Assim que chegamos em minha casa, cada uma perdida em seu próprio silêncio, Emy e eu entramos em meu quarto e tranquei a porta para que ninguém chegasse de surpresa. Me sentei na cama de frente para ela, ambas nervosas.
- Ta legal, eu vou tentar de novo - ela começou a dizer, meio que se preparando psicologicamente - se doer, peça que eu pare - concordei mesmo com medo do que poderia acontecer. Nós resolvemos tentar ir além, deixar a energia toda fluir intensamente, sem interromper como fizemos no shopping.
Respirei fundo e dei as duas mãos para Emy, fechei meus olhos e esperei.
Um formigamento, como raios de energia começaram a correr pelas minhas veias, em todas as partes do meu corpo e der repente flashes rápidos demais para serem acompanhados começaram a surgir.
Olhos negros de um animal peludo, olhos claros de um homem, o sorriso maligno de alguém... correram mais lentamente e então tudo apagou.
- Olá? - chamei, dando uma volta. Percebi que tudo ao meu alcance eram árvores grandes e altas - Alguém? Emilly? Oi? - ouvi o barulho das folhas secas sendo pisoteadas e rapidamente entrei em alerta. Um vulto começou a me rodear entre as árvores e o medo começou a me tomar juntamente com o desespero, o que estava acontecendo? - Quem é? Por que está fazendo isso? O que quer de mim?
- Você... - uma voz grossa, firme, rouca, elevada e grave surgiu. Eu me assustei dando um passo para trás involuntariamente, pisando em um galho o fazendo se partir e fazer um barulho ainda mais assustador.
- Por favor... Não me machuque - senti algo quente escorrer pelo meu rosto, lágrimas... lágrimas de desespero.
- Não posso - senti como se ele estivesse se aproximando de mim, fechei meus olhos e senti quando sua respiração bateu em minhas bochechas, me assustei quando a ponta de dedos frios deslizaram pelo meu pescoço, lentamente...
Tudo foi rápido demais, em um instante a presença sumiu e quando abri meus olhos alguma coisa gigante partiu para cima de mim. Eu congelei sem conseguir ter qualquer reação, em um ato de defesa apenas comecei a repetir - não é real, não é real - tentei encarar o que quer que fosse aquilo, apenas esperando o ataque que nunca chegou.
Outro vulto ainda maior surgiu de não sei onde e derrubou o outro, o chão começou a tremer, eles se enrolavam numa briga como se fossem um único duração.
- Nunca, nunca se aproxime - a voz do outro era ainda mais grave e raivosa, ouvi um choro de cachorro e um dos vultos foi embora, o outro parou e eu finalmente consegui ver o que era. Seus olhos brilhavam tanto que simplesmente me hipnotizaram, eu não conseguia para de olhar, ele parecia um espelho refletindo o meu próprio reflexo.
- Lobo... - sussurrei.
...
Emy soltou minhas mãos e tudo aquilo passou. Ela me encarou com os olhos arregalados. Passei a mão na minha testa, confirmando que estou encharcada de suor. Foi intenso demais, real demais. Como isso aconteceu?
- O que era aquilo? - perguntou, duvidosa. Ela realmente não parecia saber o que era, o que me deixou ainda mais confusa, achei que ela estava vendo tudo o que eu via.
- Você não viu? - respirei fundo, passando as mãos pelos meus cabelos.
- Não consegui, quando se virou para você eu meio que apaguei - Emilly estava tão assustada quanto eu - eu fiquei aqui te chamando um tempo e você não reagiu, me assustou - ela estava ofegante, com suas bochechas avermelhadas. Nunca acreditei nessas coisas, mas o que ela consegue fazer a meu respeito, com toda certeza, não é normal e nunca será. Mas eu ainda não sei explicar o que é e como ela pode...
- Eu... Não deu para ver direito - menti, não quero deixa-lá louca com isso tudo, é muita coisa para processar de uma só vez. A prioridade é descobrir o que tem com a Emy.
- Faz alguma idéia do que seja? - me olhou profundamente. Ela com toda certeza parecia ver minha alma.
- Claro que não - desconversei tentando não parecer tão nervosa quanto realmente estava - Olha só a hora melhor nós nos arrumarmos logo.
Emilly não falou mais nada sobre o assunto, resolveu se animar e tentar me animar um pouco mais , então acabou por se arrumar comigo na minha casa, ela fez minha maquiagem e também fez alguns cachos nas pontas de meus cabelos.
Coloquei o vestido e um All Star preto, mas minha mãe e Emy se juntaram em manifestação e me fizeram tirar para colocar um salto prateado, que eu tenho que admitir que é muito bonito, mas precisava ser tão desconfortável?
Andrew me mandou trezentas mensagens querendo saber a cor do vestido para poder colocar uma gravata da mesma cor, ele insistiu tanto que eu achei fofo e contei a ele a cor.
Lucky (o par de Emilly) chegou cedo e eles foram na frente.
Alguns minutos depois Andrew chegou, super fofo com uma rosa branca na mão.
- Você está linda - sorriu e me deu um selinho, me entregando a rosa branca.
- E você não está nada m*l - sorri e ele fez careta.
- My lady? - ofereceu o braço em um gesto exagerado me arrancando risadas.
- Vamos antes que minha mãe venha tirar fotos - sussurrei - tchau mãe! - gritei, mas não obtive resposta, então considerei de que ela ouvirá, e se não iria me ligar.
Todos já pareciam ter chegado e já estavam bem animadinhos, muitos dançavam no salão, outros ficavam entediados nas mesas e também tem os que ficam se agarrando pelos cantos achando que ninguém está vendo, ou simplesmente não se importando com esse detalhe.
- Me concede a última dança? - Andrew me estendeu a mão e eu ergui uma sobrancelha.
- Que é? Estão todos querendo me m***r agora? - ele me olhou com os olhos arregalados e assustado - não é como se eu nunca mais fosse dançar na vida - dei meu braço a ele. Andrew suspirou aliviado o que de fato me deixou intrigada e confusa, como se ele realmente tivesse considerado o que eu disse. Porquê ele agiu como se eu estivesse falando algo muito sério?
- Está nervoso? - perguntei, enquanto balançava com suas mãos em minha cintura no ritmo da música.
- Como não estaria? Estou dançando com a garota mais linda de todo o baile - ele beijou a ponta do meu nariz e sorriu, mas eu sabia que algo não estava certo - você deixou a cinderela no chinelo com esse vestido - nós rimos.
- Quem me dera - apoiei minha cabeça em seu ombro - mamãe está estranha, Emys acha que ela está preocupada com nosso futuro.
- Provavelmente - senti seus músculos ficarem tensos com o assunto.
- Onde acha que estaremos em dez anos? - voltei a olhar em seus olhos, mas vi uma sombra de preocupação correrem por eles, Andrew encarava um ponto específico atrás de mim. Olhei na mesma direção, mas não vi nada.
- Eu não sei, casados talvez? - ergui a sobrancelha.
- É um pedido? Pq se foi, não foi muito romântico - nós dois rimos e continuamos dançando, como se eu realmente não tivesse percebido o quanto ele está nervoso e inquieto está noite.
Nós dançamos as três últimas músicas seguidas e depois fomos descansar só para levantar de novo, ir dançar e brincar com nossos colegas de ensino médio.
Foi um bom baile, muita diversão e risada com os formandos. Nisso mamãe tinha razão, eu não poderia deixar de vir, me arrependeria por isso.