####Os cuidados: A Confiança do Colo Invisível

1606 Words
Helena se aproximou com passos suaves, como quem respeita o silêncio da madrugada e da alma. Brittany ainda estava acordada, olhos cansados, mas o coração inquieto. A enfermeira sentou-se ao lado da poltrona onde ela fazia a última extração do leite. — Pronta para descansar? — Helena perguntou com doçura. — Só falta colocar o leite nos frasquinhos... — respondeu Brittany com um bocejo tímido. — Eu coloco. Vá tomando o remédio que a médica recomendou. Vai te ajudar a ter um sono mais tranquilo, mais profundo. Brittany obedeceu em silêncio, engolindo o comprimido com um gole de água. Helena tampou os frascos com delicadeza e se aproximou, sentando-se ao lado dela, sem pressa, com o tempo de quem acolhe. — Agora você vai dormir tranquila... Porque você tem pessoas contribuindo com você. Você não está sozinha nessa jornada. Brittany piscou devagar, as palavras entraram macias como um cobertor quente no peito gelado. Helena continuou: — O seu pai... Ele está se desdobrando em várias funções ao mesmo tempo. Às vezes, ele chega aqui no hospital quando você está naquele cochilo da manhã. Ele olha para você... olha os seus filhos. Fica um tempo em silêncio... e vai embora. — Sério? — Brittany perguntou, emocionada. — Sério. Você não vê, mas ele não falha. Ele está cuidando de você do jeito que sabe, mesmo que em silêncio. Ela engoliu em seco, como se algo dentro se quebrasse — ou talvez se colasse. — Sabe, às vezes a gente acha que quando cresce, não precisa mais de cuidado. Mas não é verdade. E às vezes os pais acham que não precisam mais demonstrar tanto... mas isso machuca. — Machuca sim — confessou Brittany, de olhos marejados. — Eu achava que meu pai era distante. Mas talvez fosse eu que estava longe e não percebia. Helena sorriu e pousou a mão sobre a dela. — Filha, muita gente diz que Deus escreve certo por linhas tortas... mas não. Deus escreve certo. O que acontece é que nós é que vemos torto. Porque estamos com os olhos turvos, feridos, confusos. Mas Ele escreve com linha reta, com propósito. Às vezes é numa dor que Ele desenha reencontros. Brittany chorou baixinho. Helena enxugou discretamente com o lenço. — Você promete que vai dormir? — Prometo... Helena ajeitou o lençol sobre suas pernas e se inclinou para dar um beijo em sua testa. — Pode deixar que eu vou cuidar do seu príncipe e da sua princesa. Eles vão sair daqui antes do que a gente espera... e quando saírem, vou estar com você para te ajudar. — A senhora... a senhora está sendo uma mãe para mim. — Não, minha filha... Eu só estou dizendo o que uma mãe deveria dizer. A Confiança do Colo Invisível Helena se aproximou com passos suaves, como quem respeita o silêncio da madrugada e da alma. Brittany ainda estava acordada, olhos cansados, mas o coração inquieto. A enfermeira sentou-se ao lado da poltrona onde ela fazia a última extração do leite. — Pronta para descansar? — Helena perguntou com doçura. — Só falta colocar o leite nos frasquinhos... — respondeu Brittany com um bocejo tímido. — Eu coloco. Vá tomando o remédio que a médica recomendou. Vai te ajudar a ter um sono mais tranquilo, mais profundo. Brittany obedeceu em silêncio, engolindo o comprimido com um gole de água. Helena tampou os frascos com delicadeza e se aproximou, sentando-se ao lado dela, sem pressa, com o tempo de quem acolhe. — Agora você vai dormir tranquila... Porque você tem pessoas contribuindo com você. Você não está sozinha nessa jornada. Brittany piscou devagar, as palavras entraram macias como um cobertor quente no peito gelado. Helena continuou: — O seu pai... Ele está se desdobrando em várias funções ao mesmo tempo. Às vezes, ele chega aqui no hospital quando você está naquele cochilo da manhã. Ele olha para você... olha os seus filhos. Fica um tempo em silêncio... e vai embora. — Sério? — Brittany perguntou, emocionada. — Sério. Você não vê, mas ele não falha. Ele está cuidando de você do jeito que sabe, mesmo que em silêncio. Ela engoliu em seco, como se algo dentro se quebrasse — ou talvez se colasse. — Sabe, às vezes a gente acha que quando cresce, não precisa mais de cuidado. Mas não é verdade. E às vezes os pais acham que não precisam mais demonstrar tanto... mas isso machuca. — Machuca sim — confessou Brittany, de olhos marejados. — Eu achava que meu pai era distante. Mas talvez fosse eu que estava longe e não percebia. Helena sorriu e pousou a mão sobre a dela. — Filha, muita gente diz que Deus escreve certo por linhas tortas... mas não. Deus escreve certo. O que acontece é que nós é que vemos torto. Porque estamos com os olhos turvos, feridos, confusos. Mas Ele escreve com linha reta, com propósito. Às vezes é numa