Uma Joia no Meio da Diretoria

1115 Words
Após o almoço, Lana ajeitou a blusa social clara e conferiu os arquivos no notebook pela terceira vez. Respirou fundo e saiu da sala com passos firmes. Shirley a acompanhava até a sala de reuniões executiva, onde a diretoria da empresa já aguardava. Patrick já estava à frente da longa mesa, cumprimentando os membros mais antigos. Quando Lana entrou, vários pares de olhos se voltaram para ela. Alguns surpresos, outros apenas curiosos. Patrick então se levantou e tomou a palavra, com a voz firme e calma. — Boa tarde, senhores. Todos fizeram um leve aceno. — Antes de iniciarmos, eu gostaria de apresentar oficialmente a senhorita Lana Ferreira. Alguns de vocês já a conhecem, ela atuava no setor administrativo, realizando seu estágio obrigatório. Mas hoje, a senhorita Lana é a minha nova assistente. Um leve burburinho se instalou. Patrick continuou: — Foi ela quem identificou as falhas e os desvios financeiros apresentados por um de nossos diretores, através de um relatório minucioso. Devido à sua competência, ética e atenção aos detalhes, eu a contratei imediatamente. A partir de agora, ela responderá diretamente a mim. Virou-se então para Lana e sorriu com leveza. — A senhorita Lana vai apresentar os dados, projeções e sugestões. Ao final, eu farei minhas observações e caberá aos senhores decidirem os próximos passos. Lana assentiu. A voz dela tremia levemente no início, mas assim que o primeiro gráfico surgiu no telão, ela se encontrou. Explicou com firmeza os desvios encontrados, comparações entre os trimestres, a projeção de prejuízo caso as irregularidades continuassem. Fez sugestões. Citou melhorias para o controle interno e demonstrou como evitar perdas futuras. A clareza da apresentação encantou até os membros mais experientes. — ...E, se implantado esse novo sistema de monitoramento mensal por equipe independente, teremos uma margem de lucro mais segura e estável já no próximo ciclo — concluiu ela, firme. Um dos diretores mais antigos, o senhor Maddox, pigarreou e disse com expressão admirada: — Impressionante. Onde você encontrou essa joia rara, Patrick? Patrick sorriu, os olhos ainda fixos nela. — Essa joia é filha do nosso porteiro, o senhor Francisco. Um murmúrio correu pela mesa. — Do Francisco? — repetiu o mesmo diretor, surpreso. — Sim — respondeu Patrick, orgulhoso. — E agora ela é nossa funcionária. Uma excelente aquisição. Tenho certeza de que a senhorita Lana só agregará ainda mais valor à nossa empresa. — Seja bem-vinda, senhorita Lana — disseram vários ao mesmo tempo. Ela ficou visivelmente emocionada, lutando para manter a compostura. Patrick, no entanto, não desviava o olhar. Observava cada gesto dela com admiração genuína. O modo como explicava, a firmeza da voz, o brilho natural nos olhos verdes. Como pode ser tão segura e, ao mesmo tempo, tão doce?, pensou. Ela o chamou: — Doutor Patrick? Ele piscou, como se despertasse de um sonho. — Sim, sim… claro… — ajeitou-se na cadeira. — Meus parabéns, senhorita Lana. Foi brilhante. E, naquele momento, todos viram. O CEO frio e focado estava encantado. Mas só ela ainda não percebia. Patrick pigarrou levemente e tomou a palavra após a impecável apresentação de Lana. Os olhos da diretoria ainda estavam voltados para ela, mas bastou o CEO se levantar para que o silêncio reinasse absoluto. — Senhores, acredito que a senhorita Lana Ferreira já expôs de forma clara e didática o que vinha acontecendo. E agora cabe a mim como presidente desta companhia dizer o que virá a seguir. Ele passou o olhar sério por cada um dos membros à mesa. — A fraude cometida pelo senhor Richard Hamilton não foi apenas um golpe financeiro. Foi um ataque à confiança dos nossos colaboradores, dos acionistas, e sobretudo ao princípio que rege esta empresa: a integridade. Houve murmúrios discretos. Um diretor mais novo trocou olhares com o chefe do setor financeiro, que ficou visivelmente inquieto. Patrick continuou: — Infelizmente, essas irregularidades passaram pelos nossos filtros internos. Isso significa que falhamos em algum ponto. E não vamos ignorar essa falha. A partir da próxima semana, a nossa empresa passará por uma auditoria interna minuciosa. Silêncio. — Para isso, designo como responsáveis diretos dessa auditoria a senhorita Lana Ferreira e o senhor Louis, meu irmão. Ambos terão total autonomia para solicitar arquivos, planilhas, relatórios e esclarecimentos, de qualquer setor. A tensão cresceu. O chefe do financeiro, senhor Norman Ackley, mexeu-se na cadeira e baixou os olhos. Lana, atenta, percebeu. Ali havia algo... Ela anotou discretamente no bloco à sua frente. Patrick respirou fundo e prosseguiu: — Além disso, quero que todos saibam que a gestão desta empresa se preocupa não apenas com números, mas com pessoas. Ele se dirigiu agora aos diretores de RH e Benefícios. — Tenho observado de perto a rotina dos nossos funcionários. Muitos são pais e mães solteiros. Muitos enfrentam jornadas duplas — ou triplas — de trabalho, estudam à noite, lutam para garantir o básico em casa. Pensando nisso, proporei à diretoria que incluamos no pacote de benefícios um bônus de auxílio-creche para pais e mães solteiros. É nossa obrigação cuidar de quem faz essa empresa prosperar. Os mais experientes concordaram e tiram em aprovação. Houve um ou outro resmungo abafado entre os mais conservadores. Mas Patrick, com o semblante calmo e inegavelmente firme, não deu margem a discordância. — Claro, para que isso seja viável, precisamos ser mais vigilantes. Mais justos. Mais humanos. E é por isso que a senhorita Lana agora atua como minha assistente pessoal. Não apenas por seu talento, mas pela sua ética e olhar apurado. É ela quem coordenará os relatórios analíticos mensais. Será a responsável direta por cruzar dados, revisar planilhas e, se preciso for, apontar falhas. Ao lado do Louis, ela terá carta branca para fazer o que for necessário. Então, ele se aproximou mais da mesa e disse com a voz mais baixa, mas ainda audível: — E quero deixar uma coisa bem clara. O senhor Richard Hamilton não agiu sozinho. Ninguém faz movimentações de milhões sem ajuda interna. Eu vou descobrir quem foram os cúmplices. Nesse momento, Norman Ackley tossiu seco. O suor na testa denunciava o desconforto. Lana notou. Patrick também. — E quando eu descobrir — prosseguiu ele — essas pessoas responderão não só com o cargo, mas com processo judicial. A empresa não cobrirá erros intencionais. O silêncio era quase cortante. Patrick então assentiu para Lana e concluiu: — Por ora, é isso. Senhores, vamos trabalhar. A partir de hoje, esta empresa entra em uma nova fase. De integridade, responsabilidade e respeito. Muito obrigado. Todos se levantaram. Alguns foram até Lana e a cumprimentaram calorosamente. Outros passaram direto. Norman, por sua vez, saiu cabisbaixo. E Patrick observou tudo, os olhos atentos, mas sempre que podia, voltavam discretamente para ela.
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