Sentada diante do médico, após um dia cheio de m*l-estar e várias sessões de soro com medicamentos administrados diretamente na veia, eu me sentia exausta, mas ansiosa pelos resultados dos meus exames. Ao meu lado, pobre Bruna, que sacrificou um dia inteiro de trabalho para estar comigo. Sua expressão misturava preocupação com cansaço, um reflexo do longo dia que tivemos.
O médico, com sua postura tranquila, folheava os papéis antes de nos dirigir a palavra. Eu tentava ler em seu rosto alguma pista, mas sua expressão profissional não revelava nada. O silêncio antes de ele falar parecia estender-se eternamente, carregado de tensão.
Finalmente, quando ele começou a falar, cada palavra parecia um peso, caindo sobre mim como pedras em um poço sem fundo. Eu sabia que a vida podia ser dura, sempre ouvi dizer que "quando tudo está r**m, não tem como piorar", mas as palavras do médico desafiavam esse ditado. A realidade que se apresentava diante de mim era um teste à minha força, um desafio que me fazia querer desistir de tudo e me render às adversidades.
— O quê, grávida?! — Minha voz saiu mais como um sussurro assustado do que uma pergunta, após ouvir do médico que os resultados dos meus exames apontavam para uma gravidez. A ideia parecia surreal, um erro colossal. "Isso é impossível, eu não... Droga, o que fiz..." Meus pensamentos estavam em turbilhão, culpando-me, questionando-me. — Não, isso não pode estar certo, doutor, o senhor deve estar enganado. Por favor, diga que isso é algum tipo de erro — implorei, olhando fixamente para ele, buscando em seu rosto algum sinal de que estava brincando. Mas lá estava ele, imóvel, sua expressão profissional e distante, um reflexo de sua posição neutra em meu caos pessoal.
— Esse é o seu diagnóstico, Isabella — ele repetiu, sua voz firme, sem deixar margem para dúvidas.
— Não, não pode ser. Bruna, me diz que ouvi errado — vir-me-ei para minha amiga, buscando nela alguma negação, algum consolo.
— Isa, eu sei que está assustada, mas todos os seus sintomas... nós fomos idiotas por não considerar essa possibilidade antes — Bruna falou, sua voz cheia de simpatia, mas também de realismo. Ela tentava ser o apoio de que eu precisava, mesmo que a verdade fosse difícil de aceitar.
— Mas eu menstruei, como pode isso acontecer? Não pode ser — continuei, minha mente se agarrando a qualquer detalhe que pudesse desmentir a realidade. A confusão, o medo, a incredulidade; tudo se misturava, formando uma tempestade de emoções dentro de mim. Não estava pronta para isso, não podia ser verdade.
— Isabella, em alguns casos, a mulher pode continuar tendo sangramentos que são confundidos com o ciclo menstrual normal — explicou o médico, tentando esclarecer a confusão, mas suas palavras apenas afundaram meu coração ainda mais.
— Meu Deus, o que eu fiz — murmurei, abaixando a cabeça, um turbilhão de emoções me envolvendo. Sentia-me totalmente desnorteada, perdida em pensamentos sobre o futuro incerto que se desdobrava diante de mim. A história da minha mãe, que sempre temi repetir, parecia agora ser a minha própria história: tornar-me mãe tão jovem e completamente despreparada.
Ao meu lado, Bruna, sempre a amiga atenciosa, tentava encontrar as palavras certas para confortar-me, embora ela já soubesse todas as respostas às perguntas que hesitava em fazer.
— Quem foi o último? — perguntou Bruna, mesmo sabendo a resposta, sua voz suave, mas carregada de preocupação.
A pergunta fez com que a realidade da situação se tornasse ainda mais palpável.
— Não estive com mais ninguém.
— Pu'ta mer'da, amiga, logo o Heitor — Bruna exclamou com um suspiro, enquanto dirigia de volta para minha casa.
— Eu sou tão irresponsável, como pude deixar isso acontecer? E pelo visto, não nos prevenimos, que raiva! — Exclamei, batendo as mãos na testa em um gesto de frustração profunda. A revolta comigo mesma era avassaladora. Era impossível acreditar que estava grávida, especialmente porque ma'l conseguia lembrar os detalhes daquela noite.
— Amiga, não se martirize assim. Estou aqui para o que você precisar, vamos enfrentar isso juntas — Bruna afirmou, oferecendo-me um olhar de apoio incondicional.
— Eu preciso falar com o Heitor, ele tem que saber. Preciso do número dele. E a Jaque... Meu Deus, como vou contar isso para ela? Como vou dizer que estou grávida do cara com quem ela está? Que tragédia! — As palavras saíam da minha boca em um turbilhão, enquanto a realidade da situação começava a pesar ainda mais. A ideia de enfrentar Jaque e revelar a verdade me enchia de um pavor indescritível.
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Bruna e eu fizemos uma parada rápida numa lanchonete local; meu estômago não suportava muita coisa, então acabei optando apenas por um suco de maracujá, buscando algo que acalmasse minha ansiedade e m*l-estar. Bruna, sempre atenciosa, comprou algumas opções de lanches, pensando que eu pudesse sentir fome mais tarde, e me acompanhou até em casa.
