O apartamento estava silencioso, abafado, tenso. Brittany largou a bolsa com força sobre o sofá, sem se importar se ia riscar o couro. A mãe dela veio logo atrás, arrastando duas malas com expressão carregada de desprezo.
— Pode ir se acostumando. Esse lugar aqui agora é nosso — Brittany falou com desdém, cruzando os braços.
— Nosso? — a mãe rebateu com um riso sarcástico. — Você tá mesmo achando que isso aqui é vitória? Isso aqui é o resto da vergonha que você me fez passar, Brittany! Você destruiu a minha vida!
Brittany virou bruscamente.
— A sua vida? Você acabou com a sua sozinha! Ele descobriu suas traições! Você achava mesmo que ia enganar o Drew pra sempre?
— E você?! — a mãe avançou dois passos, dedo em riste. — Você foi pega transando com um homem casado dentro da empresa onde o seu noivo era CEO! Você jogou fora um casamento, um sobrenome, um futuro! Você fez isso, não fui eu!
— Você fez igual! A diferença é que você já era velha demais pra essas palhaçadas!
— E você é burra demais pra disfarçar as suas!
O silêncio que seguiu foi cortante. As duas se encararam como duas feras feridas, cada uma vendo no espelho da outra os próprios fracassos. Sem mais palavras, se afastaram, uma indo para o quarto, a outra para a varanda, cada uma remoendo a sua dor.
— Você me envergonha — a mãe de Brittany cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Nunca imaginei que um dia fosse ter que olhar nos olhos da minha própria filha e ver uma vergonha pública. E sabe o que é pior? Que no fundo... no fundo eu vejo você repetindo cada passo errado que eu mesma dei.
Brittany arregalou os olhos.
— Ah, não. Agora vem com esse papinho de lição de moral, é? Logo você! A mulher que passou a vida escondendo amantes atrás de viagem de spa?
— Cale a boca! — a mãe explodiu, tremendo. — Eu pelo menos mantinha as aparências! Você não teve nem o cuidado de ser discreta! Você foi flagrada no sofá da sala de reuniões da empresa, com um homem casado! O noivo era o CEO, minha filha! O CEO!
— E você acha que o Drew foi um santo a vida inteira? — Brittany cuspiu de volta, os olhos marejando de raiva. — Ele já sabia de tudo! Você só foi pega porque ficou descuidada! Agora quer jogar tudo em cima de mim?
A mãe dela deu um passo à frente, erguendo o queixo com desdém.
— Diferente de você, eu não fui expulsa da sociedade. Você foi. Você perdeu tudo! O anel, o nome, o prestígio... Agora tá aqui, dividindo um apartamento de segunda com a mulher que você sempre desprezou: eu. E quer saber? Você merece.
Brittany ficou muda por um instante. O silêncio bateu pesado, como se o ar tivesse sido sugado do cômodo.
Ela olhou ao redor. Vi o papel de parede descascando perto da cozinha americana, o piso riscado, a mobília que não era dela, não era de ninguém — era alugada.
Ela já não estava na cobertura. Já não tinha as roupas novas da última estação. E agora... nem o sobrenome importava mais. O Drew tinha colocado o nome da casa no nome dela — mas aquilo não era presente. Era sentença.
— Você está falando isso agora — Brittany murmurou, com a voz mais baixa, mas carregada de fúria. — Mas vai ver quando eu virar o jogo. Eu ainda vou dar a volta por cima, mãe. Pode anotar.
— A diferença é que, para dar a volta por cima, a gente precisa parar de cavar para baixo — respondeu a mãe, fria. — E você ainda tá com a pá na mão.
Brittany não respondeu.
Foi até o armário, puxou uma garrafa de vinho barato e um copo, e se trancou no quarto.
Por enquanto.
Porque em sua cabeça, só existia uma ideia martelando:
Alguns dias se passaram. Brittany tentava a todo custo manter uma postura altiva nas redes sociais. Postava fotos antigas, relembrava eventos de gala, fingia que ainda era a queridinha da sociedade. Mas a verdade é que os convites haviam cessado, os telefonemas evaporaram. Ela estava se tornando uma pária. Igual à mãe.
Na quarta-feira à tarde, mexendo em suas notificações do celular, uma foto chamou sua atenção. Era um registro tirado do Stories de uma das ex-colegas de trabalho — uma funcionária do setor de marketing que ainda era sua seguidora por descuido.
Era apenas uma imagem: o portão de uma casa luxuosa com jardim impecável e um pequeno coração na legenda: “Uma noite dessas ”.
Mas Brittany reconheceu. A fachada era de um condomínio fechado onde ela já tinha ido em uma festa da empresa. E aquela foto? Aquela foto tinha o reflexo do vidro da porta, e naquele reflexo…
— Não pode ser... — sussurrou.
Ampliou a imagem. Seu sangue ferveu.
Lana.
Era noite de sexta-feira. As luzes do prédio de luxo onde Patrick morava se refletiam no vidro escuro do carro de Brittany, que parou a poucos metros da entrada lateral, onde sabia que o elevador privativo dava acesso direto à cobertura.
Ela não tinha sido convidada. Nem esperada. Mas sabia que aquele era o horário em que Patrick costumava chegar em casa. E se tinha alguém que conhecia os hábitos dele, essa era ela.
Vestida com um sobretudo bege e óculos escuros, Brittany se acomodou no banco de trás do carro de aplicativo que pediu com nome falso. Não queria ser reconhecida. Apenas confirmar com os próprios olhos o que já suspeitava.
— Ele tem outra — murmurou para si mesma, apertando a alça da bolsa.
Então viu.
O carro de Patrick entrou na garagem. Segundos depois, um outro carro parou em frente à portaria. Era Lana.
Lana desceu sorrindo, vestida com um vestido discreto, sapatos baixos e cabelo preso em um coque despretensioso. Trazia nas mãos uma sacola com algo embrulhado cuidadosamente.
— Ela... — Brittany arregalou os olhos, o coração disparando. — Aquela... aquela garota!
Viu Patrick surgir do elevador, lá dentro, vindo recepcionar. Vestido casualmente, de camisa branca com as mangas dobradas e calça escura, ele a cumprimentou com um beijo no rosto que Brittany reconheceria de longe. Aquele olhar. Aquele gesto protetor com a mão nas costas dela.
Não era casual.
Era i********e.
Era carinho.
Era o mesmo olhar que um dia foi só dela.
O segurança da portaria se curvou com respeito. O porteiro sorriu ao vê-los juntos. E os dois sumiram porta adentro.
— Desgraçada... — Brittany sibilou, sentindo as unhas cravar na palma da própria mão. — É por isso que ele não me quis mais... é por isso que tudo desmoronou...
As lágrimas começaram a escorrer, mas ela as limpou com raiva. Ligou para alguém. A voz estava embargada, mas firme.
— Me leva embora daqui. Agora. E me arranja o número daquele jornalista da coluna de fofocas. Eu vou acabar com esse circo.
Mas, antes de desligar, murmurou com amargura:
— Você vai se arrepender, Lana Ferreira Alves... você não sabe com quem mexeu.
Aquela vaca estava ali. No condomínio do Patrick. Na casa dele. No lugar dela.
Ela jogou o celular na cama, os olhos faiscando.
— Eles acham que vão ficar rindo da minha cara assim? Isso vai mudar agora.
"A Lana pode até ter vencido uma batalha... mas essa guerra ainda tem capítulos."