Depois da conversa com Dreew na empresa, Lana saiu com o celular já na mão. O coração apertado, mas decidido. Ligou para a irmã mais nova assim que entrou no carro.
— Oi, mana — disse Lana, assim que a chamada foi atendida.
— Eita! Fala, mulher! Tá tudo bem?
— Mais ou menos, a Brittany tá bem abalada com os bebês. Tá no hospital ainda, sem descanso, e eu queria te pedir um favor.
— Diga logo, que você já sabe que eu faço!
— Eu queria que vocêse pudesse fosse lá no hospital e ficasse um pouco com ela, sabe? Pra ela conseguir tomar banho com calma, dormir um pouco...
Lena não hesitou nem meio segundo.
— Vou fazer melhor: eu e a Nice vamos nos revezar. Eu fico de manhã com ela, a Nice fica à tarde, e à noite a enfermeira nova cuida dela e dos bebês. A Brittany não vai ficar sozinha nem um minuto, entendeu? Já te falamos antes, você cuida de você, nós cuidamos da Brii.
Lana sorriu, emocionada.
— Obrigada, mana...
— E tem mais — continuou Lena, empolgada. — Vou pedir para mamãe fazer os kituts dela, aquelas comidinhas que só ela sabe fazer, tudo bom pra puérpera, para a Brii dar muito leite, dar energia, essas coisas que só mãe entende. Eu vou levar escondido no hospital e a gente vai ficar com ela até ver ela comer.
— Ai, mana... você é demais.
— Ela é nossa irmã, Lana. Ela está precisando. Não importa o que passou. O que vale é que ela está tentando. Agora é a hora da gente mostrar que a gente tá aqui. Por ela. E pelos sobrinhos!
Lana ficou em silêncio por um instante, emocionada com a maturidade da irmã.
— Você cresceu, sabia?
— E você ainda vai ver o tanto que eu vou crescer, viu? Agora deixa comigo. Amanhã de manhã eu estarei lá.
Do outro lado da cidade, Dreew recebeu uma mensagem simples no celular:
"Senhor Dreew, minha irmã Lena e a Nice vão se revezar no hospital com a Brittany. Já organizaram tudo. Ela não vai ficar sozinha. E a mamãe vai fazer comidas especiais para ajudar na amamentação. Espero que isso ajude. Com carinho, Lana."
Ele sorriu.
“A família tá agindo e o amor já começou a curar.”
Mãe é Palavra de Ordem
No início da noite, já em casa, Lana ajeitava os papéis sobre a mesa da sala quando a mãe apareceu na porta da cozinha, enxugando as mãos no pano de prato florido.
— A Lena me falou que você tá querendo ir ao hospital — disse com a voz calma, mas carregada de intenção.
— Eu pensei, mãe... só pra ajudar um pouco... — começou Lana, já prevendo o sermão.
A mãe foi direta.
— E eu não quero que você vá.
Lana suspirou, largando os papéis com um olhar cansado.
— Mãe, eu só queria...
— Você teve um pico de pressão alta há poucos dias. E se acontece alguma coisa com as crianças? E se sua pressão sobe de novo? A gravidez é de risco, Lana. Você está esperando trigêmeos.
A jovem baixou o olhar. Não podia discutir com a verdade.
— A Brittany precisa de apoio...
— E ela vai ter. A Lena e a Nice vão se revezando no hospital. A Lena me pediu para preparar umas comidinhas boas para puérpera. Já comecei a separar os ingredientes.
— Mãe...
— Escuta, minha filha. Você está de licença médica, mas vai trabalhar de teimosa. Você sabe que não pode. Tem uma ultrassonografia essa semana pra saber o sexo dos bebês. Você precisa descansar, comer bem, e pensar neles. E quando for o momento certo, nós duas vamos juntas visitar sua irmã. Mas agora, você cuida de você. E deixa que da Brittany... nós cuidamos.
Lana, já emocionada, respirou fundo e assentiu.
— Tá bom, mãe... eu vou obedecer. Prometo.
