Drew observava em silêncio. Havia algo diferente na casa… na atmosfera. Mas principalmente nela.
Maris, sua ex-esposa, já não era mais aquela mulher altiva, superficial e imprevisível que um dia o fez duvidar do amor. Agora, ele enxergava outra coisa. Outra mulher.
Desde que ela voltara do hospital, determinada a reconstruir não apenas seu corpo, mas também sua essência, ele passou a vê-la com outros olhos. A nova Maris era uma mulher mais serena, mais centrada, e acima de tudo... mais humana.
Ele via a maneira como ela tratava Teresa com humildade e gratidão. E como respeitava os funcionários da casa, chamando-os pelo nome, agradecendo por cada gesto, cada bandeja trazida, cada flor rearranjada. Já não se ouvia ordens cortantes ou exigências desnecessárias. Os olhares que antes se desviavam, agora a acompanhavam com afeto e respeito. Ela não era mais temida. Era admirada.
E isso… isso mexia com ele.
Drew respirou fundo e cruzou os braços, encostado discretamente na porta do escritório enquanto as duas mulheres sorriam e sonhavam com a futura delicatessen. Teresa não percebeu, mas Maris o viu ali — e, por um instante, seu olhar se encontrou com o dele. Ele desviou, coçando a nuca, como um adolescente pego em flagrante admirando a garota mais improvável da escola.
Mais tarde, naquele mesmo dia, ao lado da lareira da sala, Drew se aproximou dela com um sorriso misterioso.
— Tenho uma surpresa para você, Maris.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Surpresa?
— Sim. Eu estou indo agora buscar a nossa filha... Ou melhor, o Richard já está vindo com a Brittany e os bebês. Eles tiveram alta hoje. Ela resolveu sair definitivamente do hospital.
Os olhos de Maris se encheram de emoção, e sua mão foi ao peito, num gesto espontâneo.
— Os bebês... já estão em casa...
— Sim. E ela vai ficar aqui por um tempo — explicou ele com calma. — Um mês, mais ou menos. Ela quer organizar um casamento. Disse que será algo íntimo, apenas com as pessoas mais próximas. Nada de pompa ou excessos. Ela mesma confessou que não seria coerente com o momento que eles estão vivendo.
Maris assentiu com leveza.
— É o mais sensato. Eu só espero que minha filha seja feliz. Isso é o que realmente importa agora.
Drew se aproximou mais, seus olhos fixos nela.
— Ela está feliz, Maris. Muito mais do que nos últimos tempos. Desde que o Richard a procurou, tem visitado ela e os gêmeos todos os dias. Isso mudou tudo. Ela voltou a sorrir. E os bebês reagiram melhor também. A Brittany está vivaz, presente... cheia de vida.
Ele riu, balançando a cabeça.
— E olha... ela resolveu abandonar de vez aquelas dietas malucas. Disse que está se achando linda com o novo corpo. Um pouco mais cheinha, sim... Mas, convenhamos... Antes ela parecia um mosquito. Agora ela virou uma mulher de verdade.
Maris deu uma gargalhada sincera, daquelas que aquecem o coração.
— Você não presta, Drew.
— Só estou sendo honesto. E tem mais uma coisa... — ele ajeitou o colarinho e piscou. — Eu vou investir em marketing para o negócio de vocês. Quero ver o nome de vocês estampado em tudo que for doce, delicado e delicioso nessa cidade.
Ela sorriu surpresa.
— Drew...
— Não precisa agradecer. E antes que você diga que não merece, deixa eu te contar um segredo... — Ele se inclinou levemente e sussurrou com um olhar que não escondia mais o que sentia: — Você está se tornando a mulher que eu sempre sonhei. E está linda assim… exatamente como é.
Maris ficou em silêncio. Pela primeira vez em muito tempo, sem palavras. Apenas com o coração batendo mais rápido e uma nova esperança nascendo onde antes só havia ferida.
Antes que Maris pudesse dizer mais alguma coisa, a governanta se aproximou da sala com um sorriso discreto e um brilho nos olhos:
— Senhor Drew, Senhora Maris a senhorita Brittany chegou com o senhor Richard e os bebês.
O coração de Maris acelerou, e ela automaticamente ajeitou os cabelos no coque, limpando as mãos nas pernas, como se estivesse prestes a reencontrar o próprio passado.
Drew se levantou devagar, ofereceu a mão a ela com gentileza e um sorriso tranquilo.
— Vamos, Maris. Vamos receber a nossa filha... os nossos netos... e o nosso futuro genro.
Ela colocou a mão sobre a dele e, por um instante, seus olhos se encontraram como nos velhos tempos, mas agora com outra profundidade — mais madura, mais leve, mais sincera.
