A segunda-feira amanheceu com o céu cinza, como se o próprio tempo tivesse pressentido que algo viria para tumultuar o sossego da empresa.
Na recepção da PowerTech Motors, tudo parecia normal — até que o salto nervoso de Brittany Drew ecoou no mármore, fazendo a recepcionista erguer os olhos com cautela.
— Senhorita Brittany... o senhor Patrick não está disponível agora. Ele está em reunião.
— Me poupe, querida. Eu sou praticamente da família. Ele vai me atender sim. — ela rebateu, com o tom venenoso já costumeiro.
Sem pedir permissão, Brittany disparou rumo ao elevador. A recepcionista, apavorada, tentou ligar para o andar executivo, mas era tarde demais. A tempestade já havia subido.
No décimo andar, Lana saía da sala de reuniões com uma pasta em mãos, o anel discreto mas brilhante reluzindo em seu dedo anelar. Harry e Louis comentavam algo entre sorrisos quando a porta do elevador se abriu de repente.
— QUE PALHAÇADA É ESSA?!
Todos congelaram, pararam.
A recepcionista ficou em choque. Lana estacou.
— Isso é uma vergonha! — Brittany continuou, apontando para a mão de Lana. — Você está noiva dele?! Noiva?! Depois de tudo?!
Lana arregalou os olhos, assustada. Louis imediatamente ficou ao seu lado. Harry, com os braços cruzados, só observava.
— Você não vai estragar isso aqui, Brittany — disse ele, firme.
— Você cala a boca, Harry! Você sempre foi um inútil do lado dele! — ela disparou, furiosa. — E você, Lana, acha que vai ter um final feliz? Acha mesmo?
Patrick, que já havia notado o tumulto da porta do elevador, se aproximou com passos decididos. Seu olhar era puro gelo.
— Lana, Harry… entrem agora. Louis, me dá um minuto com ela.
Lana obedeceu, ainda em choque, puxada levemente por Harry. Brittany tentou avançar, mas Louis se colocou entre eles.
— Você não vai fazer barraco aqui. Não hoje — disse ele, ríspido.
Patrick, então, ficou frente a frente com Brittany.
— Eu te avisei. A partir deste momento, você está proibida de entrar em qualquer sede da PowerTech. E se tentar novamente, será conduzida pela polícia. Eu não tolero ameaça nem escândalo. Isso aqui é uma empresa, não o palco das suas frustrações.
— Você vai se arrepender de ter me trocado por ela! — Brittany cuspiu as palavras com veneno.
— Eu me arrependo, sim. De um dia ter te permitido cruzar a porta da minha vida.
A segurança já havia sido acionada. Brittany, ainda resmungando, foi escoltada para fora do prédio. Lá fora, ligou para a mãe, para o advogado, para todos que pudessem ouvir suas lamúrias. Mas ali dentro… a PowerTech já havia virado a página.
— Você?! — Brittany cuspiu a palavra, os olhos fixos no anel de Lana como se fosse ácido.
— Bom dia, Brittany. — Lana respondeu com firmeza, sem abaixar o olhar.
— Vocês acham mesmo que vão ficar felizes? Vocês acham que vão ter um final de conto de fadas?! Eu vou acabar com isso! Você não é mulher pra ele, garota!
Patrick surgiu na porta de vidro de sua sala naquele momento, o olhar gelado, os ombros retos.
— Lana, por favor, entra e feche a porta. Brittany... entre agora na minha sala. Será sua última vez aqui.
Lana hesitou por um instante, mas obedeceu. Ao passar por Brittany, não disse uma palavra — e isso doeu mais do que qualquer insulto.
A porta se fechou com firmeza. Brittany sentou-se sem ser convidada, como se ainda tivesse algum direito.
— Você enlouqueceu, Patrick? Vai se casar com aquela... aquela intrusa? Uma assistentezinha sem pedigree?
— Vai com calma, Brittany. Eu te respeitei por muito tempo. Mas o respeito acabou quando você se envolveu com Richard dentro da minha empresa. — ele falou, a voz firme como aço.
— Você não ia me dar atenção, Patrick! Eu só fiz isso pra te provocar! E agora você vai se unir a ela?! Eu te amava!
— Não me ama, Brittany. Você ama o poder, o status, a pose. Amor é o que eu tenho pela Lana. E eu vou me casar com ela. — Ele ergueu o queixo com decisão. — Você está proibida de entrar nesta empresa a partir de hoje. Qualquer tentativa será respondida judicialmente.
