Lana chegou ao escritório tentando disfarçar o enjoo, mas estava pálida. Cada passo que dava, o cheiro do café da recepção parecia aumentar. Passou direto pela sala onde os meninos sempre se reuniam e foi até sua mesa, pousando a bolsa com delicadeza. Tentou respirar fundo, mas o estômago ainda embrulhava.
— Shirley... — chamou baixinho, batendo de leve na porta da sala da secretária do Patrick.
Shirley levantou os olhos do computador, notando o ar estranho de Lana. — O que houve, minha flor?
Lana entrou, fechando a porta devagar.
— Shirley, você pode me ajudar com uma coisinha? Mas precisa ser segredo... — disse, com os olhos cheios de expectativa e um sorrisinho nervoso.
— Claro, Lana. Pode confiar em mim. — Shirley se aproximou, já em alerta.
— Eu acho... eu acho que estou grávida. — disse baixinho. — Mas ainda não tenho certeza, então queria que você pedisse ao Office Boy pra comprar um teste de farmácia. Mas pede como se fosse pra você. É que... eu quero fazer uma surpresa pro Patrick.
Shirley arregalou os olhos, mas logo sorriu com ternura.
— Meu Deus, menina! Que notícia linda, se for mesmo! Pode deixar, vou pedir direitinho e ninguém vai desconfiar. E você quer fazer o teste aqui mesmo?
Lana assentiu. — Quero. Se der positivo, vou marcar uma consulta com o médico e preparar um envelope com o teste, a ecografia, tudo certinho. Vou entregar pra ele no jantar que ele tá preparando pro nosso noivado. Ele quer casar ainda esse mês, Shirley...
Shirley colocou as mãos no peito, emocionada.
— Ai, Lana, você vai fazer esse homem chorar! E olha que ele é durão! Mas você está radiante, mesmo com esse enjoo todo. Vai ser uma linda surpresa.
— Promete que não conta pra ninguém? — Lana sorriu, mordendo o lábio de ansiedade.
— Boca de túmulo. Agora senta ali na sua sala e respira, que eu cuido de tudo. — disse Shirley, já pegando o telefone com um brilho cúmplice nos olhos.
Lana saiu do banheiro do escritório ainda com o rosto pálido e os olhos levemente lacrimejando. O enjoo não dava trégua. Assim que se acomodou em sua cadeira, ouviu o barulho da porta se abrindo suavemente. Era Patrick, entrando com seu habitual café em mãos — mas só para ele. O cheiro lhe causou outro embrulho no estômago.
— Lana? — ele chamou, preocupado, ao ver a expressão dela. — Está tudo bem?
Ela tentou sorrir, levantando-se com discrição e indo até o banheiro privativo da sala dele. Mas antes que conseguisse fechar completamente a porta, ele a ouviu vomitar.
— Ei, ei, meu amor... — Patrick se aproximou da porta, batendo levemente. — O que aconteceu? Você está passando m*l?
Lana saiu enxugando os lábios, forçando um sorriso tranquilo. — Ah, acho que o omelete da minha mãe hoje não caiu muito bem... Provavelmente algum ovo estava passado. Mas vou ficar bem. Já tomei um antiácido. Eu não quero ir embora, juro. Posso continuar o expediente normal.
— Você tem certeza, Lana? Eu posso chamar um médico agora mesmo. — ele disse, segurando o rosto dela com ternura.
— Tenho certeza. Já está melhorando. — Ela acariciou a mão dele e sorriu. — Bom dia, meu noivo.
Ele sorriu, deixando o ar mais leve.
— Bom dia, minha futura esposa. — Ele piscou. — Mas olha, aqui é ambiente de trabalho, viu? — brincou com um tom sarcástico, devolvendo a provocação.
— Só você mesmo, Patrick. — ela riu, voltando à sua mesa.
Algum tempo depois, Shirley bate suavemente à porta da sala.
— Lana, querida, posso falar com você um minutinho? Tenho uns documentos aqui que preciso revisar.
— Claro, Shirley. — Lana se levantou, pegando sua prancheta e saindo.
Assim que chegaram à sala da secretária, Shirley fechou a porta com cuidado e entregou discretamente uma pequena sacola da farmácia.
— Está aqui. Usei o nome da minha irmã, como combinado. — sussurrou.
— Obrigada, Shirley. — Lana segurou a sacola com as mãos trêmulas. — Você me empresta seu banheiro?
— Claro. Vai lá.
Lana entrou no banheiro da Shirley e, depois de alguns minutos de ansiedade silenciosa, saiu com o teste nas mãos. Olhou para Shirley com os olhos arregalados e a voz embargada.
