A APOSTA MILIONÁRIA

Arrependimentos (ou quase)

O silêncio pairava no refeitório após a saída abrupta de Patrick.

Harry e Louis ficaram por alguns instantes sem palavras, trocando olhares cúmplices e desconfortáveis.

Foi Harry quem quebrou o silêncio, soltando um suspiro:

— Cara… dessa vez a gente foi longe demais.

Louis coçou a nuca, visivelmente incomodado.

— É, você tem razão. Foi pesado. A gente pegou no ponto errado. Não devíamos ter feito isso, ainda mais na frente do Patrick.

Nesse momento, Cindy — a Barbie do 7 Além — bufou, revirando os olhos e soltando seu veneno:

— Eu não sei pra que tanta comoção. Apostar um milhão nessa… nessa inútil? Nesse barril de banha? Francamente, vocês perderam o juízo. Um milhão? Essa mulher não vale nem um centavo!

Harry virou-se para ela com um sorriso malicioso e provocador.

— Ah, tá com inveja, né, Barbie? — disse ele, o tom carregado de sarcasmo. — Porque enquanto ela tem fartura… tem cintura, tem perna, tem b***a, tem peito… você não tem nada. E aposto que esse pouquinho aí que você tem é tudo falso. Um peitinho desses, deve ser mais plástico do que qualquer coisa.

Louis não conteve a risada.

— É, Barbie… você tá com recalque. Porque ali é mulher de verdade. Mulher que chama atenção sem nem tentar. E vou te dizer: depois que o Harry me falou as qualidades dela… rapaz, vale a pena. É uma mulher que, se der chance, eu até levo a sério.

Harry balançou a cabeça afirmativamente.

— Eu também. Se ela me desse uma oportunidade, uma mulher daquela eu levava a sério, sem pensar duas vezes.

Louis respirou fundo.

— Mas olha… a gente tem que tomar cuidado. A gente realmente pegou pesado. Vamos parar com essas brincadeiras, principalmente perto do Patrick. Você sabe como ele é. E ele tem razão. A gente faltou com respeito, e não só com uma funcionária — com a filha do Francisco. O Francisco viu a gente crescer, cara. Não dá pra fazer isso.

Harry passou a mão no rosto, como quem tentava afastar o peso da consciência.

— Pô, cara, foi m*l mesmo. A gente não pode magoar o Francisco. O velho é gente boa demais. Eu vou ficar na minha. Mas vou te dizer… eu ainda quero conhecer aquela moça melhor. Sem brincadeira. Sem aposta. Se for pra investir, que seja de verdade.

Enquanto isso, Cindy continuava resmungando baixinho, amarga.

— Vocês são dois idiotas… — murmurava ela, cruzando os braços. — Barril de banha… mulher feia… um milhão… só i****a mesmo.

Harry deu um sorriso torto, provocador.

— Continua aí com tua inveja, Barbie. Vai te fazer bem.

Louis olhou para o prato do Patrick, ainda intocado.

— E o Patrick nem almoçou… foi embora com raiva. A gente tem que se cuidar, cara. Ele tá por aqui com a gente. Vamos maneirar.

Harry assentiu.

— É isso. Vamos focar no que interessa.

Mas, no fundo, ambos sabiam que o interesse verdadeiro acabava de nascer — e tinha nome e corpo: Lana.

Após a conversa desconfortável, Harry e Louis voltaram aos seus pratos, cada um refletindo sobre o que havia acontecido.

Harry suspirou, quebrando o silêncio:

— Sabe… fomos longe demais. Não devíamos ter feito aquilo.

Louis assentiu com expressão séria.

— Concordo. Foi pesado. E ainda na frente do Patrick. Ele tem razão de estar indignado.

Cindy — ainda furiosa — cruzou os braços e bufou:

— Não sei por que tanto drama. Apostar um milhão nessa… nesse barril de banha? Vocês estão loucos. Ela não vale nada.

Harry a olhou com um meio sorriso de provocação.

— Está com inveja, Cindy. É isso. Enquanto ela tem curvas, tem cintura, tem pernas, tem corpo… você só exibe magreza e arrogância. E, sinceramente, duvido que essa sua aparência seja toda natural.

Louis acrescentou, com voz tranquila:

— E, além de tudo, ela é uma mulher bonita de verdade. Isso é o que você não suporta.

Cindy se exaltou:

— O que é que você está dizendo?

Harry sorriu ainda mais.

— Barbie do 7 Além.

Ela franziu o cenho.

— Barbie do… do quê?

Louis deu um leve riso.

— Procure saber. Mas o apelido caiu bem.

Harry finalizou, com um tom firme:

— Vá cuidar da sua vida. Nós vamos cuidar da nossa.

Cindy levantou-se, bufando, e saiu do refeitório com passos duros.

Harry respirou fundo.

— Precisamos consertar isso com o Patrick. Não dá para deixar assim.

Louis concordou.

— Vamos levar um lanche para ele. E pedir desculpas. Não só por ele, mas também por respeito ao Francisco e à filha dele.

Pouco depois, com um prato cuidadosamente montado e uma bandeja de lanche, os dois seguiram até o escritório do Patrick. As secretárias ainda não haviam retornado do almoço.

Harry bateu levemente à porta.

— Patrick… podemos entrar?

A voz firme do amigo respondeu lá de dentro:

— Entrem.

Os dois abriram a porta devagar e entraram com o semblante sério.

Harry foi o primeiro a falar:

— Patrick, trouxemos um lanche para você. Sabemos que você não almoçou. E… também viemos pedir desculpas.

Louis completou:

— Fomos irresponsáveis. Não deveríamos ter feito aquela brincadeira. Não só foi desrespeitoso com a moça, mas também com o Francisco. Não queremos magoar ninguém, muito menos desrespeitar alguém que sempre nos tratou com tanto carinho.

Patrick os observou em silêncio por um instante, depois falou com voz firme:

— Fico satisfeito que tenham vindo. Quero que entendam: aqui, todos os funcionários merecem respeito. Independentemente do cargo ou da aparência física. Francisco é um homem honrado, que praticamente viu vocês crescerem. E a filha dele, além de ser uma jovem trabalhadora e educada, merece o mesmo respeito que qualquer outra pessoa aqui dentro. Espero que isso não se repita.

Harry assentiu.

— Tem razão, Patrick. Nós erramos. E posso garantir que isso não vai mais acontecer.

Louis completou:

— De agora em diante, vamos respeitar. Não queremos magoar nem o Francisco, nem a moça.

Patrick olhou para ambos, então soltou um leve suspiro.

— Fico satisfeito em ouvir isso. Agora vão… e pensem bem antes de repetir esse tipo de atitude.

— Pode deixar, Patrick. — responderam os dois quase em uníssono, antes de deixarem o escritório em silêncio.

E, no fundo, cada um sabia que aquele pedido de desculpas não seria o fim daquela história… mas apenas o começo de algo muito maior.