— Você não pode fazer isso! Eu sou filha de um dos principais acionistas!
— Seu pai vendeu as ações. E ele não pisa mais aqui desde que decidiu colocar a própria filha acima da moral. Você não tem mais nenhum vínculo com esta empresa.
Patrick manteve o olhar fixo nela até ela recolher sua bolsa de grife e sair bufando, os olhos ardendo de raiva. Mas agora, sua fúria já não causava medo.
Minutos depois...
Lana voltou à sala, com o coração acelerado.
— Você está bem? — ela perguntou, olhando nos olhos dele.
— Melhor do que nunca. — Ele sorriu e se aproximou, pegando sua mão e acariciando o anel. — Hoje foi só o primeiro teste. E você passou com louvor. A Brittany não sabe, mas ela nos uniu ainda mais.
Ela sorriu com emoção nos olhos, e ele a puxou para um beijo rápido, mas cheio de promessas.
— Não vou permitir que ninguém te machuque, Lana. Nem no passado, nem no presente.
Ela assentiu com um sorriso discreto. Os dois sabiam que a segunda-feira m*l tinha começado, e que o dia prometia tensão. Mas havia algo novo entre eles: uma aliança silenciosa, inabalável, construída entre a dor e a coragem.
Patrick se aproximou da janela, observando o movimento da cidade lá embaixo, e completou:
— Ah, e a imprensa... já está sabendo do noivado. Mas não se preocupe, nossa assessoria está cuidando de tudo. A narrativa será limpa. Quem sujou foi ela — e ela que arque com as consequências.
Lana respirou fundo e sentou-se à frente da mesa dele.
— Então... vamos trabalhar?
Patrick sorriu de leve, dessa vez mais calmo.
— Vamos. Mas depois do expediente, você me deve uma dança pela paciência que está tendo comigo.
Ela riu com os olhos. — Uma dança... e talvez um beijo.
Patrick inclinou a cabeça.
— Uma promessa então.
No elevador, Brittany apertava os botões com força.
Odiada, humilhada, expulsa.
Mas em sua mente, o jogo não tinha terminado.
— Se é guerra que eles querem... vão ter. — murmurou com os olhos vermelhos, o ego ferido e a alma ainda mais venenosa.
A Fúria da Ex Falida
Brittany saiu da PowerTech com passos apressados, o salto estalando contra o chão de mármore como tiros de indignação. Mas cada passo ecoava mais vazio que o anterior. Pela primeira vez na vida, ela não tinha para onde correr.
Do lado de fora, o sol já ardia no céu de Boston, mas tudo parecia sombrio para ela. Pegou o celular da bolsa como quem saca uma arma — ligou para um dos amigos influentes do passado.
— Não posso ajudar, Brittany. Tua família não tem mais peso. E, sinceramente, depois do escândalo com o Hamilton... é melhor você ficar fora dos holofotes por um tempo. — disse uma voz masculina, seca do outro lado da linha.
Ela desligou sem se despedir. O segundo número também caiu na caixa postal. O terceiro atendeu, mas a voz feminina foi ainda mais c***l:
— Você virou assunto de corredor, Britt. Aquele vídeo com o Richard visualizou no meio corporativo. Ninguém vai querer se associar a você agora. Me desculpa, mas você cavou essa cova sozinha.
O celular escorregou da mão dela, mas ela o segurou antes que caísse. Apertou com tanta força que os dedos ficaram brancos. Engoliu o orgulho e se encostou num dos pilares do prédio. A mente dela girava como um redemoinho.
— Não pode ser... — murmurou com os olhos úmidos. — Eles não vão sair impunes... não vão...
Horas depois, sozinha no apartamento simples que herdara do pai falecido, Brittany jogou a bolsa no sofá e desabou. Tirou os saltos, afrouxou a blusa justa, e encarou o reflexo no espelho da sala.
— Quem é você agora, hein? — perguntou à própria imagem, com voz falha. — Sem cargos, sem dinheiro, sem aliados...
A mãe apareceu pela porta da cozinha, de avental, visivelmente cansada.
— Trouxe alguma coisa pra casa, Brittany?
— Não, mãe. — respondeu, amarga. — Nem orgulho.
A mulher suspirou, sem dizer nada. Estavam vivendo de favores de uma tia distante, e o pouco que ainda estavam acabando. Brittany havia prometido que conseguiria voltar à elitte... mas agora estava ali, humilhada e desmascarada.