O salto nude ecoava suave pelo mármore enquanto Lana entrava naquela manhã, segura, serena e sem perceber o impacto que causava.
O vestido tubinho marfim se moldava ao corpo dela com precisão perigosa — decente, sim, mas colado o suficiente pra fazer qualquer CEO perder a concentração. O coque bagunçado deixava à mostra a nuca delicada, e a maquiagem leve só realçava ainda mais a beleza natural que parecia ter acordado com ela.
Patrick já estava à mesa, fingindo ler uma planilha, mas não era a planilha que seus olhos acompanhavam. Era o som do salto. O som que dizia: ela chegou.
Lana abriu o notebook, organizou as anotações e os relatórios que ele havia solicitado no dia anterior, totalmente alheia ao olhar fixo que ardia em sua direção.
— Chá, senhor Patrick? — perguntou Shirley, entrando com a bandeja.
— Pode deixar aí... e daqui a pouco, por favor, traga mais um. Um chá de camomila, ou de maracujá... o mais forte que tiver. — respondeu ele, sem tirar os olhos da assistente.
Shirley apenas ergueu uma sobrancelha, saiu e fechou a porta.
Lana percebeu.
— O senhor está passando m*l? — ela perguntou, olhando por cima do monitor. — Sua testa está um pouco... tensa.
Patrick pigarreou, desconcertado.
— Estou com um pouco de dor de cabeça. Deve ser estresse. Você poderia pedir um analgésico para a Shirley?
— Claro. Não, deixa que eu mesma pego pra você. Já volto. — respondeu, se levantando prontamente.
Os olhos dele acompanharam cada passo. O vestido parecia dançar no corpo dela. O quadril desenhado. A postura elegante. E aquele cheiro de shampoo floral misturado com alguma essência doce… estava mexendo com ele mais do que deveria.
Lana voltou alguns minutos depois com um copo d’água e o remédio.
— Aqui está. — estendeu para ele, gentil como sempre.
— Obrigado. — respondeu, aceitando, mas evitando olhar diretamente nos olhos dela, com medo do que poderia revelar.
— Quer que eu continue as planilhas enquanto o senhor descansa?
— Isso seria ótimo. — disse ele, se levantando, tentando manter o tom impessoal.
Entregou-lhe uma pasta com dados novos.
— Isso aqui precisa ser refeito. Tem alguns erros do financeiro. Quando eu voltar, quero saber o que pode ser corrigido e o que precisa ser denunciado.
— Sim, senhor.
Ela se sentou, puxando a pasta para perto, já mergulhando na análise. Patrick parou por um instante, olhando-a de cima. Aquilo tudo estava virando tortura.
— Vou descansar um pouco... no quarto anexo. Se precisarem de mim, peça para Shirley aguardar.
— Claro.
Ele saiu em silêncio, e quando fechou a porta, encostou as costas na madeira e soltou o ar, frustrado.
“Patrick, você tá perdendo o juízo.”
Jogou-se na poltrona da sala de descanso, afrouxando a gravata. A cabeça doía, sim… mas não era o analgésico que resolveria.
Era ela.
Aquela menina que agora usava salto e tubinho e dominava planilhas como se fosse nascida para aquilo. Aquela mulher que carregava doçura, força e sensualidade… tudo ao mesmo tempo.
— Meu Deus, Lana… o que você tá fazendo comigo?
Patrick se jogou no sofá reclinável do quarto reservado, soltando um suspiro pesado. Fechou os olhos, mas não encontrou descanso algum. Ao contrário: o silêncio só fez aumentar o barulho dos pensamentos que fervilhavam por dentro.
A imagem da Lana, naquela roupa, dançando nos olhos dele como se fosse um delírio programado. Tudo nela parecia feito pra desequilibrar a sanidade dele — e estava funcionando com perfeição.
Ele esfregou as têmporas, tentando se concentrar. Mas bastava fechar os olhos que via o vestido marfim, justo demais pra sanidade dele. Os saltos dela… o coque bagunçado… aquela nuca exposta que parecia um convite silencioso. E a cintura… ah, aquela cintura.
“Respira, Patrick… respira.”
Abriu os olhos de novo. Nada adiantava.
Na cabeça dele, a imagem da Lana se curvando sobre a mesa, concentrada, os lábios mordendo a pontinha da caneta enquanto analisava as planilhas. E o cheiro dela… o maldito perfume suave que parecia abraçá-lo toda vez que ela passava perto.
Ele se levantou num pulo.
Foi até o espelho do canto e encarou o próprio reflexo.
— Você precisa se controlar, Patrick — murmurou, puxando os cabelos para trás. — Isso é só uma fase. É só tensão. Admiração. Você é o CEO. E ela é sua assistente.