Bruna partiu para a sua casa, tentaria trabalhar na madrugada. Assim que entrei no quintal, uma cena inusitada me chamou a atenção: Senhora Lucinda, uma das proprietárias da casa onde moro, estava no quintal, curiosamente bisbilhotando pelas janelas dos quartos. Ela e sua namorada são as donas do lugar, mas nunca haviam invadido nossa privacidade desse modo. Aproximei-me com cautela, meu coração batendo um pouco mais forte pela surpresa e pela invasão de privacidade. Ela, claramente, não tinha o direito de estar ali inspecionando como se fosse uma inspetora, especialmente sem nem possuir uma chave da casa.
— Senhora Lucinda? — chamei com uma voz firme, porém controlada, querendo entender o que exatamente estava acontecendo, mas tentando manter a diplomacia. Eu não queria conflitos, mas precisava estabelecer limites claros sobre nossa privacidade e espaço.
Assim que nossos olhares se cruzaram, não pude evitar o questionamento:
— Boa noite, a senhora pulou o muro? — perguntei, o cansaço da minha voz se misturando ao medo de confrontar uma mulher que mais parecia uma fortaleza ambulante, com seus músculos imponentes.
— Onde está a Jaqueline? — Sua voz grossa e autoritária fez com que hesitasse por instantes, um frio percorrendo minha espinha.
— Ela viajou, não está aqui — respondi, tentando manter a calma. Abri a porta da sala lentamente e coloquei minha bolsa sobre a mesa. Para minha surpresa e desagrado, a senhora Lucinda adentrou a casa sem ser convidada, começando a vasculhar o ambiente como se buscasse algo. A presença dela sempre me deixava desconfortável; a aura intimidadora que a envolvia me impedia de discutir ou exigir explicações sobre sua invasão abrupta. E não podia negar: eu tinha um receio profundo daquela mulher, cuja presença sempre me pareceu, de certa forma, sinistra. — O que a senhora está procurando? — consegui perguntar, tentando manter um tom de voz firme, embora por dentro estivesse lutando para não demonstrar a rudeza ou o pavor que sentia.
— Notei que estão com alguns móveis novos, uma televisão grande, novinha, e um sofá retrátil. Parecem estar vivendo bem — comentou Senhora Lucinda, lançando um olhar astuto sobre os itens recém-adquiridos.
— A Jaque comprou tudo semana passada — expliquei, tentando desviar do assunto principal e aliviar a tensão crescente.
— Ela deixou meu dinheiro com você ou será que usou a minha grana para comprar tudo isso? — Ela deu um passo à frente, invadindo meu espaço pessoal com uma presença ainda mais ameaçadora.
— Você está falando do aluguel? Mas só vence na próxima semana, até lá a Jaque já deve ter voltado — respondi rapidamente, tentando manter a calma, apesar de sentir o aumento da pressão conforme ela se aproximava.
— Não estou falando do aluguel. Eu quero o dinheiro do investimento. Era para ela ter me dado o primeiro pagamento dias atrás. Investi 15 mil e ela me prometeu 30 de retorno — afirmou a mulher, encurralando-me contra a parede e agarrando minha blusa. A tensão no ar se tornou quase palpável, e eu lutei para manter a compostura.
— Eu... só estou por dentro do aluguel. Mas posso tentar arranjar metade do aluguel até o fim de semana... Vou ver se consigo algum trabalho extra — propus, a voz um pouco trêmula, buscando desesperadamente uma solução pacífica para aquela situação intimidadora.
— Eu quero os meus 30 mil prometidos, sua sonsa. O que é um aluguel de 1500 perto da grana que eu investi? — ela exigiu, o tom de sua voz subindo em intensidade.
— Eu realmente não sei do que a senhora está falando — respondi, tentando manter a calma apesar do medo crescente dentro de mim.
— Se a sua prima não aparecer, você vai pagar pelos erros dela. Eu e minha mulher vamos nos divertir com você, e só para te alertar tem mais gente atrás da grana investida com a Jaqueline, sua cara de sonsa não me engana, eu vou até o inferno pela minha grana — ameaçou, as palavras dela me gelando até a alma.
— Por favor, eu acabei de descobrir que estou grávida. Eu não tenho nada a ver com os investimentos da Jaque — implorei, a voz trêmula, na esperança de que a minha vulnerabilidade recém-descoberta pudesse apelar para alguma fagulha de compaixão dentro dela.
— Tanto faz, grávida ou não, você vai me pagar essa grana, ou vai acabar se tornando minha escrava — ela me soltou bruscamente me jogando contra a parede, interrompendo qualquer tentativa minha de falar. Então, com um gesto violento, virou a mesa da sala, quebrando os itens em cima dela. Entre os destroços, estava o retrato da minha mãe e das minhas irmãs. Ela pegou a foto do chão, me olhou com raiva e amassou-a enquanto me lançava um olhar carregado de ira. Lágrimas brotaram dos meus olhos ao testemunhar a única lembrança da minha família sendo destruída.
A mulher saiu então, batendo a porta com força atrás de si.
— Nem pense em sair daqui, sonsinha — ela gritou do quintal. Respirei fundo, tentando recuperar a calma, engoli em seco enquanto a realidade da minha situação começava a se assentar. Sabia que tinha que deixar aquele lugar imediatamente. Já havia passado por situações semelhantes antes, e as memórias eram amargas. Mas agora, a incerteza do próximo passo me paralisava; não sabia para onde ir, especialmente em minha condição atual.