Conversa de família
Ao final do expediente, Lana pegou suas coisas e encontrou o pai, Francisco, na recepção, como sempre faziam às sextas.
Ambos foram juntos para casa.
No carro, enquanto o pai dirigia, Lana suspirou. Não queria esconder o que havia acontecido.
— Papai… preciso te contar uma coisa.
Francisco lançou um olhar atento para a filha.
— Diga, minha filha.
— A noiva do senhor Patrick… ela falou umas coisas meio… xenofóbicas. E o senhor Louis e o senhor Harry fizeram umas brincadeiras… disseram até que apostavam um milhão sobre quem ia namorar comigo. E ela… me chamou por um nome que eu nem quero repetir. Não vale a pena. Acho que foi por inveja.
Francisco apertou levemente o volante, atento.
— Continue.
— Depois… eles mandaram flores, orquídeas — lindas — e bombons suíços, pedindo desculpas. Disseram que só fizeram aquelas brincadeiras para provocar ela. Mas eles também disseram que não podiam deixar a tal da Barbie do 7 Além sem uma resposta.
Francisco deu uma gargalhada tão alta que Lana não conseguiu evitar um sorriso.
— Barbie do 7 Além?! — riu ele. — Só podia ser brincadeira desses dois meninos! Minha filha, aqueles dois são homens formados, mas quando se juntam… parecem dois moleques. Só fazem travessura.
Lana respirou fundo.
— Fique tranquilo, papai. Não se preocupe. Shirley mesma me disse que foi só um pedido de desculpas sincero. Eles estavam mesmo arrependidos, mas não podiam deixar a tal Barbie do 7 Além sem resposta.
Francisco balançou a cabeça, sorrindo.
— Está certo. Mas mesmo assim, tome cuidado, minha filha. Não dê muita confiança.
— Não se preocupe, papai. Sei muito bem me portar.
Chegando em casa, Lana entrou com as orquídeas e as caixas de bombons nas mãos. Sua irmã, Lena, arregalou os olhos assim que viu.
— Minha Nossa Senhora! — exclamou Lena. — Vamos aumentar uns bons quilos com esse chocolate, hein?! Meu Deus!
Lana sorriu e largou as coisas sobre a mesa.
— Deixa eu te contar o que aconteceu…
Sentaram-se no sofá e Lana relatou tudo, desde as falas da noiva do Patrick até a brincadeira dos rapazes e o gesto de desculpas.
Quando terminou, Lena estava furiosa.
— O quê?! Apostaram UM MILHÃO?! E ainda aquela mulher te chamou de nomes horríveis?! Ah, se fosse eu…!
Lana pegou a mão da irmã, com um sorriso calmo.
— Ei… calma. Já passou. Eles se desculparam. E eu não vou me rebaixar a esse tipo de gente. Eu sei quem eu sou, sei a educação que recebi.
Lena bufou.
— Mesmo assim, que abuso! Mas que bom que você foi firme, mana. Só… cuidado com esses dois. Agora que eles viram o que perderam, vão tentar se aproximar.
Lana riu.
— Pois que tentem. Vão continuar no mesmo lugar: bem longe. Amizade, talvez. Mais que isso… nem pensar.
Lena sorriu, orgulhosa da irmã.
— É assim que se fala. Agora vamos experimentar esses chocolates antes que você mude de ideia…
As duas riram juntas e, naquele momento, Lana sentiu-se ainda mais forte e segura.
Ela sabia o que queria. E, principalmente, o que não queria.