####CONSELHOS DE LENA

1513 Words
Faculdade, corredor próximo à biblioteca] Patrícia aproximou-se, carregando alguns livros nos braços, o olhar atento buscando alguém entre os estudantes. Assim que avistou Lena sentada em um dos bancos revisando suas anotações, seguiu diretamente até ela. — Lena, posso conversar com você um instante? — Claro, Pathy. Senta aqui — respondeu com gentileza. Patrícia acomodou-se ao lado dela e foi direto ao assunto: — Você está estagiando na empresa do Patrick, não é? — Estou sim. Estou apenas dando um suporte temporário enquanto a Lana está de licença-maternidade até os bebês nascerem. Ela respirou fundo, como quem prepara o terreno para algo mais delicado. — E me diga uma coisa, Lena... Qual é exatamente o seu envolvimento com o Luke? Lena sorriu de forma serena, sem se mostrar surpresa. — Envolvimento? — Sim. Vocês vivem juntos. Almoçam juntos, frequentam palestras, trabalham em projetos. Vocês estão namorando? Lena riu com leveza. — Nós somos mais do que namorados. Somos amigos de verdade. — Como assim, mais do que namorados e amigos ao mesmo tempo? — questionou Patrícia, franzindo a testa. — Somos amigos, Pathy. Mas não é qualquer amizade. É aquela conexão genuína, rara, que ultrapassa rótulos. É uma parceria sincera, respeitosa. Ele me apoia, me orienta, me inspira. — Mas, sinceramente, parece um casal... — Eu entendo — disse Lena com naturalidade. — O Luke é um homem extraordinário. Extremamente inteligente, gentil, atento. Formou-se com distinção muito jovem, tem apenas vinte e seis anos e já é CEO da própria empresa. Além disso, fundou uma startup de sucesso paralelamente à empresa da família. Ele dá palestras em universidades, participa de fóruns... É brilhante, mas, acima de tudo, é humilde. Não faz alarde de quem é, e esse é um dos traços que mais admiro nele. Quem tiver a sorte de conquistar o coração dele, ganhará na loteria. Ele parece ser o tipo de homem leal. Patrícia suspirou, deixando escapar uma confissão: — Ele realmente é tudo isso. E, por ser assim, às vezes me sinto intimidada. Como se eu não fosse suficiente ao lado dele. Lena voltou-se para ela, com um olhar cheio de empatia. — Você gosta dele, não é? Patrícia assentiu, envergonhada. — Gosto. Muito. Desde que ele me convidou para enviar o currículo para a empresa dele, senti algo diferente. Mas tenho medo. Medo de não ser inteligente o suficiente, de ele achar que sou inferior a ele. Lena segurou a mão dela com delicadeza. — Pathy, você está se julgando antes mesmo de tentar. O Luke não é esse pedestal inalcançável que você está imaginando. Ele é humano. Sensível, gentil, empático. E, sinceramente, acho que ele deseja alguém que o enxergue assim — como homem, não como um gênio distante. Se você sente algo verdadeiro, aproxime-se. Não como alguém querendo impressioná-lo, mas como você é. Verdadeira. — E você? Nunca pensou em ficar com ele? — Já pensei — respondeu Lena com honestidade. — Porque ele tem todas as qualidades que uma mulher desejaria. Mas o que nos une é algo diferente. Ele é meu melhor amigo. E, às vezes, o destino nos apresenta pessoas que vieram apenas para caminhar conosco, não para ocupar um lugar romântico. Uma mulher pode, sim, ter um melhor amigo, e o Luke é isso para mim. Patrícia sorriu com emoção nos olhos. — Então, você não se importaria se eu tentasse algo? — Claro que não. Se ele for feliz com você, ficarei imensamente feliz também. Apenas seja honesta. O Luke merece verdade. — Obrigada, Lena. Você não imagina o quanto essa conversa me ajudou. — Vá em frente. O amor também é para quem tem coragem. Reflexão de Lena e nova conversa com Patrícia] Assim que Patrícia se afastou, Lena permaneceu sentada, observando o vai e vem de estudantes no corredor. Seus pensamentos a invadiram de forma silenciosa, mas precisa. "O jogo está funcionando...", refletiu internamente. "O Henry já veio falar comigo. Agora a Patrícia veio falar sobre o Luke. Está funcionando. A próxima jogada é fazer a Patty se aproximar mais do Luke. Porque ele, por si só, não vai tomar iniciativa. Ela é quem precisa agir." Lena levantou-se devagar, caminhando até alcançar Patrícia, que já se distanciava. Tocou suavemente em seu ombro. — Patty, espera só mais um minuto. — Claro. Aconteceu algo? Lena sorriu com leveza, mas seus olhos brilhavam com algo