dor que Ele desenha reencontros. Brittany chorou baixinho. Helena enxugou discretamente com o lenço. — Você promete que vai dormir? — Prometo... Helena ajeitou o lençol sobre suas pernas e se inclinou para dar um beijo em sua testa. — Pode deixar que eu vou cuidar do seu príncipe e da sua princesa. Eles vão sair daqui antes do que a gente espera... e quando saírem, vou estar com você para te ajudar. — A senhora... a senhora está sendo uma mãe para mim. — Não, minha filha... Eu só estou dizendo o que uma mãe deveria dizer. Análise Psicológica do Diálogo Esse diálogo trabalha elementos essenciais da cura emocional pós-trauma: 1. Reconstrução do vínculo primário: A figura da Helena representa o arquétipo da mãe acolhedora, da mulher experiente que compreende e supre a ausência de uma maternidade funcional. Isso é terapêutico para Brittany, que sofreu rejeição materna. 2. Validação emocional: Helena valida os sentimentos da Brittany sem julgá-los, mostrando que é normal precisar de cuidado, mesmo sendo adulta. 3. Reestruturação de vínculo com o pai: Ao revelar os gestos silenciosos do Drill, a enfermeira atua como ponte, restaurando a imagem paterna que Brittany havia distorcido por mágoas. 4. Ressignificação da dor: A fala de que “Deus escreve certo com linhas retas” ajuda Brittany a começar a reorganizar o sentido de sua dor — não como punição, mas como parte de um processo de reconstrução. 5. Indução ao repouso com segurança: Psicologicamente, para alguém fragilizada, dormir bem significa entregar o controle a alguém confiável. Ao garantir que cuidará dos bebês, Helena permite que Brittany se sinta segura para descansar — o que é essencial para sua recuperação emocional. Análise Psicológica do Diálogo Esse diálogo trabalha elementos essenciais da cura emocional pós-trauma: 1. Reconstrução do vínculo primário: A figura da Helena representa o arquétipo da mãe acolhedora, da mulher experiente que compreende e supre a ausência de uma maternidade funcional. Isso é terapêutico para Brittany, que sofreu rejeição materna. 2. Validação emocional: Helena valida os sentimentos da Brittany sem julgá-los, mostrando que é normal precisar de cuidado, mesmo sendo adulta. 3. Reestruturação de vínculo com o pai: Ao revelar os gestos silenciosos do Drill, a enfermeira atua como ponte, restaurando a imagem paterna que Brittany havia distorcido por mágoas. 4. Ressignificação da dor: A fala de que “Deus escreve certo com linhas retas” ajuda Brittany a começar a reorganizar o sentido de sua dor — não como punição, mas como parte de um processo de reconstrução. 5. Indução ao repouso com segurança: Psicologicamente, para alguém fragilizada, dormir bem significa entregar o controle a alguém confiável. Ao garantir que cuidará dos bebês, Helena permite que Brittany se sinta segura para descansar — o que é essencial para sua recuperação emocional. Nota da Autora Observação: Você, leitor ou leitora, pode até achar que eu estou sendo invasiva ao inserir certas observações técnicas ou emocionais nesta história. Pode até pensar que estou “enchendo linguiça” ou escrevendo aleatoriamente, sem conhecimento de causa. Mas eu preciso deixar uma coisa muito clara: eu sei exatamente do que estou falando. Eu sou mãe de quatro filhos. Tive um com 42 semanas — ele não queria nascer, e tive que fazer cesariana porque já estava entrando em sofrimento. Tive outro com 40 semanas. Uma filha com 41 semanas. E um filho com 36 semanas, ou seja, 8 meses, também de cesariana, pois eu havia sofrido um trauma antes dele vir ao mundo. E eu passei por tudo isso sozinha. Sem mãe. Sem rede de apoio. Sem ninguém para me segurar a mão ou me trazer uma sopa quente. Então, quando eu escrevo aqui sobre apoio emocional, sobre o quanto uma palavra pode curar, sobre como o olhar de uma enfermeira ou o cuidado de uma amiga pode salvar uma mulher de um colapso, eu não estou romantizando. Eu estou testemunhando. Os filhos da gente não deixam de precisar da gente depois que crescem. Às vezes, o que um filho mais deseja é um abraço silencioso, uma palavra que diga "estou aqui", ou simplesmente o colo de quem os conhece desde o primeiro choro. E, cá entre nós, nós também queremos colo às vezes. Queremos ser ouvidas, abraçadas, reconhecidas. Hoje, além de mãe, eu sou avó. Tenho 11 netos — e cada um deles é uma bênção na minha vida. E é com essa vivência, com esse amor, com essa bagagem que eu escrevo. Se eu coloco aqui uma observação, um método, uma fala emocional ou técnica, é porque eu desejo, do fundo do coração, que alguma leitora ou leitor tire algo disso. Nem que seja só um abraço interno dizendo: você não está sozinha. Com amor, A autora.
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