📍 NARRADO POR DANIEL VASCONCELOS — “Eu já tomei banho.” — ela resmungou, puxando a cadeira com força antes de sentar. A toalha ainda presa no corpo, o cabelo molhando a nuca. — “E tô assim porque quis cozinhar pra você antes de me arrumar. Ingrato.” — “É…” — encostei o prato, puxei o garfo sem pressa. — “Valeu, cozinheira.” O ar ficou pesado, mas não desconfortável. Só silêncio. O tipo de silêncio que tem som: o prato batendo leve, o barulho da panela ainda quente na boca do fogão, a novela falando sozinha na sala. O macarrão tava bom. Textura certa, sal que eu corrigi na mão, molho simples. Tomate socado, alho queimado no ponto, folha de louro perdida. Gosto que veio da nossa mãe, passou de mão em mão até chegar na gente. Ela começou dura, mastigando de nariz empinado, mas a cada gar

