📍 NARRADO POR DANIEL VASCONCELOS A viela era a mesma de sempre, mas parece que muda todo dia. Não porque a pedra ou o cimento se movem, mas porque a gente volta diferente de cada missão. Eu subia no automático, mas cada passo carregava peso: motor ainda martelando na cabeça, cheiro de pólvora grudado na roupa, gosto amargo de cigarro barato preso na boca. Três becos. Um cachorro que late sem força. A escada quebrada que já me viu cair correndo quando era moleque. O corrimão torto que segura todo mundo, menos quem acha que não precisa dele. Até chegar na porta de ferro, velha companheira, que chiava como sempre quando a chave rodava. Antes de empurrar, parei. O som vazava do outro lado. Panela batendo, água borbulhando, talher batendo leve na pia. Um cheiro de alho e cebola fritando que

