Drake Colombo
O mundo é mesmo um lugar curioso.
Nunca pensei que veria um dos meus melhores amigos se casar. Thomas Ricci, o maior cafajeste de Nova Iorque, o homem que sempre jurou fidelidade apenas à própria liberdade, trocando as noitadas por uma aliança. Quem diria?
Eu vi acontecer diante dos meus olhos: um soldado caiu.
E, por mais que eu risse disso, no fundo eu sabia, não tinha nada de cômico. Thomas estava feliz. E eu reconheci essa felicidade nele. Doía admitir, mas uma parte de mim ficava feliz também.
Mas quando olhei para mim, a história era outra.
Eu continuo sendo o mesmo homem: sozinho. Não no sentido literal, mulher nunca me falta. Mas sozinho, onde realmente importa. Eu sei disso, mesmo que ninguém perceba.
No casamento, a cada olhar trocado entre os casais, a cada sorriso cúmplice, parecia que o salão inteiro respirava amor. Homens, mulheres, todos rendidos. Quase não havia um solteiro perdido por lá. Quase.
E, no meio de tantos pares perfeitos, lá estava eu: rindo, bebendo, dançando, como se fosse o mais livre de todos. Talvez eu seja. Talvez não.
Sou esse homem: Meus treinos, meu trabalho, meu apartamento vazio e as baladas. Às vezes, vou ver o mar. Nada, além disso.
E nada pode sair do meu controle. Nunca. Eu não permito.
O amor tira o controle, e quem perde o controle, perde tudo. Eu aprendi isso cedo demais.
Para mim, mulheres são apenas boas noites, corpos quentes e risos fáceis. Nunca promessas. Nunca a manhã seguinte. Parece frio? Talvez. Mas é real. Amar, na minha vida, sempre foi sinônimo de dor. E eu não sofro.
Assim que encontro meu carro esportivo, arranco a gravata que me sufoca, abro dois botões da camisa e respiro fundo. Hoje à noite vou para a boate Ricci. O meu território. O meu campo de caça. O lugar perfeito para me lembrar de quem eu sou e de quem eu preciso continuar sendo por todos os dias da minha vida.
Acelero pela cidade com a música alta, o motor rugindo como uma fera indomada, o vento batendo no rosto.
Passo por ruas movimentadas, observo casais de mãos dadas, grupos rindo, vidas simples.
Eles sorriem. Eu também sorrio. Um sorriso curto, quase irônico. É engraçado como um sorriso pode ser a solução temporária para qualquer merda da vida.
E é isso: a minha vida perfeita. Ou, pelo menos, o que eu decidi chamar de perfeita.
Até que tudo muda em segundos.
No semáforo vermelho, estico a mão para trocar a música no painel do carro. Quando levanto os olhos, uma mulher surge na frente do veículo, batendo contra o capô do carro como se fosse dona do veículo. O susto é instantâneo, meu coração dispara, mas não por medo. É instinto, reflexo puro.
Abro a porta do carro e saio com passos firmes, pronto para tirar satisfação, para entender que merda ela pensa que está fazendo.
Só que, no instante em que nossos olhos se encontram, algo em mim vacila. Há algo nela… não sei explicar. Como se por um segundo o mundo tivesse parado.
— Moço, me ajuda! — ela implora, ofegante, a respiração curta, os olhos arregalados como os de um animal acuado.
Por um instante, no meio do caos, ela parece esquecer o medo quando fixa em meu rosto. Seus olhos se prendem aos meus, como se houvesse algo ali, um estranho reconhecimento. É rápido, quase imperceptível. Logo depois, ela volta a se mover, olhando para os lados em desespero, como se fosse caçada por fantasmas invisíveis.
— Me tira daqui, rápido.
A tensão nos olhos dela volta a gritar perigo. Mas antes que eu consiga decidir qualquer coisa, a desgraçada me empurra com força. Sinto o corpo dela passar rente ao meu, o perfume doce e ácido entrando no meu nariz, e em um segundo ela dispara em direção ao meu carro.
— Ei! — rosno, avançando atrás dela.
Bato a porta atrás de mim, mas é tarde demais. Ela já está no banco do motorista. O rugido do motor preenche o ar quando ela pisa fundo no acelerador, arrancando com meu carro como se tivesse nascido para isso.
Por um instante, o mundo fica em silêncio. Só existe o vazio enquanto a vejo sumir com o meu carro.
E então a fúria explode dentro de mim, queimando cada centímetro do meu corpo.
— Maldita… — murmuro, baixo, venenoso, os punhos cerrados.
Ninguém, absolutamente ninguém, mexe no que é meu.
Puxo o celular do bolso do paletó. Rastreador ativado. Em segundos, a tela mostra meu carro rasgando as ruas da cidade.
— Boa sorte tentando me escapar — digo, com um sorriso torto. — Você realmente acha que consegue fugir de mim?
Levanto a mão e sinalizo para um táxi que passa. Entro sem cerimônia, o couro gasto do banco rangendo sob meu peso.
— Siga minhas instruções. Preciso recuperar algo que me pertence — aviso, frio, mas com uma ponta de divertimento.
O motorista me encara pelo retrovisor, suando frio.
— O senhor não deveria chamar a polícia? Isso pode ser perigoso…
Viro-me lentamente, estudando o homem como se ele tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo. O silêncio pesa, sufocante. Então deixo minha voz sair carregada de sarcasmo:
— Dez mil dólares para você calar a boca e dirigir.
Os olhos dele quase saltam das órbitas.
— Quinze — ousa, trêmulo.
Dou um sorriso quase debochado.
— Dez. E é melhor acelerar antes que eu mude de ideia.
Ele engole seco e pisa no acelerador, obediente.
O carro arranca, e sinto a adrenalina queimando dentro de mim. Não é medo. Nunca foi. É raiva… e um prazer sutil em mostrar quem manda. Esta mulher não faz ideia do inferno que acabou de escolher para si.
Porque eu não esqueço um rosto. Nunca.
E, sinceramente, já estou curioso para descobrir quem teve a ousadia de roubar meu carro.
Meus olhos descem para o mapa no celular, acompanhando o rastro que corta a cidade como se fosse um convite direto a mim.
— Quem diabos é você? — murmuro, a mandíbula endurecida, cada músculo alerta.
Mas isso não importa. O que importa é o que já sei: nossas vidas agora estão entrelaçadas.
E eu vou fazê-la se arrepender… fazê-la desejar nunca ter cruzado meu caminho.
Ela vai sair. E vai sair mais rápido do que ousou entrar.
Continua...