3 - Apaixonado

1095 Words
Alexandre seria exatamente o tipo de cara por quem eu me apaixonaria fácil… mas, (já repararam como sempre tem um “mas”?) eu não poderia, não queria de jeito nenhum me apaixonar novamente. Relacionamento sério eu só tive um em toda minha vida, agradeço todos os dias por ter conhecido Allan e Bruno que me mostraram as maravilhas de uma vida de solteiro. Um dos melhores conselhos da minha vida recebi de Allan, na época eu tinha acabado de terminar o relacionamento e estava chorando as pitangas, fui traído, enganado e definitivamente essas coisas não fazem o meu tipo. Lembro que ele me disse: Porque você não faz que nem eu? Fica com vários ao mesmo tempo, sem nenhum sentimento? Talvez ele tenha sido um pouco escroto, mas foi o melhor conselho que recebi na minha vida. E Alexandre se mostrava pra mim um tipo muito complicado, ele era, sem dúvidas, m*l resolvido sexualmente. Voltando a história, era quarta-feira e eu tinha acabado de chegar da faculdade, ele não ficaria de Salva-vidas nesse dia e disse que me levaria no seu lugar preferido. Já imaginava vários lugares que sem dúvidas eu odiaria, mas sabe como são as coisas, né? Não devemos criar expectativas, e ele me surpreendeu, me levou em um lugar que até hoje eu visito às vezes, um lugar que me deixou com meu emocional abaladíssimo. Não é pra menos, um centro de cuida de crianças com HIV, lá ele parecia bem íntimos de todas as crianças que era um total de 35, ele me contou a história de todas elas, e quando saí estava destruído. —Como você pôde fazer isso comigo? – perguntei enquanto andávamos pela rua – não podia ter me dito antes pra eu me preparar emocionalmente? —Que graça teria? – respondeu rindo – mas, sem dúvidas, é emocionante e triste também… Todas essas crianças… Na primeira vez chorei muito – ele se sentou num banco de uma praça que tinha ali perto e me convidou a fazer o mesmo – Sabe, às vezes, achamos que temos todos os problemas do mundo, que a vida é uma d***a, mas quando paramos pra olhar em volta vemos que nossos problemas são banais, comparados aos de outras pessoas. —Fico feliz que tenha me trazido aqui. – falei acendendo um cigarro – Hoje você me mostrou que apesar de ser um b****a, narcisista e m*l resolvido com a sexualidade… – ele riu e sua risada era gostosa e contagiante – Sabe ser humanitário, atencioso, generoso, você é uma ótima pessoa, Alê! —Até pra elogiar você tem que ser escroto, não? —Não seria eu se não fosse! —Vem vamos tomar sorvete! – disse tomando meu cigarro e jogando no chão. —Você vai pagar! – disse me levantando. —Ok, seu mão de vaca! – disse me fazendo rir e logo em seguida sem eu esperar me colocou no ombro e saiu correndo atraindo olhares de várias pessoas na rua. Cheguei em casa maravilhosamente feliz e obvio que meus pais perceberiam. —Aposto que essa alegria toda é por causa daquele cara – disse meu pai. —Não tenha dúvidas! – disse deitando e colocando a cabeça em seu colo. —É bom que você comece a namorar. – disse minha mãe da cozinha – Assim larga essa vida de p**a! —A senhora não me arrase! —Tenho que concordar com ela. – disse meu irmão Murilo descendo as escadas. —Ninguém pediu sua opinião, enrustida. – falei me levantando e abraçando ele. Subi para o meu quarto e não consegui dormir, fiquei pensando no Alexandre boa parte da noite, e foi nesse dia que eu percebi: Eu estava Apaixonado. Por Alexandre Eu estava apaixonado, isso era fato, apesar da minha insistência em dizer que era hétero, eu nunca fui, sempre gay, e quando eu vi o Math tive a necessidade de me aproximar dele, eu precisava ter algum contato, como se a minha alma estivesse ligada a dele. Eu não posso me deixar levar por esse sentimento, não na minha condição, não carregando essa doença, e se quando ele descobrisse me rejeitasse? Acho que não suportaria mais uma perda. Todas as vezes que estávamos juntos sempre reparava nele, no quão lindo ele é, maravilhoso, altruísta, e de personalidade forte. Tudo me encantava nele, desde um simples sorriso a um abraço. DROGA! Não posso continuar com esses pensamentos, não mesmo... -Alô? - me despertei dos devaneios com meu celular tocando. -Oi meu filho, como está? - disse meu pai e parecia muito alegre. -Estou bem pai, com saudades... -E a doença filho? - perguntou e ouvi minha mãe falando alguma coisa com ele do outro lado e logo depois ouvi a voz dela - Você tá tomando os remédios? Tem se alimentado? Tem ido ao médico? Ela ficou fazendo várias perguntas, coisa de mãe, agradeço a Deus pelos pais que eu tenho, o grande apoio que recebi quando descobri que tinha HIV, 7 anos desde que fui embora dos Estados Unidos e eles nunca deixaram de me ligar pelo menos duas vezes ao dia, e sempre preocupados, vir pro Brasil foi uma decisão minha, não poderia continuar morando lá e recebendo olhares tortos de todo mundo, pessoas que eu considerava meus amigos, a rejeição é muito c***l. -ALEXANDRE?! TÁ ME OUVINDO? - gritou minha mãe do outro lado. -To mãe, desculpa. Sim, fiz tudo isso. - tomei coragem e falei - Acho que estou apaixonado! Fez-se silêncio do outro lado e ouvi minha mãe falando com meu pai: -Ele disse que está apaixonado... Como vou saber por quem é... Mas veja... Eu não sei se eles já transaram Cassio... Aff! - eu estava rindo e podia ver perfeitamente minha mãe revirando os olhos na minha mente - Alexandre, explica isso melhor! -Só estou apaixonado, ainda não sei direito, mas definitivamente tenho sentimentos por ele e ele ainda não sabe, acho que sente o mesmo... -Isso é maravilhoso... -Não, não é! - disse nervoso - e quando ele souber que tenho HIV? Não vou suportar ser abandonado novamente, não por ele... - disse a última parte num sussurro. -Mas como você sabe que ele vai te abandonar? Você tem que se arriscar, não pode ficar sofrendo antecipadamente. - disse minha mãe firme - Você tem que se permitir amar e ser amado, Alê. -Eu sei, mas... - eu não sabia oque falar, minha mãe tinha razão, eu precisava me permitir amar e arriscar - A senhora tem razão! A ligação só se encerrou depois de mais 20 minutos de conselhos do meu pai, e depois de muitos "Eu te amo". Assim que desliguei a ligação, o celular voltou a tocar, e quando olhei pra tela, meu coração acelerou, comecei a suar frio e, pra completar, não tive coragem de atender o Math. Eu preciso pensar.
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