####O PEDIDO DE PERDÃO

1464 Words
O Nome Que Rasgou o Silêncio O relógio marcava quase oito da noite quando Dreew entrou na ala intensiva. Vestia roupas simples, mas o semblante denunciava dias sem dormir. Cada passo até a porta da UTI parecia pesar uma tonelada. Ele higienizou as mãos, vestiu o jaleco descartável, a máscara… e respirou fundo antes de entrar. Ali estava ela. Maris. Frágil, pálida, perdida entre fios e monitores. Um corpo que já havia enfrentado a morte… mas agora lutava para segurar a vida. Por um instante, ele parou na porta, sentindo a garganta queimar. As lembranças vieram como uma enxurrada: os anos juntos, os erros, as palavras cortantes, as decisões que os afastaram. E agora… aquilo. Uma enfermeira se aproximou, com tom calmo: — Ela está sob efeito leve da sedação. Pode ouvir, mas ainda não vai conseguir falar direito. Evite emocioná-la demais, tudo bem? Qualquer alteração, eu volto. Ele assentiu, mas o coração dele estava em pedaços. Caminhou devagar até a beira do leito e segurou a grade da cama com força. Os olhos dela estavam fechados, mas as pálpebras tremiam. — Maris… — sussurrou, a voz embargada. — Sou eu. Dreew. E então aconteceu. As pálpebras dela se ergueram lentamente. Primeiro, um olhar turvo, confuso… depois, o reconhecimento. As lágrimas brotaram nos olhos dela sem pedir licença. — Maris… estou aqui. — Ele aproximou a mão, hesitante. — Não precisa ter medo. Eu não vou sair. Ela fez um esforço sobre-humano para erguer os dedos. A mão fraca tremeu no ar, perdida. Dreew não esperou: segurou-a entre as suas, com delicadeza, como quem segura algo sagrado. Foi então que ele ouviu. Um som rouco. Arranhado. Mais ar do que voz. — D… Dree…w… O coração dele parou por um segundo. — Sou eu, estou aqui. Sou eu. Os lábios dela se moveram de novo, tentando formar outra palavra. Um chiado quase inaudível escapou, junto com uma lágrima quente: — P… per…dão… Dreew sentiu o peito se despedaçar. Apertou a mão dela com suavidade, as lágrimas agora correndo livres pelo rosto. — Shhh… não fala. Não força. Não precisa me pedir perdão. — Ele se inclinou e beijou a testa dela, com reverência. — Eu só quero você viva. Eu só quero que você fique e bem. O monitor apitou levemente, sinalizando o aumento da frequência cardíaca. A enfermeira lançou um olhar rápido pela porta, mas não interveio. Sabia que aquele momento valia mais do que qualquer remédio. Maris fechou os olhos devagar, exausta… mas com a mão ainda presa à dele. Como se aquele toque fosse a âncora que a manteria no mundo. E, pela primeira vez em quase trinta dias, o vazio dela começou a se encher de esperança. As pálpebras dela se ergueram lentamente. Primeiro, um olhar turvo, confusos e depois, o reconhecimento. As lágrimas brotaram nos olhos dela sem pedir licença. — Maris… estou aqui — ele disse, com a voz baixa e controlada. — Pode ficar tranquila. Você está segura agora. Ela fez um esforço sobre-humano para erguer os dedos. A mão fraca tremia no ar, sem direção. Dreew não hesitou: segurou a dela entre as suas, com o cuidado de quem segura uma coisa rara e delicada. Foi então que ele ouviu. — D… Dree…w… Ele se aproximou um pouco mais, com os olhos marejados. — Sou eu. Estou aqui. Pode descansar. Os lábios dela se moveram de novo, tentando formar outra palavra. Saiu apenas um chiado entrecortado de lágrimas: — P… per…dão… Dreew fechou os olhos por um momento, sentindo o nó se formar na garganta. Depois, apertou levemente a mão dela e respondeu com firmeza, sem precisar de muito: — Não fala agora. Você precisa se poupar. — A gente conversa depois, com calma. Eu estou aqui, e vou continuar por perto, como for preciso. O Choro Que Rompe o Silêncio Maris mantinha os olhos fixos nos de Dreew, como se temesse que ele desaparecesse se piscasse. A mão dela ainda estava presa à dele, fraca, mas agarrada com o que restava de força emocional. E então, as lágrimas vieram de vez. Não foram suaves. Nem controladas. Vieram como um rio represado por décadas de dor, culpa, medo e saudade. O corpo ainda imóvel… mas a alma gritava em lágrimas. O peito dela subia e descia com esforço. O choro era silencioso, mas o rosto contorcido falava por si. A respiração ficou irregular. — Enfermeira! — Dreew chamou imediatamente, preocupado. — Por favor, ela está chorando… ela tá ficando agitada! A