Convite

1376 Words
Lana voltou do toalete com o coração disparado. Ainda se recuperava da conversa animada com as meninas e do turbilhão que os convites causaram dentro dela. Ela respirou fundo antes de entrar na sala e se recompôs. Patrick já estava novamente sentado, parecendo menos tenso — mas só por fora. — Doutor Patrick... o senhor deseja mais alguma coisa antes de eu ir? Ele a encarou por um segundo a mais do que deveria. A forma como ela o tratava com tanto respeito, tanto cuidado... aquilo mexia com ele de um jeito que nenhuma mulher jamais havia feito. — Não, senhorita Ferreira. Pode ir. Está dispensada hoje. Ela assentiu com um leve sorriso, pegou a bolsa e se virou para sair. Mas antes que alcançasse a porta, os dois elementos do caos surgiram. — Vamos, vamos! — anunciou Harry, animado. — Sexta-feira está batendo na porta, meu irmão. — Boa noite, senhorita Ferreira! — disse Louis, piscando para ela. — Boa noite, senhores — respondeu Lana, tentando esconder o rubor. O que ela não sabia é que os três já estavam combinados de sair naquela noite — e muito menos que ela também seria parte dos planos. Casa da Nice – 20h07 — Nós vamos nos arrumar lá em casa, pode ser? — sugeriu Lana pelo celular. — Claro! Já tô separando minha roupa! — respondeu Anice, empolgada. — A Lena também tá surtando! — Avisem ao tio Francisco que a gente já tá indo. Quando chegaram, o pai das meninas já as esperava na sala. — Meninas, escutem aqui. — A voz de seu Francisco era firme, mas carinhosa. — Eu vou levar vocês. Quando acabarem, me liguem. Como amanhã eu não trabalho, vou buscar a hora que for. — Tá bom, papai — disse Lena, abraçando o pai. — Nada de bebida, hein? Dona Lena e Dona Anice, vocês são menores de idade. E você, minha filha, apesar de já ter 21 anos, sabe que bebida não leva a nada. E nesses lugares… — A gente só vai conhecer, papai. É área VIP, e o doutor Louis garantiu que é seguro. Nem vamos ficar no meio do povo. — É por isso que estou mais tranquilo. Só quero vocês bem. O letreiro elegante brilhava na fachada. A fila era enorme, mas as três passaram direto, com o nome de Louis abrindo caminho como mágica. Vestidas com jeans de corte impecável, camisas sociais alinhadas, salto e maquiagem suave, as três exalavam charme e elegância. Cabelos soltos, perfume discreto e postura confiante. Um trio de impacto. — VIP é por aqui, senhoritas — indicou o segurança. Ao subirem a escada interna iluminada por luzes âmbar, elas chegaram ao lounge elevado, cercado por uma grade de vidro fumê. E então... os olhos de Patrick, Louis e Harry se voltaram ao mesmo tempo. — Não pode ser — murmurou Patrick, pasmo. — É — confirmou Harry, travado. — O feitiço virou, irmão. A armadilha era pra ele... — sussurrou Louis — ...mas olha o que aconteceu com a gente! Patrick não conseguia tirar os olhos de Lana. Simples. Linda. Elegante. E dona de todos os seus pensamentos. Louis se inclinou para o lado de Patrick, que ainda observava fixamente. — Eu tô começando a achar que você vai perder essa aposta hoje mesmo — provocou com um sorriso torto. — Olha aquilo, meu irmão… Olha a sua assistente. Harry já estava erguendo um copo de uísque e apontando discretamente com ele. — A irmã dela... Meu Deus... A prima então... Isso aqui virou um campo minado. Patrick não respondeu. Ele apenas encarava Lana — os olhos azuis mergulhados na forma como ela ria com as amigas, a forma como ela arrumava o cabelo atrás da orelha, como ela parecia leve, solta, como nunca havia estado no ambiente formal do escritório. Ela era encantadora. Hipnotizante. E ele estava, oficialmente, perdido. — Você vai ficar babando de longe ou vai chamar a dama pra dançar? — sussurrou Harry, cutucando. — Vai se lascar — respondeu Patrick, tomando um gole direto da bebida. Foi nesse momento que Lana olhou, os olhos dela encontraram os dele. Por um breve segundo, um mundo inteiro de palavras não ditas se formou