Patrícia se aproxima de Harry, decidida, com um sorriso cúmplice nos lábios.
— Harry— ela começa, tocando de leve o braço do irmão. — Eu conversei com a Lena hoje.
Ele levanta os olhos, curioso, mas sem tentar parecer ansioso.
— E aí? Ela disse alguma coisa sobre o Luke?
— Disse sim. Ela deixou bem claro que não está namorando com ele. Na verdade, ela me contou que eles são apenas amigos. Que, embora tenha sentido vontade de viver algo a mais com ele em algum momento, a amizade dos dois é tão sólida, tão verdadeira, que seria um erro quebrar isso. Eles se respeitam demais para confundir os sentimentos.
Harry assente devagar, refletindo em silêncio.
— E tem mais — Patrícia continua. — Ela me deu o maior apoio. Disse que, se eu gosto mesmo do Luke, é para eu parar de idealizá-lo como esse gênio inalcançável e começar a enxergá-lo como o homem incrível que ele é — com qualidades, mas também com inseguranças. Ela disse que acredita que ele também sente algo por mim... Só está esperando coragem para dar um passo.
— E você vai? — ele pergunta, atento.
— Já estou indo — ela sorri. — Estou com meu currículo aqui. Vou ligar para ele, mandar por e-mail e perguntar se aquela vaga de estágio ainda está disponível. A Lena me deu um empurrão... Agora é comigo.
Ela se inclina um pouco mais para ele, olhando fundo em seus olhos.
— Mas e você, Harry? Vai ficar aí parado? Você quer mesmo a Lena? Então precisa se mexer. Porque ficar à distância, tentando ser discreto, só está dando espaço para outros se aproximarem. E você já viu como o Luke é, né? Só não rolou porque realmente eles são só amigos.
— Eu sei — ele murmura, pensativo.
— E se não for o Luke, pode ser outro. E aí, meu irmão, você dança. Porque quem não marca presença, perde. Você quer provar que não é mais aquele conquistador vazio? Então começa sendo diferente. Convida a Lena para sair, para jantar, para um passeio simples. Ela não precisa de luxo, Harry. Ela precisa de atenção, de verdade. De alguém que a veja com o coração.
Harry permanece em silêncio por alguns segundos. Patrícia continua:
— E lembra: a Lena é uma moça humilde, mas tem princípios fortes. Ela ainda é virgem. Ela não é como as mulheres com quem você se envolvia antes. Você vai ter que conquistá-la de verdade. Com respeito. Com intenção. Com presença. E se você não fizer isso, alguém vai.
Harry suspirou, passou as mãos pelos cabelos e apoiou os cotovelos nos joelhos, como se a ficha estivesse começando a cair.
— E como é que eu faço pra conquistar a Lena, Patti? — perguntou com um tom quase infantil, perdido em pensamentos. — Eu nunca precisei fazer isso... As mulheres sempre vieram até mim. Sempre foi fácil.
Patrícia cruzou os braços e sorriu com certa ironia.
— Vieram fáceis por causa do seu sobrenome, do seu dinheiro da sua fama. Mas a Lena, Harry, ela não vai vir por nada disso. Ela só vai se aproximar se sentir que vale a pena, se perceber que o homem por trás do terno é real.
Ele ergueu os olhos para ela, atento.
— Você precisa mostrar pra Lena o verdadeiro Harry. Não o conquistador, não o herdeiro das empresas. Mas o meu irmão. O cara que é atencioso, que se preocupa com os outros, que ajuda a nossa avó com as compras sem ninguém saber, que brinca com a Pathy mesmo quando tá cansado, que se esforça no trabalho e que sabe ser leve quando está entre os amigos.
— Você acha que isso é suficiente? — ele perguntou, visivelmente inseguro.
— É tudo o que ela precisa ver — garantiu. — Porque, na cabeça dela, você ainda é só mais um playboy mimado. E a Lena é diferente. Ela tem valores. Tem firmeza. Ela não vai se encantar com presentes caros, com carros de luxo ou com convites para resorts. Ela vai se encantar quando perceber que você é humano. Quando perceber que você respeita o tempo dela, os sonhos dela, os medos e os limites.
Harry assentiu, ainda pensativo.
— Então você acha que eu tenho chance?
Patrícia se aproximou e pousou a mão sobre o ombro dele com carinho.
— Se você for de verdade... tem todas. Mas não adianta tentar ser quem você não é. Ela vai perceber. Então mostra a ela o homem que eu conheço. O Harry ama de verdade quando decide amar.
Ele respirou fundo, como se sentisse o peso de um novo desafio.
— Obrigado, Patti.
— Não me agrade. Vai lá e faz por merecer. Porque, se você deixar escapar a Lena, eu mesma vou te dar uns bons puxões de orelha.
