Convite de Paty

1084 Words
Era como se o tempo tivesse parado ali, entre o cheiro de baunilha das forminhas recém-assadas e o calor do sol entrando pela janela da cozinha. A mãe estava com um pano de prato sobre o ombro, rindo baixinho das filhas enquanto recheava os cupcakes com doce de leite. Lena ajudava com as etiquetas. Nice ajeitava as caixas. E Lana, com os cabelos presos num coque torto, não conseguia parar de sorrir — nem lembrar do jeito que Patrick a olhava na noite anterior. Francisco, o pai, apareceu na porta da cozinha com a camisa aberta até o peito, suado e com uma chave de f***a na mão. — E então, como foi a tal da boate? Lena foi a primeira a responder, animada: — Foi incrível, pai! Tava tudo lindo, o lugar é maravilhoso, e a gente dançou muito! Nisse completou: — E os meninos que estavam com a gente foram super respeitosos. O Harry e o Louis ficaram cuidando da gente, acredita? O pai franziu o cenho, cruzando os braços. — Harry e Louis conheço esses nomes. São do ramo dos empresários, não são? Lana assentiu, ainda sorrindo: — Sim, pai. São amigos do Patrick, nosso chefe. Francisco coçou a cabeça e soltou um grunhido. — Tomem cuidado com o Sr. Harry e o Sr. Louis. Eles são gente boa, mas têm fama de serem meio... playboys. Lena riu, divertida: — Pode deixar, pai. Nós estamos com os dois pés no chão. Lana ergue uma sobrancelha e brincou: — Até parece que eu vou cair na lábia de algum deles, né, pai? — Nem se preocupe, tio — Nisse emendou, colocando a mão no coração com drama. — A gente só dá moral pra quem merece. Francisco sorriu, relaxando o semblante: — Eu sei que vocês têm juízo. Mas o pai aqui nunca deixa de avisar. As meninas se entreolharam e voltaram a rir. Era isso. A leveza de estar em casa. A segurança do afeto simples. Aquele tipo de sábado em que a alma respira. Minutos depois, já limpando a bancada, o celular de Lana vibrou com uma notificação. Ela atendeu. — Oi, Pathy! Do outro lado, a voz animada da prima veio clara: — Convidei umas amigas pra passar a tarde aqui em casa. Trouxe umas besteiras, minha mãe tá fazendo torta de frango, e... a piscina tá um convite! Vem com a Lena e a Nisse, por favor! Lana sorriu. — Ai, Pathy, hoje é dia de ajudar a mamãe... A mãe, que ouvira tudo, limpou as mãos no avental e interrompeu: — Vão sim. Eu darei conta aqui. Faz tempo que vocês não se divertem. E a Patrícia é uma menina maravilhosa. Francisco, já se afastando com uma vassoura nas mãos, completou: — Isso mesmo. Vai lá aproveitar, minha filha. Só tomem cuidado com os olhos de certos rapazes. Todas riram. De novo. Lena já subia para o quarto animada, Nice foi pegar o biquíni emprestado que guardava na mochila, e Lana, bem, Lana estava com o coração leve. E ao mesmo tempo,acelerado. Ela nem imaginava que quem também apareceria por lá... Era ele. O sol da tarde tocava a pele com um calor gostoso, sem exageros. As árvores ao redor da piscina da casa de Pathy ofereciam sombra natural e uma brisa que aliviava o calor. As risadas ecoavam leves, e tudo parecia tão simples, tão perfeito. Lana, Lena e Nice desceram pela varanda dos fundos, cada uma vestindo suas saídas de banho feitas à mão: camisetas finas de crochê, coloridas e elegantes, sobre os biquínis. O crochê era criação delas — herança da mãe, que desde pequenas ensinava o valor de saber costurar, bordar, criar com as próprias mãos. E agora, ali, cada ponto daquela renda leve parecia brilhar com o orgulho da juventude bem vivida. Lana usava um biquíni azul-marinho, com a saída branca de crochê por cima. Lena estava de verde-água, contrastando com os cabelos castanhos claros. E Nice, com o biquíni preto e a saída vermelha combinando com os cabelos ruivos e os olhos verdes. Estavam lindas. Sem esforço. Autênticas. Patrícia já estava dentro da piscina, com óculos escuros e uma taça de suco nas mãos, quando levantou a cabeça e sorriu. — Olha quem chegou! — ela anunciou, animada. — Oi, mano! O que aconteceu? Patrick, elegante como sempre, vestindo bermuda bege, camisa de linho branca e o charme de quem tenta disfarçar um vendaval por dentro, respondeu com um meio sorriso: — Deu saudade. — Hem?— ela estreitou os olhos — Achei que sim. Olha quem eu trouxe pra cá hoje. A primeira vez delas aqui na minha casa. As minhas amigas! Patrick olhou em direção às três que estavam do outro lado da piscina e seus olhos percorreram, devagar, cada detalhe. Ele respirou fundo, com discrição. Louis parou ao lado dele e soltou uma gemidinha baixa, do tipo que tenta se esconder mas não consegue. Harry tirou os óculos escuros devagar e soltou: — Santo Deus, isso aqui virou desfile de monumentos? Patrick deu um leve sorriso e respondeu: — Que dia bonito pra ver quatro botões de rosas lindos enfeitando essa piscina. Louis cochichou: — Se isso for jardim, eu sou o regador oficial. Harry deu risada, depois fingiu tropeçar. — Vou lá dentro falar com o papai e com a mamãe antes que eu me afogue sem nem entrar na água — anunciou. Patrick ergueu uma sobrancelha. — Está á fugindo? —Estou, tentando sobreviver. Louis foi atrás, e os três entraram pela porta lateral da casa. Quando fecharam a porta, Harry se virou, pálido: — Vocês viram? Pelo amor de Deus, eu nunca fui homem de me apaixonar por roupa de crochê, mas aquilo ali... é tortura. — E quando elas tirarem as blusas, será que a gente aguenta? — Louis completou, se abanando com a própria mão. — Eu acho melhor a gente ficar de bermuda mesmo — Harry sugeriu. — Se botar sunga, vai ficar feio. A gente vai ficar armado. Literalmente. Louis riu alto. — Melhor a gente fingir que veio só conversar, né? Patrick encostou na parede e soltou: — Vocês estão no mesmo barco que eu? — Parece que sim — responderam em uníssono. Harry balançou a cabeça. — O feitiço, está virando contra o feiticeiro. Patrick deu um leve tapa na nuca dele e respondeu: — Boca fala, boca apaga. Os três se olharam e riram. Mas no fundo, sabiam: estavam perdidos. E, dessa vez, talvez não quisessem se encontrar.
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