enfermeira entrou no quarto em segundos, analisando o monitor cardíaco e os sinais vitais. — Frequência elevada. Respiração superficial. Ela se virou para o interfone: — Chamem o neurologista plantonista e a psicóloga. Agora. Dreew afastou-se um pouco, respeitando o espaço, mas manteve o olhar nela, o coração apertado. Queria abraçá-la, mas sabia que não podia. Ela estava vulnerável demais. Maris fechou os olhos com força, como se quisesse fugir de tudo aquilo — do presente, do passado, da dor. Os ombros se contraíram num tremor fraco. Os soluços começaram a aparecer. — Ela está consciente, mas emocionalmente desorganizada. — disse a psicóloga ao chegar, se aproximando com voz suave. — Vamos manter estímulo verbal apenas. Sem toque por enquanto. O neurologista entrou em seguida, analisando o estado dela: — Ela está respondendo emocionalmente ao reencontro. É esperado. Mas precisamos evitar exaustão neurológica. Vamos acompanhar por alguns minutos antes de qualquer medicação. A psicóloga se abaixou, na altura do olhar de Maris, e falou com doçura: — Maris… você está segura. Pode chorar, sim. Pode sentir. Mas não está sozinha. Estamos aqui. Respira devagar, tudo bem? Maris tentou obedecer. Os olhos voltaram-se rapidamente para Dreew, buscando nele a âncora que sua alma ainda reconhecia. A psicóloga notou. — Você quer que ele fique? Maris piscou devagar. Duas vezes. — Então ele fica. Mas só se você quiser. Aqui é o seu tempo, o seu momento. O neurologista anotava observações. Os monitores voltaram a estabilizar lentamente. O choro ainda vinha, mas menos convulsivo, mais profundo. Era um choro de alma lavando dor. Maris, mesmo tão frágil, estava vivendo. E aquele choro… era o primeiro passo para renascer. Onde Está Minha Filha? O ambiente da UTI estava em silêncio tenso. A psicóloga permanecia ao lado da cama, observando a paciente com olhos atentos. O neurologista havia terminado a avaliação inicial e recuado para analisar os dados vitais no monitor. A enfermeira mantinha as mãos preparadas para qualquer intervenção, mas… por ora, tudo estava sob controle. Dreew permanecia em pé, um passo atrás, as mãos trêmulas e os olhos vermelhos. A emoção da cena anterior ainda pesava no ar, como um véu. Maris piscou devagar, como se cada movimento exigisse energia que o corpo ainda não tinha. A voz, quando veio, foi um sussurro rouco… quase imperceptível. A psicóloga teve que se inclinar um pouco mais para captar o som. — B… Britt… an… y… A psicóloga olhou para Dreew, depois voltou-se para ela com cuidado. — Você está perguntando pela Brittany? Maris assentiu levemente com os olhos, enquanto uma nova lágrima escorria pela lateral do rosto. Os lábios rachados se moveram de novo, num sussurro seco: — Onde… ela…? Dreew se aproximou, com o coração em pedaços. A psicóloga se adiantou, segurando o momento com a serenidade que a situação exigia. — Maris, sua filha está bem. Ela está sendo acompanhada, em repouso. Está segura. Mas… ainda não sabe que você despertou. A psicóloga que a acompanha vai preparar esse encontro com muito cuidado, tá bom? Os olhos de Maris brilharam de novo. Era a dor de uma mãe. A dúvida. A vontade de proteger mesmo sem forças. — Ela… sabe… que eu... estou viva? A psicóloga hesitou por um segundo, depois respondeu com honestidade calma: — Ela não sabe o que aconteceu com você, ele teve os bebês prematuros . Mas a condição dela também é delicada. Ela está no mesmo hospital, e está sendo cuidada com muito amor. E você… vai reencontrá-la. No tempo certo. Quando as duas estiverem prontas. Maris fechou os olhos, apertando-os como quem deseja apagar a dor. — Dree…w… cuida… — Eu estou cuidando, Maris — respondeu ele, engolindo a emoção. — Da Brittany dos bebês. E de você também, no que me for possível. Ela tentou sorrir, mas o rosto m*l obedeceu. Apenas uma lágrima silenciosa foi sua resposta. A psicóloga se aproximou e tocou de leve no braço dela: — A sua filha vai ficar muito feliz em te ver. Mas agora… você precisa descansar. A sua recuperação é a chave para esse reencontro acontecer. Maris assentiu fracamente, os olhos pesando. O cansaço tomou conta de novo. Mas dessa vez… era um cansaço mais sereno. Ela tinha ouvido o que precisava. Brittany estava viva. Estava ali. E estava esperando.
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