O telefone tocou. A mãe de Cindy, elegante como sempre, atendeu.
— Alô?
— Mãe… — a voz de Cindy veio trêmula. — Aconteceu uma tragédia…
— Que tragédia, Cindy? Fala logo!
— O Patrick… ele me pegou com o Hamilton. No escritório. Foi horrível, mãe. Todo mundo viu.
— O quê?! O Patrick te pegou? Com aquele homem casado?! Cindy, você foi uma b***a! Como é que você me faz uma coisa dessas?! Nem parece que é minha filha!
O pai de Cindy, que estava do outro lado da sala, ouviu o tom alterado da esposa e se aproximou.
— O que foi que aconteceu com a Cindy?
A mãe, irritada, respondeu:
— Nada, eu resolvo depois com ela…
Mas ele insistiu:
— Resolve o quê? O que foi que a Cindy fez?
Cindy, do outro lado da linha, soluçava.
— Mamãe, por favor… eu preciso da senhora. Daqui a pouco eu chego aí pra gente resolver isso…
A mãe suspirou:
— Vem logo. Isso não vai ficar assim.
— Isso o quê?! — o pai elevou o tom. — Eu quero saber o que está acontecendo agora!
A esposa tentou disfarçar:
— É coisa da Cindy. Nada com você…
— Nada comigo? Você acabou de dizer que se fosse com você, não ficaria assim. Então quer dizer que você também já me traiu? Que a Cindy só aprendeu com o exemplo?
Ela empalideceu.
— Não, amor… não é isso…
— Foi exatamente isso que você deu a entender. Sabe de uma coisa? Vai pra casa da Cindy. Vai agora. E fica por lá. Porque aqui, comigo, você não fica mais.
Na sala de estar silenciosa, o marido de Vera — pai de Cindy — observava a esposa desligar o telefone com o cenho franzido.
— Vera, o que houve? Você ficou nervosa depois dessa ligação.
Ela respirou fundo, tentando manter o controle.
— Foi a Cindy… aconteceu uma confusão na empresa. O Patrick pegou ela com o Hamilton, no escritório.
Ele se inclinou para frente, chocado.
— O quê?! Você está dizendo que nossa filha foi pega com aquele homem casado?
— Eu… sim. Ela tá desesperada. Vai vir pra cá.
Ele ficou em silêncio por um instante, depois disse, desconfiado:
— E essa sua frase... “se fosse comigo isso não aconteceria”. Que história é essa, Vera?
Ela desviou os olhos.
— Ah, foi só um jeito de falar… eu quis dizer que eu teria sido mais cuidadosa, só isso.
— Não, não foi só isso. Você falou como se tivesse experiência nesse tipo de coisa. Vera, você já me traiu?
Ela gelou.
— Claro que não, amor. Você está ficando louco?
— Louco não. Só alerta. A partir de hoje, eu vou investigar. Se eu descobrir que você me traiu... nós vamos nos divorciar.
Ela arregalou os olhos, surpresa.
— Você está falando sério?
— Muito. E outra coisa: a partir de hoje, não dormimos mais no mesmo quarto. Eu vou para o quarto de hóspedes. Você pode ficar no nosso.
— Amor…
— Boa noite, Vera.
Ele se levantou e subiu calmamente as escadas.
Horas depois, Vera ligava para a filha, tensa.
— Cindy, essa confusão sua pode custar meu casamento! Seu pai está desconfiando até de mim. Disse que vai me investigar, que vai pedir divórcio se descobrir algo...
Do outro lado da linha, Cindy riu com um toque de sarcasmo:
— Ué, mamãe… e quando ele descobrir que a senhora andava saindo com o personal trainer?
— Cindy! Me respeita!
— Respeito? A senhora acha mesmo que eu não sabia? Com quem você acha que eu aprendi a mentir com classe? A senhora é minha mãe. Eu sou igualzinha a você. Só que eu fui pega. A senhora é mais velha, mais experiente… por enquanto.
Vera respirava com dificuldade.
— Você vai me ferrar de vez…
— Então me ajuda. Porque se você não me ajudar a reverter isso com o Patrick, mamãe, nem vai precisar de detetive. Eu mesma conto tudo pro papai.
Silêncio.
— Pense bem, mamãe. Ou você perde o marido... ou me ajuda a recuperar o meu futuro.
A ligação caiu.
Vera ficou ali, paralisada, com a sensação clara de que havia criado um monstro — um espelho da sua própria juventude. E agora, o reflexo cobrava caro.