Silêncio.
Mentira. Tudo mentira.
Era desejo. Desejo do mais puro e carnal. Misturado com respeito, com fascínio, com algo mais profundo que ele ainda nem ousava nomear.
Mas quando ouviu a batida leve na porta, tudo isso se dissolveu no ar como fumaça. O som da voz dela veio em seguida, suave e gentil:
— Doutor Patrick? A dona Shirley pediu para entregar isso aqui… É o analgésico. Posso deixar aqui na mesinha?
Ele pigarreou, tentando disfarçar a rouquidão que não era mais de dor de cabeça coisa nenhuma.
— Pode sim, Lana. Obrigado.
A porta se abriu lentamente. Ela entrou com um copo d’água numa mão e o comprimido na outra. O vestido marfim parecia mais justo sob a luz amarelada daquele ambiente. E ele, coitado, quase perdeu o fôlego.
— Aqui está. — Ela sorriu de leve. — Espero que melhore logo.
— Vai melhorar… — ele respondeu, com um tom que nem ele mesmo reconheceu.
Ela fez menção de sair, mas ele a deteve com um gesto leve.
— Lana.
— Sim?
— Obrigado… por estar sempre tão atenta.
Ela corou, desviou o olhar.
— É meu trabalho, senhor.
— Nem todo mundo faz o trabalho com tanta dedicação.
Ela apenas assentiu, envergonhada.
Quando a porta se fechou novamente, Patrick jogou a cabeça para trás no sofá.
“Você está perdido, Patrick. Perdido.”
Patrick voltou do quarto de descanso com o rosto mais sereno, mas os olhos… ah, os olhos ainda estavam em combustão. Sentou-se à mesa, e lá estava ela, focada nas planilhas, os dedos dançando no teclado com precisão, o coque agora com uma mecha solta que escorria pela lateral do rosto, quase como se tivesse sido planejado pra seduzir. Mas ele sabia que não era.
Ela era assim. Natural. E esse era o problema.
— Senhor Patrick? — disse ela, com a voz baixa. — Eu revisei o material e fiz algumas observações nos gráficos. Há três inconsistências nos contratos da filial de São Bernardo. O senhor quer que eu fale com o Luiz?
Ele piscou algumas vezes, tentando digerir a frase — porque o cérebro dele estava em outro lugar completamente diferente.
— Fale sim — disse, pigarrea. — Aliás, me copia no e-mail. Depois quero revisar com calma.
Ela assentiu. E sorriu.
Pronto. Mais um golpe.
Louis entrou na sala alguns minutos depois, com aquele jeito escrachado de sempre.
— Bom dia, Laninha digo, colega de trabalho! — disse ele, jogando-se numa das poltronas. — Vim buscar as planilhas que pedi à Lana. Ela trabalha melhor que muita gente de terno e gravata por aí, viu?
— Louis — rosnou Patrick.
— Que foi? Tô elogiando. Inclusive, se quiser, pode mandar ela pra minha sala semana que vem. Vou ficar com ciúmes desse monopólio aqui.
Lana riu, divertida, mas sem jeito. Patrick, por outro lado, fechou a cara. E Louis, claro, percebeu na hora.
— Tá bom, já entendi… — disse ele, se levantando e piscando pra Lana. — Eu só vim pegar os documentos. Mas já que a fera acordou, vou sair antes que leve uma patada.
Quando Louis saiu, Patrick ficou em silêncio. Não olhou para Lana. Apenas digitava algo no notebook, sério, tenso, tentando ignorar o que estava óbvio: estava morrendo de ciúmes. E não tinha direito nenhum de sentir aquilo.
Ela quebrou o silêncio com delicadeza:
— O senhor não gostou da brincadeira do seu irmão?
— Não — respondeu, seco.
— Me desculpe, doutor… eu…
— Você não tem culpa de nada, Lana — ele interrompeu, finalmente a olhando. — É só que… — suspirou — algumas coisas mexem com a gente mais do que deveriam.
Os olhos dele cravaram nos dela.
Ela abaixou o olhar, sem conseguir sustentar.
Ele se inclinou para a frente, ainda com a expressão intensa.
— Eu só quero que saiba que… enquanto estiver aqui, vou fazer o possível para que se sinta respeitada. E segura.
Ela sorriu, com os olhos brilhando.
— Obrigada, doutor Patrick.
Mas, por dentro, os dois sabiam que aquela segurança já estava abalada. Porque o que crescia ali não era só respeito. Era desejo, admiração, curiosidade… e algo que ainda não sabiam nomear.
E a semana estava apenas na metade.