Faculdade, corredor próximo à biblioteca]
Patrícia aproximou-se, carregando alguns livros nos braços, o olhar atento buscando alguém entre os estudantes. Assim que avistou Lena sentada em um dos bancos revisando suas anotações, seguiu diretamente até ela.
— Lena, posso conversar com você um instante?
— Claro, Pathy. Senta aqui — respondeu com gentileza.
Patrícia acomodou-se ao lado dela e foi direto ao assunto:
— Você está estagiando na empresa do Patrick, não é?
— Estou sim. Estou apenas dando um suporte temporário enquanto a Lana está de licença-maternidade até os bebês nascerem.
Ela respirou fundo, como quem prepara o terreno para algo mais delicado.
— E me diga uma coisa, Lena... Qual é exatamente o seu envolvimento com o Luke?
Lena sorriu de forma serena, sem se mostrar surpresa.
— Envolvimento?
— Sim. Vocês vivem juntos. Almoçam juntos, frequentam palestras, trabalham em projetos. Vocês estão namorando?
Lena riu com leveza.
— Nós somos mais do que namorados. Somos amigos de verdade.
— Como assim, mais do que namorados e amigos ao mesmo tempo? — questionou Patrícia, franzindo a testa.
— Somos amigos, Pathy. Mas não é qualquer amizade. É aquela conexão genuína, rara, que ultrapassa rótulos. É uma parceria sincera, respeitosa. Ele me apoia, me orienta, me inspira.
— Mas, sinceramente, parece um casal...
— Eu entendo — disse Lena com naturalidade. — O Luke é um homem extraordinário. Extremamente inteligente, gentil, atento. Formou-se com distinção muito jovem, tem apenas vinte e seis anos e já é CEO da própria empresa. Além disso, fundou uma startup de sucesso paralelamente à empresa da família. Ele dá palestras em universidades, participa de fóruns... É brilhante, mas, acima de tudo, é humilde. Não faz alarde de quem é, e esse é um dos traços que mais admiro nele. Quem tiver a sorte de conquistar o coração dele, ganhará na loteria. Ele parece ser o tipo de homem leal.
Patrícia suspirou, deixando escapar uma confissão:
— Ele realmente é tudo isso. E, por ser assim, às vezes me sinto intimidada. Como se eu não fosse suficiente ao lado dele.
Lena voltou-se para ela, com um olhar cheio de empatia.
— Você gosta dele, não é?
Patrícia assentiu, envergonhada.
— Gosto. Muito. Desde que ele me convidou para enviar o currículo para a empresa dele, senti algo diferente. Mas tenho medo. Medo de não ser inteligente o suficiente, de ele achar que sou inferior a ele.
Lena segurou a mão dela com delicadeza.
— Pathy, você está se julgando antes mesmo de tentar. O Luke não é esse pedestal inalcançável que você está imaginando. Ele é humano. Sensível, gentil, empático. E, sinceramente, acho que ele deseja alguém que o enxergue assim — como homem, não como um gênio distante. Se você sente algo verdadeiro, aproxime-se. Não como alguém querendo impressioná-lo, mas como você é. Verdadeira.
— E você? Nunca pensou em ficar com ele?
— Já pensei — respondeu Lena com honestidade. — Porque ele tem todas as qualidades que uma mulher desejaria. Mas o que nos une é algo diferente. Ele é meu melhor amigo. E, às vezes, o destino nos apresenta pessoas que vieram apenas para caminhar conosco, não para ocupar um lugar romântico. Uma mulher pode, sim, ter um melhor amigo, e o Luke é isso para mim.
Patrícia sorriu com emoção nos olhos.
— Então, você não se importaria se eu tentasse algo?
— Claro que não. Se ele for feliz com você, ficarei imensamente feliz também. Apenas seja honesta. O Luke merece verdade.
— Obrigada, Lena. Você não imagina o quanto essa conversa me ajudou.
— Vá em frente. O amor também é para quem tem coragem.
Reflexão de Lena e nova conversa com Patrícia]
Assim que Patrícia se afastou, Lena permaneceu sentada, observando o vai e vem de estudantes no corredor. Seus pensamentos a invadiram de forma silenciosa, mas precisa.
"O jogo está funcionando...", refletiu internamente. "O Henry já veio falar comigo. Agora a Patrícia veio falar sobre o Luke. Está funcionando. A próxima jogada é fazer a Patty se aproximar mais do Luke. Porque ele, por si só, não vai tomar iniciativa. Ela é quem precisa agir."
Lena levantou-se devagar, caminhando até alcançar Patrícia, que já se distanciava. Tocou suavemente em seu ombro.
— Patty, espera só mais um minuto.
— Claro. Aconteceu algo?
Lena sorriu com leveza, mas seus olhos brilhavam com algo mais.