A mãe sorriu, se aproximou e a envolveu num abraço firme, caloroso, como só mãe sabe dar.
— Isso, minha filha. Porque às vezes, o melhor jeito de amar é se proteger.
Quem Ama Cuida
Às sete horas da manhã, o hospital ainda estava silencioso, envolto naquela bruma leve do dia que começou a nascer. A enfermeira da madrugada estava trocando de turno quando viu a jovem morena, com uma sacola térmica nas mãos, entrar sorrindo.
— Bom dia — disse Lena, baixinho. — Vim ficar com a minha irmã e com os meus sobrinhos.
A porta do quarto se abriu com suavidade. Brittany estava sentada na poltrona, os cabelos presos de qualquer jeito, olheiras fundas, olhos pesados, com a bombinha de ordenha presa ao seio. Ela se assustou ao ver a amiga ali.
— Lena? O que você está fazendo aqui?
Lena entrou como quem entrou na própria casa.
— Vim cuidar de vocês, ué. Dos meus sobrinhos do coração. E de você minha irmã que adotei.
— Mas tão cedo...
— E você, o que tá fazendo acordada? — respondeu ela, já indo até a mesinha para tirar os potinhos térmicos da sacola. — Você devia estar dormindo, mas tá aí, exausta, tirando leite. Tá parecendo um zumbi de amor.
Brittany riu fraco, mas os olhos marejaram.
— Eu não queria que eles ficassem sem o papá...
— Então termina de tirar esse leite sagrado aí, que quem vai dar pra eles hoje sou eu.
— Lena...
— Sem discussões! — disse ela com doçura. — Depois, você vai tomar um banho bem gostoso, lavar esse cabelo, vestir uma camisola linda, escovar esses dentinhos lindos, e vai se jogar na cama.
— E se eles precisarem de mim?
— Eu estou aqui. Eu, pela manhã. A Nice, de tarde. A enfermeira que o seu papai contratou, à noite. E mais: E olha oq minha mamãe mandou essas comidinhas aqui escondidas para você. Tudo para dar muito leite e força. Você vai comer tudinho, porque eu vou ver, e se deixar uma migalha, vou contar para minha mãe!
Brittany se emocionou.
— O papai contratou uma enfermeira?
— Sim. A melhor. Porque todos nós estamos preocupados com você. E família se cuida, mesmo que seja de coração não é assim? Mesmo que seja de coração...
Ela sorriu, com lágrimas discretas escorrendo.
— A Lana... queria vir, sabia? Mas mamãe não deixou. Você acredita que a barriga dela já tá aparecendo? Ela tá esperando os trigêmeos.
— Nossa, até agora estou digerindo,trigêmeos! Meu Deus... — Brittany abriu a boca em choque.
— Pois é. E mamãe falou: “Lana, você vai visitar a Brittany quando eu for com você. Agora você fica de repouso.”
— E ela está certa... — murmurou Brittany, com voz cansada. — Eu carreguei dois, eu sei como é. Imagino três... meu Deus... nem quero imaginar.
— Pois então, termine aí de tirar o papá dos meus sobrinhos — disse Lena, com carinho. — E depois, se entrega. Se cuida. Deixa a gente cuidar também.
Brittany seguiu cada passo como se fosse obedecendo um roteiro de amor. Tomou banho, lavou os cabelos, vestiu uma camisola cheirosa, comeu metade das coisas antes mesmo de sentar direito, e antes mesmo de agradecer... adormeceu.
Apagou.
Um sono tão profundo que parecia alívio.
Lena ajeitou os cobertores, fez carinho em sua testa e sussurrou:
— Ah, minha irmãzinha do coração... eu devia ter visto isso antes. Mas agora que vi... não deixo mais você carregar tudo sozinha.
E então, pegou o leite ordenhado, conferiu a temperatura e foi alimentar os sobrinhos com o olhar mais cheio de amor que alguém pode ter sem parir — mas sentindo-se tão mãe quanto.