa da novela a gente pula, tá bom? O que você sente... não me interessa. Pegue suas coisas. Saia da minha casa. Da minha empresa. E, se puder me fazer esse último favor… sem olhar para trás.
Cada sentença caiu sobre mim como um açoite.
A voz dele era calma, quase serena, como se estivesse recitando a lista de compras da semana. Mas dentro de mim… uma guerra sangrava.
Ele estava escolhendo me virar às costas... Escolhendo me apagar da sua vida.
Ah, como isso doía…
O homem que eu amava… me olhava como se tudo que tivemos fosse descartável.
Como se eu… fosse descartável.
E mesmo assim, mesmo depois de tudo, meus olhos ainda procuravam algo nos dele... Talvez um vestígio de dúvida ou até um resto de afeto... Qualquer sinal de que aquilo não era real.
Mas, não havia nada... Nada além de uma escuridão fria e indiferente, que me dizia, sem dizer uma palavra que talvez eu já tivesse perdido muito antes daquele momento.