— Você preparou tudo? — ela perguntou, admirada.
— Mandei preparar a suíte principal para ela. A Brittany vai precisar de espaço, e a antiga suíte dela é muito pequena. Não vai querer se separar dos bebês, então pedi que colocassem três berços maiores no quarto, lado a lado, próximos à cama. Assim ela pode cuidar deles com mais conforto.
Maris piscou, surpresa.
— Você é tão atencioso, Drew, como eu não percebi isso antes?
Ele a olhou com doçura e respondeu, sereno:
— Porque nós dois estávamos ocupados demais vivendo as nossas vidas... sem realmente nos enxergarmos um ao outro. Foram necessários muitos percalços... traições... mentiras... para a gente acordar. E, claro, um divórcio.
Ela sorriu, com aquele sorriso entre a tristeza e a esperança.
— Drew, você acha que nós podemos recomeçar? Digo não como marido e mulher, necessariamente. Mas como amigos?
Ele apertou de leve a mão dela e disse, com um brilho no olhar:
— Ser amigos nós já somos, Maris. O que vier depois... a vida vai mostrar. Vamos viver um dia de cada vez?
Ela assentiu. O coração está calmo, mas cheio de promessas. A alma leve, como quem finalmente entende que o amor, às vezes, precisa ser reconstruído do zero... com tijolos de perdão, respeito e parceria.
E, lado a lado, caminharam para a porta... prontos para acolher uma nova geração. E, quem sabe, para escrever um novo capítulo da própria história também.
Quando Richard entrou pela porta trazendo dois bebes com delicadeza, a enfermeira Helena veio logo atrás com uma bolsa térmica nas mãos e um sorriso caloroso. Brittany trazia um brilho novo no olhar e o menino no colo — mais suave, mais doce, mais mulher.
Assim que Maris os viu, seus olhos se encheram de emoção. Ao deparar-se com os berços cuidadosamente arrumados na suíte e os três pequenos rostinhos tranquilos, ela levou as mãos à boca e murmurou com lágrimas nos olhos:
— Meu Deus do céu… como eles são lindos... — sua voz saiu como um sussurro encantado.
Brittany sorriu, emocionada, e com aquele humor que só ela sabia fazer caber nos momentos mais inesperados, disse:
— Foi o descuido mais perfeito que eu já cometi na minha vida.
Richard olhou para ela, cúmplice, e completou com um meio sorriso:
— Nosso erro perfeito. E, sinceramente? Eu cometeria esse erro mais mil vezes, se fosse pra ter eles e você.
Mari abaixou-se com dificuldade, mas Dreew. veio logo ajudá-la, apoiando-a com carinho. Ela tocou de leve a mão da filha e, depois, afagou um dos bebês que dormia tranquilamente:
— Que bênção esses anjos… eles vão mudar a sua vida, Brittany, como você mudou a minha — sussurrou.
Richard falou com respeito, voltando-se para Dreew:
— Dreew eu já quitei todas as despesas do hospital, como era minha obrigação. Mas… eu sei que o senhor teve muitos custos com a estadia da Britney e os bebês aqui, e eu gostaria de ressarcir tudo. Não por formalidade, mas porque é meu dever como pai e como homem.
Dreew fez um gesto com a mão, recusando com elegância:
— O mais importante era garantir que todos estivessem bem. Mas fico feliz em ver essa sua postura, Richard. Você está se tornando o homem que eu sempre quis que minha filha encontrasse.
Richard respirou fundo, visivelmente tocado, e então disse com firmeza:
— Brittany quer passar esse mês aqui com vocês, até o casamento. Enquanto isso, vamos reformar a casa e ela mesma quer decorar o quartinho dos bebês. Eu… queria pedir permissão para ficar hospedado aqui também, nesse período. Só até a casa ficar pronta. Se não for incômodo...
Maris e Dreew se entre olharam e sorriram. Dreew foi o primeiro a responder:
— Claro que sim. Já providenciei a suíte ao lado dela, justamente pensando nisso.
Richard agradeceu com um aceno respeitoso e, em seguida, olhou para o sogro com olhos esperançosos:
— Pensamos em fazer uma cerimônia íntima. Nada de pompa. Só pessoas que realmente nos amam. E gostaríamos de fazer no jardim da casa. Lá mesmo ele se tornaria nosso lar. O você concorda?
Dreew assentiu com um sorriso sincero e respondeu:
— Concordo sim. E mais do que isso, eu abençoo esse recomeço. Porque o amor, quando é verdadeiro, não precisa de muitos convidados… só de verdade.