O expediente estava encerrando quando Shirley se aproximou da mesa de Lana com um sorriso carinhoso.
— Querida, se você quiser, eu posso ir com você na consulta, tá? Te dou carona, espero lá fora, qualquer coisa...
Lana agradeceu com um sorriso gentil, tocando levemente a mão da amiga.
— Não precisa, Shirley. Eu pedi pra minha irmã e minha prima irem comigo. Elas já estão me esperando lá na clínica.
Shirley a observou por um segundo, então sorriu com carinho e perguntou baixinho:
— Mas... você vai mesmo esperar até o casamento?
Lana soltou um suspiro resignado e cruzou os braços com um ar de rendição divertida.
— Eu ia, né? Mas aí o Henry chegou com aquela bocona dele, falando e insinuando que eu estava grávida... O Patrick está com a pulga atrás da orelha desde cedo. Amanhã, quando eu vier, já vou ter que entregar o presente antes do casamento.
Shirley riu com gosto.
— O Henry não tem jeito mesmo, menina. Mas olha... acho que é melhor assim. E o seu Patrick... ah, ele vai ficar radiante.
Lana assentiu, os olhos brilhando.
— Eu também acho.
Pouco depois, Lana chegou à clínica, onde Lena e Nice já a aguardavam na recepção. Assim que ela apareceu, Lena se levantou com um sorriso largo.
— Tá pronta, mamãe?
Lana revirou os olhos, sorrindo.
— Menos, Lena. Vamos com calma, né?
As três entraram na sala de ultrassom depois de passarem pelo consultório da obstetra indicada por Shirley. A médica, uma senhora de aparência maternal e voz suave, as recebeu com simpatia.
— Então você é a Lana... ouvi coisas lindas sobre você. A Shirley falou muito bem.
— Ela me ajudou com tudo — respondeu Lana com sinceridade. — Me orientou, me acalmou... e me trouxe até aqui.
A médica sorriu e a conduziu para a sala ao lado.
— Vamos ver como está esse pequeno milagre?
Lana deitou na maca, arregaçando a blusa com as mãos um pouco trêmulas. Nice e Lena ficaram perto, observando curiosas. Assim que o gel frio tocou sua barriga e o monitor começou a exibir as imagens, a médica estreitou os olhos com um ar surpreso.
— Opa... você me disse que era a sua primeira gravidez?
— Sim... por quê?
— Hm... me diga uma coisa... na sua família tem casos de gestações gemelares?
Lana piscou, confusa.
— Não que eu me lembre...
— Tem sim — interrompeu Lena, animada. — Você esqueceu da tia Joana? Irmã da mamãe? Ela teve três gêmeos de uma vez só. Nasceu um batalhão!
Lana arregalou os olhos.
— É verdade... minha tia!
A médica riu e apontou para o monitor.
— Pois parece que você puxou pra ela. Aqui, tá vendo? Uma, duas... três bolinhas. Duas compartilham a mesma placenta — são gêmeos idênticos — e essa aqui está sozinha. Provavelmente, dois idênticos e um fraterno.
— Três? — sussurrou Lana, sentando-se um pouco na maca. — Eu... vou ter... trigêmeos?
— Exatamente. Um trio. Pode ser duas meninas e um menino, ou o contrário... ou até três meninas. Só vamos saber com mais precisão no exame de sexagem fetal ou com ultrassom mais detalhado nas próximas semanas.
Lana respirou fundo, as lágrimas já subindo aos olhos.
— Eu... eu quero fazer o teste de sexo. E sagenagem também, se for possível. Eu quero dar esse presente para o meu noivo amanhã.
A médica assentiu, compreensiva.
— Amanhã não conseguimos o resultado, mas você pode ir hoje mesmo ao laboratório e fazer a coleta. Eu já vou te dar a guia. E vou te passar os primeiros medicamentos, vitaminas e orientações alimentares. Como a gestação é múltipla, vamos acompanhar de perto.
— A senhora vai ser minha obstetra, né?
A médica sorriu, emocionada.
— Se você me escolher, será uma honra.
— Foi indicação da Shirley — disse Lana, segurando a mão dela. — Ela me disse que a senhora fez o parto dos três filhos dela... então a senhora vai fazer o meu. Só que os meus três vêm de uma vez só.
A médica riu.
— Então vamos preparar esse coração para muito amor, mamãe.