mais. — Você não está com dificuldades naquela matéria de gestão avançada? Aquela que você vive dizendo que não entende nem metade da linguagem técnica? — Estou sim. Aquilo é quase grego pra mim. Por quê? — O Luke não te ofereceu uma vaga de estágio na empresa dele? Você mesma comentou que preferia estagiar fora da empresa da sua família, que queria conquistar seu próprio espaço. — Ele ofereceu sim — confirmou Patrícia, curiosa. — Mas confesso que fiquei insegura. Achei que talvez ele tivesse apenas sido educado comigo. — Não, Patty. Aquela vaga era, na verdade, para ser minha. Só que eu acabei indo dar apoio ao Patrick, já que a Lana está de licença-maternidade. Então, a vaga está livre. E é a tua chance de se aproximar do Luke de um jeito natural, sem forçar nada. — Você acha mesmo? — Eu tenho certeza. Investe, amiga. Vai atrás. Porque, sinceramente, se você não for, alguém vai. E talvez essa pessoa não tenha o coração limpo e as intenções sinceras que você tem. O Luke é doce, mas ele também é forte. Não pense que por ser quieto e nerd, ele é frágil. Já o vi colocar homens muito mais velhos no lugar com elegância e firmeza, apenas com inteligência e palavras afiadas. Ele é um homem de caráter. Mas também é discreto. Não vai tomar iniciativa alguma. Se você quer algo com ele, é você quem vai ter que dar o primeiro passo. Patrícia ficou em silêncio por um instante, absorvendo tudo. — Você sabe de alguma coisa que eu não sei? Lena ergueu uma sobrancelha, com um sorriso enigmático nos lábios. — Talvez sim, talvez não. Mas não espere demais. Vai lá, leva seu currículo. Entrega pessoalmente. Se puder, arranca um beijo dele, surpreende, conquista. Você tem charme, tem luz. Usa isso a seu favor. Só não perde tempo, porque o Luke é daqueles que, se não vê reciprocidade, recua. Patrícia sentiu um arrepio leve correr pela espinha. — Você acha mesmo que ele gosta de mim? — Eu acho que ele enxerga você mais do que você imagina. Mas você precisa se mostrar também. E o estágio é a desculpa perfeita para isso. Patrícia sorriu, agora decidida. — Obrigada, Lena. Sério. Você é uma amiga e tanto. — E você merece ser feliz. Agora corre atrás. Está nas suas mãos. O celular de Luke vibrou sobre a mesa. Ele estava revisando um relatório técnico quando viu o nome de Lena aparecer na tela. Sorriu imediatamente antes de atender. — Senhorita estrategista, que honra — brincou ele ao atender. Do outro lado da linha, Lena não perdeu tempo: — Te prepara. Acabei de mover a primeira peça do tabuleiro de xadrez. Agora o jogo está nas suas mãos. Luke arqueou uma sobrancelha, mesmo que ela não pudesse vê-lo. — Como assim? O que você aprontou? — Patrícia vai levar o currículo para você. A vaga de estágio é sua isca. E você é o prêmio. Agora, é a sua vez de se deixar conquistar. Você está caidinho por ela, eu sei disso. Só não vai se declarar. Deixa ela fazer isso. Permita-se ser conquistado. Ela merece essa chance, e você também. Houve um breve silêncio do outro lado, até que Luke riu, um riso baixo e genuíno. — Você não existe. — Tanto existo que estou te ligando — retrucou com firmeza e leveza ao mesmo tempo. — Isso é sério mesmo? — Seríssimo. E detalhe: agora é a minha vez. Do mesmo jeito que mandei a Patty ir para cima de você, agora quem vai para cima do Harry sou eu. — Você vai... o quê? — Isso mesmo que ouviu. Se ele continuar devagar desse jeito, vai perder a única mulher que realmente mexeu com ele. E eu não estou aqui para ser prêmio de consolação. Ou ele acorda, ou vai assistir de camarote. — E você acha que ele está preparado para essa sua jogada? — Se não estiver, vai ter que aprender no susto. A vida é para quem tem coragem, Luke. E o amor, mais ainda. Luke ficou em silêncio por um instante, admirando a ousadia e o coração da amiga. — Você é brilhante, Lena. — Eu sei. Agora só não estrague tudo. Receba a Patty como se não soubesse de nada, mas deixa ela te conquistar. Porque se você for passivo demais, até eu vou perder a paciência. — Ordem anotada, estrategista-chefe. — Boa sorte, general. O campo de batalha é seu agora. Ela desligou antes mesmo de ouvir a resposta. Luke ficou olhando para o celular, com um sorriso bobo no rosto e o coração acelerado, como se algo muito maior estivesse prestes a acontecer.
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