— Você não está com dificuldades naquela matéria de gestão avançada? Aquela que você vive dizendo que não entende nem metade da linguagem técnica?
— Estou sim. Aquilo é quase grego pra mim. Por quê?
— O Luke não te ofereceu uma vaga de estágio na empresa dele? Você mesma comentou que preferia estagiar fora da empresa da sua família, que queria conquistar seu próprio espaço.
— Ele ofereceu sim — confirmou Patrícia, curiosa. — Mas confesso que fiquei insegura. Achei que talvez ele tivesse apenas sido educado comigo.
— Não, Patty. Aquela vaga era, na verdade, para ser minha. Só que eu acabei indo dar apoio ao Patrick, já que a Lana está de licença-maternidade. Então, a vaga está livre. E é a tua chance de se aproximar do Luke de um jeito natural, sem forçar nada.
— Você acha mesmo?
— Eu tenho certeza. Investe, amiga. Vai atrás. Porque, sinceramente, se você não for, alguém vai. E talvez essa pessoa não tenha o coração limpo e as intenções sinceras que você tem. O Luke é doce, mas ele também é forte. Não pense que por ser quieto e nerd, ele é frágil. Já o vi colocar homens muito mais velhos no lugar com elegância e firmeza, apenas com inteligência e palavras afiadas. Ele é um homem de caráter. Mas também é discreto. Não vai tomar iniciativa alguma. Se você quer algo com ele, é você quem vai ter que dar o primeiro passo.
Patrícia ficou em silêncio por um instante, absorvendo tudo.
— Você sabe de alguma coisa que eu não sei?
Lena ergueu uma sobrancelha, com um sorriso enigmático nos lábios.
— Talvez sim, talvez não. Mas não espere demais. Vai lá, leva seu currículo. Entrega pessoalmente. Se puder, arranca um beijo dele, surpreende, conquista. Você tem charme, tem luz. Usa isso a seu favor. Só não perde tempo, porque o Luke é daqueles que, se não vê reciprocidade, recua.
Patrícia sentiu um arrepio leve correr pela espinha.
— Você acha mesmo que ele gosta de mim?
— Eu acho que ele enxerga você mais do que você imagina. Mas você precisa se mostrar também. E o estágio é a desculpa perfeita para isso.
Patrícia sorriu, agora decidida.
— Obrigada, Lena. Sério. Você é uma amiga e tanto.
— E você merece ser feliz. Agora corre atrás. Está nas suas mãos.
O celular de Luke vibrou sobre a mesa. Ele estava revisando um relatório técnico quando viu o nome de Lena aparecer na tela. Sorriu imediatamente antes de atender.
— Senhorita estrategista, que honra — brincou ele ao atender.
Do outro lado da linha, Lena não perdeu tempo:
— Te prepara. Acabei de mover a primeira peça do tabuleiro de xadrez. Agora o jogo está nas suas mãos.
Luke arqueou uma sobrancelha, mesmo que ela não pudesse vê-lo.
— Como assim? O que você aprontou?
— Patrícia vai levar o currículo para você. A vaga de estágio é sua isca. E você é o prêmio. Agora, é a sua vez de se deixar conquistar. Você está caidinho por ela, eu sei disso. Só não vai se declarar. Deixa ela fazer isso. Permita-se ser conquistado. Ela merece essa chance, e você também.
Houve um breve silêncio do outro lado, até que Luke riu, um riso baixo e genuíno.
— Você não existe.
— Tanto existo que estou te ligando — retrucou com firmeza e leveza ao mesmo tempo.
— Isso é sério mesmo?
— Seríssimo. E detalhe: agora é a minha vez. Do mesmo jeito que mandei a Patty ir para cima de você, agora quem vai para cima do Harry sou eu.
— Você vai... o quê?
— Isso mesmo que ouviu. Se ele continuar devagar desse jeito, vai perder a única mulher que realmente mexeu com ele. E eu não estou aqui para ser prêmio de consolação. Ou ele acorda, ou vai assistir de camarote.
— E você acha que ele está preparado para essa sua jogada?
— Se não estiver, vai ter que aprender no susto. A vida é para quem tem coragem, Luke. E o amor, mais ainda.
Luke ficou em silêncio por um instante, admirando a ousadia e o coração da amiga.
— Você é brilhante, Lena.
— Eu sei. Agora só não estrague tudo. Receba a Patty como se não soubesse de nada, mas deixa ela te conquistar. Porque se você for passivo demais, até eu vou perder a paciência.
— Ordem anotada, estrategista-chefe.
— Boa sorte, general. O campo de batalha é seu agora.
Ela desligou antes mesmo de ouvir a resposta. Luke ficou olhando para o celular, com um sorriso bobo no rosto e o coração acelerado, como se algo muito maior estivesse prestes a acontecer.