Harry riu, e ela riu junto. Por um instante, voltaram a ser apenas irmãos — cúmplices, honestos, e prontos para apoiar um ao outro em qualquer jornada.
Patrícia deu um sorriso sapeca, ajeitando os cabelos para trás.
— Você tem chance sim, Harry. Mas precisa entender uma coisa: a Lena não é uma mulher pra ficar. Ela é pra namorar, noivar e casar. Ela não é diversão, ela é escolha de vida.
Harry baixou o olhar, pensativo, e ela continuou com firmeza:
— E outra, presta atenção. Apesar da Lena, da Lana e da Anitta estarem fora daquele padrão “magricela de passarela”, as três são muito bem resolvidas com o corpo que têm. Se algum dia se importaram com o que os outros pensavam, hoje não mais. Elas se amam como são. E isso, meu irmão, é poder. Elas se cuidam, se arrumam, se valorizam... mas se aceitam. Elas não se curvam pra opinião alheia. Isso é raro. E é bonito de ver.
Ela cruzou os braços, olhando para ele com intensidade.
— A sociedade ainda tenta enfiar goela abaixo que a mulher ideal é aquela que pesa cinquenta quilos e vive com fome. Mas sabe o que a maioria dos homens de verdade está procurando hoje? Uma mulher de verdade. Real. Com curvas, com celulite, com personalidade. Que tenha papo, que tenha garra, que tenha alma. E as meninas têm tudo isso.
Harry assentiu, lentamente.
— Você está falando como se eu não soubesse...
— Estou falando porque você sempre viveu cercado de um padrão vazio. E agora você quer a Lena. Mas com a Lena, o jogo é diferente — ela disse, sem meias-palavras. — Você vai ter que se despir das armaduras. Vai ter que aprender a conversar, a respeitar os silêncios, os tempos, os sinais. Vai ter que aprender a demonstrar, e não exibir. E principalmente: vai ter que parar de se esconder atrás da imagem de “conquistador”.
Ela deu de ombros e sorriu com leveza.
— Eu mesma, olha pra mim... nem magra, nem gorda. Tô no limbo eterno, mas tô feliz assim. E quer saber? Quem quiser que me aceite do jeitinho que eu sou.
Harry riu, relaxando um pouco.
— Você tá se achando hoje, hein?
— Tô nada. Tô consciente — ela rebateu, brincalhona. — E outra coisa, irmãozão... Eu ainda sou virgem porque eu quero, tá? Mas se o Luke me der uma chance, eu deixo de ser rapidinho. Ó — estalou os dedos no ar com um sorrisinho travesso — no estalo!
Harry arregalou os olhos, fingindo escândalo.
— Patricia!
— Ué! Verdade, ora! Você acha o quê? Que eu vou esperar virar santa canonizada pra descobrir o que é bom? Eu só tô esperando o homem certo. E se o Luke for esse homem... ah, querido, me segura!
Ambos caíram na risada, e o clima entre eles ficou mais leve, mais íntimo — como só irmãos de verdade sabem ser. Mas por trás do bom humor, havia verdades profundas, conselhos sinceros e sentimentos que finalmente estavam ganhando espaço para florescer.
Harry passou a mão pelos cabelos, sorrindo com leveza, como quem reconhece a própria miopia emocional.
— Engraçado... — disse ele, encarando a irmã com admiração. — Eu sou o irmão mais velho, tenho trinta e dois anos. Era pra ser eu quem estivesse aqui te dando conselhos. Mas é você quem está me dando a maior lição de vida.
Ele suspirou e balançou a cabeça, sorrindo com afeto.
— É... nem sempre idade é sinônimo de maturidade, né, irmãzinha?
Patrícia arqueou a sobrancelha e respondeu com simplicidade:
— Não, não é mesmo.
Ela se aproximou, sentou ao lado dele no sofá e completou com doçura e firmeza:
— Mas eu só tenho essa maturidade por causa das amizades que escolhi ter. A Lana, a Lena e a Nisse... essas três me ensinaram mais do que muito adulto por aí. São irmãs de alma, não de sangue. São as melhores amigas que alguém poderia ter.
Ela fez uma pausa breve, os olhos cheios de gratidão.
— Com elas eu aprendi a me valorizar. Aprendi que a gente não precisa se encaixar pra pertencer. Que o respeito começa dentro da gente. E que mulher nenhuma precisa se diminuir pra ser amada. A gente se dá o respeito... e aí o resto vem.
Harry ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo tudo.
— Uau...
Patrícia sorriu.
— É, irmão... eu cresci. E tô feliz por ver que, talvez, agora seja a sua vez de crescer também. E com uma mulher como a Lena ao seu lado... você vai crescer do melhor jeito: com amor, com verdade e com respeito.