ali. Ela sorriu com educação. Ele correspondeu com o mínimo movimento do queixo. Mas por dentro... o inferno estava aceso. Boate Skylux – 23h08 Louis se levantou, ignorando Patrick, e foi direto até elas. — Boa noite, senhoritas. Que prazer ver vocês aqui! — ele disse com aquele tom irresistivelmente simpático. Anice e Lena sorriram largamente. Lana ficou um pouco mais contida. — Doutor Louis... boa noite. — O Doutor ficou na empresa, Lana. Aqui somos só amigos — piscou. — Venham, vocês estão convidadas à nossa mesa. A bebida e a companhia estão liberadas. — Só um minuto — disse Lana, virando-se para as meninas. — Vocês querem? — Você ainda pergunta? — disse Lena. — Claro! — completou Anice, com um brilho nos olhos. Lana respirou fundo, ainda tentando entender o que estava sentindo. Então seguiu os passos das duas. Quando chegaram à mesa, Patrick se levantou por educação. Cumprimentou as três com um aceno leve e o olhar colado em Lana por segundos demais. Ela sentou-se à sua frente. E ele percebeu, com clareza devastadora: A aposta estava oficialmente perdida. O clima na área VIP estava leve, descontraído, com conversas, risadas e flertes sutis acontecendo em todas as direções. Lana tentava manter o foco nas amigas, mas os olhos de Patrick teimam em persegui-la. Louis e Harry seguiam o plano: enchendo o CEO de bebida, cutucadas e indiretas. Mas tudo mudou quando uma presença indesejada cruzou o salão. Britney. Ela usava um vestido colado dourado, curto demais para o bom gosto, e uma expressão que misturava ódio e posse. Caminhou como se fosse a dona da boate, ignorando o segurança que tentou barrá-la. — Eu não acredito no que eu tô vendo! — disse alto, já próxima à mesa. — Então é aqui que você anda se escondendo, Patrick? Você terminou comigo para ficar com essa horrorosa? Com esse barril de banha? A mesa inteira silenciou. Lana congelou. Patrick sentiu o sangue ferver. Mas antes mesmo que ele pudesse reagir, Lena se levantou como uma loba em defesa da alcateia: — Quem é você, querida? — perguntou em tom cortante. — Quem você pensa que é para vir aqui e querer humilhar minha irmã desse jeito? — Ah, não! — disse Harry, rindo e levantando seu copo. — A Barbie do Sete Além apareceu! Que saudade... Britney virou o rosto com raiva. — Vocês ainda continuam com esse apelido ridículo? Louis levantou também, arqueando uma sobrancelha. — Na verdade, agora tem outro. Espeto de Gafanhoto. Bem mais apropriado, né? — Isso é um absurdo! Isso é humilhante! — gritou Britney, vermelha. Nice, que já havia sacado o celular, mostrou a gravação. — Está tudo aqui, amor. Você está ofendendo minha prima. Vai dar um ótimo vídeo viral, e também uma bela prova pra um processo. — Na empresa você humilhou minha irmã, e ela ficou calada! — completou Lena, se aproximando. — Mas aqui não. Aqui, se você continuar, nós vamos processar você. E se prepare para abrir sua conta bancária, porque os danos morais vão custar caro. Muito caro. Britney ficou sem ação. Os olhos azuis faiscando de ódio. Foi quando Patrick se levantou com postura firme, voz clara e olhos fixos nela. — Eu não terminei o noivado com você para ficar com ninguém. Essa mulher linda, que você tentou humilhar, é uma funcionária exemplar na minha empresa. E hoje ela está aqui como minha convidada. Então, se você ainda tem um pingo de bom senso, vá embora antes que eu mande te retirar. Silêncio. O segurança, que observava tudo de longe, começou a se aproximar. Britney sentiu o impacto. Pela primeira vez, Patrick se posicionava com todas as letras. Não apenas defendendo uma funcionária… mas Lana. Com um último olhar de desprezo, ela girou nos saltos. — Isso não vai ficar assim. — Já ficou — disse Patrick. E com isso, Britney se retirou. A tensão se desfez aos poucos, substituída por olhares cúmplices, sorrisos nervosos e a certeza de que a noite acabava de mudar tudo.
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