Lena e Nisse se aproximaram, abraçando a prima com carinho e emoção.
— Ele vai amar esse presente — sussurrou Nice. — E nós já amamos os três.
O Amor Multiplicado por Três
Lana ajeitou-se na maca com a ajuda da médica, ainda digerindo a enxurrada de emoções.
— Então... eu estou com quanto tempo, doutora?
A médica sorriu, digitando no prontuário eletrônico.
— Aproximadamente doze semanas, minha querida. Ou seja, três meses.
— Isso explica tudo — disse Lana, com um sorriso surpreso. — Por isso que eu ando me sentindo mais forte... E minha barriguinha está mais saliente. Começou a aparecer.
— Justamente — confirmou a obstetra. — Ainda mais sendo uma gravidez múltipla. São três bebês crescendo aí dentro. Eles já estão com os principais órgãos formados — coração, coluna, cabeça... estão ganhando peso e tomando forma. Veja aqui — ela apontou na tela do ultrassom — parecem bolinhas, mas cada um já tem o tamanho aproximado de uma ameixa pequena.
Lana observou emocionada, os olhos marejando.
— Meu Deus, três ameixinhas.
A médica riu com ternura.
— A partir de agora, a gente vai acompanhar de perto. Uma gestação gemelar ou múltipla raramente chega até a 39ª ou 40ª semana. O mais comum é o parto ocorrer entre a 34ª e a 35ª, e muitas vezes antes.
— E isso depende do quê?
— Do seu corpo. Da sua pressão, do peso que você ganha, do crescimento dos bebês... Agora, me diga uma coisa: o pai das crianças é alto?
— Tem mais de um metro e noventa — respondeu Lana, orgulhosa.
— E você?
— Um e setenta e cinco.
— Então se prepare. Vão ser bebês grandes. Provavelmente você não vai chegar nem à 35ª semana. E com isso vem a preocupação: risco de diabetes gestacional, pressão alta, sobrecarga muscular e até repouso antecipado. Já vou te encaminhar para uma nutricionista especializada em gravidez múltipla, e você vai começar o acompanhamento hoje mesmo.
Lana assentiu, séria.
— Claro, tudo o que for preciso. Eu só quero que meus bebês fiquem bem.
— Vão ficar, com seus cuidados e o nosso acompanhamento. Mas comece a preparar o enxoval o quanto antes. Não deixe pra última hora. Esses três podem querer nascer antes de você perceber.
Lana soltou uma risada nervosa.
— Ai, meu Deus... Será que eu vou ter que passar por tudo o que a Britney está passando?
A médica levantou os olhos, surpresa.
— Você conhece a Britney?
— Conheço, sim.
A obstetra soltou um sorriso divertido.
— Ah, quem é que não conhece aquela mãezona? Ela simplesmente incorporou a mãe gavião. Está sempre ali, ao lado das incubadoras, perguntando se os bebês estão com fome, se precisam de mais leite, se estão agasalhados... E o mais incrível: ela conta historinhas para eles! Leva livrinhos e fica lendo em voz alta. É lindo de ver.
Lana sorriu, emocionada.
— Ela sempre foi muito intensa.
— Ela está hospedada no próprio hospital. Não sai de lá de jeito nenhum. Só vai embora quando os três estiverem de alta.
A médica finalizou as anotações e estendeu um envelope com a guia para o exame de sexagem fetal.
— Olha, o resultado desse teste costuma demorar de 10 a 15 dias. Mas vale a pena. Vai te trazer tranquilidade e você pode preparar o enxoval com mais planejamento.
— Eu ia querer dar esse presente pro meu noivo amanhã... — murmurou Lana, pensativa. — Mas acho que vou esperar mais um pouquinho. Só de saber que são três, já é uma surpresa e tanto.
— Com certeza — disse a médica. — E o Patrick?
— Ele vai surtar de alegria — respondeu Lana com um brilho nos olhos. — Eu vou até passar ali no berçário, dar uma palavrinha com a Britney... Acho que ela vai gostar de saber que logo logo vai ter companhia no clube das mamães de trigêmeos.
A médica riu, entregando um novo folder com orientações.
— Vá sim. Ela vai adorar. E eu... vou estar aqui com você em cada passo.
— Obrigada, doutora — disse Lana, segurando firme os papéis e o coração. — A partir de agora, tudo muda.