Era como se o tempo tivesse parado ali, entre o cheiro de baunilha das forminhas recém-assadas e o calor do sol entrando pela janela da cozinha. A mãe estava com um pano de prato sobre o ombro, rindo baixinho das filhas enquanto recheava os cupcakes com doce de leite.
Lena ajudava com as etiquetas. Nice ajeitava as caixas. E Lana, com os cabelos presos num coque torto, não conseguia parar de sorrir — nem lembrar do jeito que Patrick a olhava na noite anterior.
Francisco, o pai, apareceu na porta da cozinha com a camisa aberta até o peito, suado e com uma chave de f***a na mão.
— E então, como foi a tal da boate?
Lena foi a primeira a responder, animada:
— Foi incrível, pai! Tava tudo lindo, o lugar é maravilhoso, e a gente dançou muito!
Nisse completou:
— E os meninos que estavam com a gente foram super respeitosos. O Harry e o Louis ficaram cuidando da gente, acredita?
O pai franziu o cenho, cruzando os braços.
— Harry e Louis conheço esses nomes. São do ramo dos empresários, não são?
Lana assentiu, ainda sorrindo:
— Sim, pai. São amigos do Patrick, nosso chefe.
Francisco coçou a cabeça e soltou um grunhido.
— Tomem cuidado com o Sr. Harry e o Sr. Louis. Eles são gente boa, mas têm fama de serem meio... playboys.
Lena riu, divertida:
— Pode deixar, pai. Nós estamos com os dois pés no chão.
Lana ergue uma sobrancelha e brincou:
— Até parece que eu vou cair na lábia de algum deles, né, pai?
— Nem se preocupe, tio — Nisse emendou, colocando a mão no coração com drama. — A gente só dá moral pra quem merece.
Francisco sorriu, relaxando o semblante:
— Eu sei que vocês têm juízo. Mas o pai aqui nunca deixa de avisar.
As meninas se entreolharam e voltaram a rir.
Era isso. A leveza de estar em casa. A segurança do afeto simples.
Aquele tipo de sábado em que a alma respira.
Minutos depois, já limpando a bancada, o celular de Lana vibrou com uma notificação.
Ela atendeu.
— Oi, Pathy!
Do outro lado, a voz animada da prima veio clara:
— Convidei umas amigas pra passar a tarde aqui em casa. Trouxe umas besteiras, minha mãe tá fazendo torta de frango, e... a piscina tá um convite! Vem com a Lena e a Nisse, por favor!
Lana sorriu.
— Ai, Pathy, hoje é dia de ajudar a mamãe...
A mãe, que ouvira tudo, limpou as mãos no avental e interrompeu:
— Vão sim. Eu darei conta aqui. Faz tempo que vocês não se divertem. E a Patrícia é uma menina maravilhosa.
Francisco, já se afastando com uma vassoura nas mãos, completou:
— Isso mesmo. Vai lá aproveitar, minha filha. Só tomem cuidado com os olhos de certos rapazes.
Todas riram. De novo.
Lena já subia para o quarto animada, Nice foi pegar o biquíni emprestado que guardava na mochila, e Lana, bem, Lana estava com o coração leve. E ao mesmo tempo,acelerado.
Ela nem imaginava que quem também apareceria por lá...
Era ele.
O sol da tarde tocava a pele com um calor gostoso, sem exageros. As árvores ao redor da piscina da casa de Pathy ofereciam sombra natural e uma brisa que aliviava o calor. As risadas ecoavam leves, e tudo parecia tão simples, tão perfeito.
Lana, Lena e Nice desceram pela varanda dos fundos, cada uma vestindo suas saídas de banho feitas à mão: camisetas finas de crochê, coloridas e elegantes, sobre os biquínis.
O crochê era criação delas — herança da mãe, que desde pequenas ensinava o valor de saber costurar, bordar, criar com as próprias mãos.
E agora, ali, cada ponto daquela renda leve parecia brilhar com o orgulho da juventude bem vivida.
Lana usava um biquíni azul-marinho, com a saída branca de crochê por cima.
Lena estava de verde-água, contrastando com os cabelos castanhos claros.
E Nice, com o biquíni preto e a saída vermelha combinando com os cabelos ruivos e os olhos verdes.
Estavam lindas.
Sem esforço.
Autênticas.
Patrícia já estava dentro da piscina, com óculos escuros e uma taça de suco nas mãos, quando levantou a cabeça e sorriu.
— Olha quem chegou! — ela anunciou, animada. — Oi, mano! O que aconteceu?
Patrick, elegante como sempre, vestindo bermuda bege, camisa de linho branca e o charme de quem tenta disfarçar um vendaval por dentro, respondeu com um meio sorriso:
— Deu saudade.
— Hem?— ela estreitou os olhos — Achei que sim. Olha quem eu trouxe pra cá hoje. A primeira vez delas aqui na minha casa. As minhas amigas!
Patrick olhou em direção às três que estavam do outro lado da piscina e seus olhos percorreram, devagar, cada detalhe. Ele respirou fundo, com discrição.
Louis parou ao lado dele e soltou uma gemidinha baixa, do tipo que tenta se esconder mas não consegue.
Harry tirou os óculos escuros devagar e soltou:
— Santo Deus, isso aqui virou desfile de monumentos?
Patrick deu um leve sorriso e respondeu:
— Que dia bonito pra ver quatro botões de rosas lindos enfeitando essa piscina.
Louis cochichou:
— Se isso for jardim, eu sou o regador oficial.
Harry deu risada, depois fingiu tropeçar.
— Vou lá dentro falar com o papai e com a mamãe antes que eu me afogue sem nem entrar na água — anunciou.
Patrick ergueu uma sobrancelha.
— Está á fugindo?
—Estou, tentando sobreviver.
Louis foi atrás, e os três entraram pela porta lateral da casa. Quando fecharam a porta, Harry se virou, pálido:
— Vocês viram?
Pelo amor de Deus, eu nunca fui homem de me apaixonar por roupa de crochê, mas aquilo ali... é tortura.
— E quando elas tirarem as blusas, será que a gente aguenta? — Louis completou, se abanando com a própria mão.
— Eu acho melhor a gente ficar de bermuda mesmo — Harry sugeriu. — Se botar sunga, vai ficar feio. A gente vai ficar armado. Literalmente.
Louis riu alto.
— Melhor a gente fingir que veio só conversar, né?
Patrick encostou na parede e soltou:
— Vocês estão no mesmo barco que eu?
— Parece que sim — responderam em uníssono.
Harry balançou a cabeça.
— O feitiço, está virando contra o feiticeiro.
Patrick deu um leve tapa na nuca dele e respondeu:
— Boca fala, boca apaga.
Os três se olharam e riram.
Mas no fundo, sabiam: estavam perdidos.
E, dessa vez, talvez não quisessem se encontrar.