Patrick se afastou da mesa, dizendo que precisava de ar.
Meu coração ainda batia fora do ritmo.
Observei-o atravessar o salão e abrir a porta lateral da área VIP, que dava para uma sacada discreta com vista parcial da cidade. Ele parecia... em conflito. Como se estivesse prestes a fazer algo que vinha evitando há muito tempo.
Talvez fosse mesmo.
Tomei um gole do refrigerante que Louis havia deixado, respirei fundo e fui atrás.
A brisa noturna era suave, carregando o perfume das árvores ao redor do clube. A música vinha abafada lá de dentro, e a cidade parecia um universo distante daquele espaço onde só existíamos nós dois.
Patrick estava encostado na mureta, mãos nos bolsos, olhar distante. Me aproximei em silêncio. Ele virou o rosto quando me sentiu chegar.
— Você está me seguindo, senhorita Lana? — provocou, com um sorriso leve, mas os olhos... ah, os olhos ainda estavam sérios.
— Eu só vim ver se o senhor CEO não tinha se jogado do terraço — brinquei, rindo. — Afinal, você disse que isso aqui não era mais pra você.
Ele assentiu, olhando novamente para a paisagem escura.
— E não é. Pelo menos, não quando se tem vinte e nove anos e a cabeça cheia.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Então ele virou o rosto, se inclinou levemente na minha direção. Senti o calor do corpo dele. E o perfume — sempre aquele perfume amadeirado que me deixava tonta.
— Seu perfume... — murmurou. — É doce. E perigoso.
Eu engoli em seco.
— É só lavanda. Minha mãe faz em casa.
— Claro que é lavanda. Mas em você, parece... outro feitiço.
Ele falou tão baixo que tive a sensação de que havia me beijado com aquelas palavras.
Desviei o olhar, tentando mudar de assunto.
Eu precisava controlar meu corpo antes que ele confessasse coisas que nem minha mente entendia.
— Daqui a pouco meu pai vem buscar a gente — comentei, olhando para a rua lá embaixo. — Ele nos deixou aqui e combinou de voltar. A gente não costuma sair assim. É a primeira vez, na verdade, que ficamos até mais tarde.
— E por que decidiu vir hoje?
— Porque a vida tá passando. E às vezes a gente esquece que tem o direito de respirar. Mas não é nosso costume. Meu pai é muito cuidadoso com a gente... ainda mais depois que minha mãe ficou doente um tempo atrás.
Ele me olhou, atento. Sério.
— E o namorado? — perguntou, como quem joga uma pergunta solta, despretensiosa. Mas havia intenção ali.
Sorri.
— Nunca mais tive. Só namorei uma vez no ensino médio. Mas ele não era o certo. Depois disso, mergulhei nos estudos. Eu e a Lena temos um objetivo, garantir a aposentadoria de nossos pais, que eles tenham uma velhice tranquila. Eles já fizeram demais. Agora é nossa vez.
Patrick me encarou em silêncio. Por um momento, achei que ele fosse falar algo cortante, como os homens que gostam de rotular mulheres que pensam em família.
Mas ele não disse nada. Apenas me olhou com uma expressão que misturava admiração e algo mais... mais íntimo, mais pessoal.
— Você é diferente — murmurou. — Nunca conheci alguém assim.
Dei de ombros, meio sem jeito.
— Eu só sou alguém tentando fazer o certo. E tentando não cair por alguém que devia ser proibido.
Ele me olhou mais uma vez. E dessa vez, a tensão foi palpável.
O tempo parou.
A distância entre nós era curta demais para sermos só patrão e funcionária.
É longa demais para dois corações que batiam no mesmo compasso.
— Vamos voltar antes que seu pai chegue e me mate — ele disse, tentando aliviar o momento.
— Boa ideia.
Mas nós dois sabíamos...
Aquela conversa mudou tudo.
Voltamos juntos para a área VIP.
Eu com as mãos nos bolsos, tentando fingir autocontrole.
Ela com os olhos baixos, como se temesse que o mundo percebesse o que acabara de acontecer entre nós — mesmo que nada tivesse sido, de fato, consumado.
Mas eu sabia.
E ela também.
A linha tinha sido cruzada.
Quando atravessamos a porta de vidro, o clima ao nosso redor mudou. Louis me olhou como quem dizia, eu sabia. Harry, mais discreto, disfarçou a curiosidade com um gole de bebida. Lena e Nice nos acompanharam com os olhos — e a expressão da irmã dela foi a mais preocupada.
Lena me observava com um olhar afiado. Não de ciúmes ou julgamento, mas de irmã mais nova estava prestes a dizer não ouse magoá-la.
Aquilo me atingiu como um aviso silencioso.
Lana se aproximou das duas e avisou algo com um gesto. As três se reuniram no canto do sofá, e eu fiquei ali, encostado na parede, observando. Um homem que não sabia mais onde era o seu lugar.
As luzes mudaram novamente.
O DJ chamou uma nova batida — agora mais quente, mais intensa.
Casais tomaram conta da pista, alguns quase colados demais para meu gosto.
Mas não olhei para eles.
Meus olhos estavam presos na blusa branca da Lana, nos cabelos soltos, na forma como ela ria de algo que Nice falou.
Ela era doce até quando não queria ser.
E eu estava perdidamente envolvido.
A vontade de me aproximar de novo era absurda. Mas algo me impedia. Talvez o fato de que eu sabia que, se desse mais um passo, não haveria volta.
Ela me causava esse tipo de reação.
Fiquei ali, parado, fingindo desinteresse, mas atento a cada detalhe.
Nem percebi o tempo passar, até que ouvi a voz suave dela, anunciando:
— Meu pai acabou de mandar mensagem. Está chegando.
Ela se levantou. Lena e Nice também.
As três pegaram as bolsas, ajeitaram os cabelos, e por um instante, tive vontade de oferecer carona, proteção, qualquer coisa que prolongasse aquele momento.
Mas eu não tinha esse direito.
Ainda não.
Elas se aproximaram para se despedir. Louis deu um beijo no rosto das três, brincou com Nice, provocou Lena. Harry se despediu com aquele jeito mais solto dele. Quando chegou a minha vez... Lana apenas sorriu.
Um sorriso tímido, discreto e cheio de coisas não ditas.