— Dois risquinhos, Shirley... Dois.
Shirley se levantou na mesma hora e abraçou Lana com força.
— Meus parabéns, futura mamãe! Ai, que emoção, Lana! Que notícia maravilhosa!
Lana, com os olhos cheios de lágrimas, sorriu emocionada.
— Você pode me ajudar com mais uma coisa? Preciso marcar um ginecologista. Mas quero fazer tudo com calma. Queria que fosse alguém de confiança. Pode ser?
— Melhor ainda! Vou ligar pra minha obstetra, a Dra. Eunice. Ela fez o parto dos meus dois filhos. Você vai amar. Vou ver se consigo encaixe ainda hoje.
— E... o meu pai? Ele sempre me espera na portaria.
— Não se preocupe. Eu vou até lá e digo pra ele que você vai ficar até mais tarde, resolvendo pendências do setor financeiro. Que vai de aplicativo pra casa. Ele vai entender.
— Obrigada, Shirley. E o teste... você guarda, por favor?
— Pode deixar. Vou guardar na minha bolsa. E quando você sair pra almoçar, eu coloco discretamente na sua gaveta. Assim você leva pra casa sem levantar suspeitas.
— O Patrick não pode ver de jeito nenhum... Ainda. Eu quero preparar tudo direitinho pra ele. Quero que seja uma surpresa, do jeitinho que ele merece.
Shirley apertou a mão dela com carinho.
— Vamos guardar esse segredo juntas, então. O chefinho vai ter a surpresa da vida!
Lana riu, ainda com os olhos marejados. Mas o brilho que agora tinha no olhar era de quem carregava um novo amor dentro de si.
O Tio Mais Impossível da Firma
Após combinar tudo com Shirley, Lana voltou para a sala com o coração acelerado e um sorriso disfarçado nos lábios. Era difícil segurar a ansiedade, mas ela precisava manter a pose — principalmente porque o Patrick estava por perto o tempo todo.
Mas não demorou muito até que outro personagem entrasse em cena.
— Toc, toc, toc! — Harry nem esperou a permissão. Abriu a porta com aquele sorriso abusado e olhos curiosos. — Bom dia, casal 20! Vim roubar minha prima rapidinho. Só um minutinho, Patrick, sem crise de ciúmes, hein?
Patrick, de pé ao lado da mesa, ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— O que você quer, Harry?
Harry se aproximou de Lana como se fosse contar um segredo, mas falou alto de propósito:
— Shirley me contou que minha prima está meio enjoadinha hoje. Que coisa, né?
Lana arregalou os olhos e lançou um olhar desesperado para Shirley pela porta entreaberta, que apenas levantou os ombros e fez sinal de “não contei nada, juro!”.
— Harry, vai procurar o que fazer — ela disse, sem graça, tentando manter a compostura.
Mas ele não perdoou:
— Não sei, não... enjoo matinal, humor oscilando... e esse brilho diferente no olhar. — Ele se inclinou teatralmente, olhando para a barriga dela. — Será que a cegonha resolveu antecipar o serviço?
— Harry! — ela deu um leve tapa no braço dele, corando até as orelhas.
— Calma, Lana, sou só eu. Tio Harry, o primeiro a perceber tudo! — Ele deu dois pulinhos para o lado, como se fugisse da bronca. — Mas relaxa, meu segredo tá trancado comigo! Só achei curioso, viu, Patrick? Desde que a Brittany pariu, o povo anda muito inspirado...
Patrick olhou para Lana com atenção, como se começasse a ligar os pontos, mas ela desviou o olhar e emendou:
— Harry, se você não tem trabalho, posso te arrumar alguns relatórios para revisar.
— Ihhh, já estou saindo! Já vi que quando a grávida — quer dizer, a chefe! — ameaça relatório, é hora de vazar!
Antes de sair, ele parou na porta, com cara de quem ia soltar mais uma bomba:
— Só uma última pergunta... posso ser padrinho do bebê também ou isso vai ser por votação familiar?
Lana jogou uma caneta na direção dele, rindo e gritando:
— Fora daqui, Harry!
Ele escapou por pouco, gargalhando, e fechou a porta com um “Te amoooo, cunhada!”.
Patrick cruzou os braços e olhou para ela com aquele ar desconfiado de quem estava montando um quebra-cabeça.
— Quer me contar alguma coisa, Lana?
Ela sorriu doce, se aproximou e acariciou o rosto dele.
— Sim... mas só no tempo certo. Confia em mim?
Patrick ficou em silêncio por alguns segundos, depois assentiu, beijando a testa dela.
— Sempre.