Patrick encarou os gráficos com o cenho franzido, ainda tentando digerir o tamanho da bomba que Lana acabara de lhe entregar.
— Shirley! — chamou, e em instantes a secretária apareceu à porta.
— Sim, senhor?
— Por favor, marque uma reunião extraordinária com toda a diretoria para hoje, às dezessete horas. E peça para o diretor do setor financeiro estar presente. Isso é urgente.
— Claro, doutor Patrick.
Ele se voltou para Lana com a seriedade de quem acabara de definir os rumos da empresa.
— E quero que você participe da reunião também. Você e a Shirley. Quero que você apresente esses gráficos, explique exatamente o que me explicou agora. O restante… pode deixar comigo.
Lana o olhou, surpresa e um pouco nervosa.
— Eu? Na reunião?
— Sim, senhorita Ferreira. Você já está atuando como minha assistente, e hoje mesmo já vai começar oficialmente. Amanhã, passe no setor de RH e no financeiro para entregar suas horas do estágio. A partir de amanhã, você estará registrada. Com todos os direitos: plano de saúde, seguro e o que mais for necessário. Está bem?
Ela abriu um sorriso tímido, mas os olhos estavam marejados.
— Muito obrigada, senhor Patrick. Eu não tenho palavras pra dizer o quanto isso significa pra mim.
Ele respondeu com gentileza:
— Você fez por merecer, Lana. E fez pela empresa. Agora vá almoçar e descanse um pouco. Eu aguardo você mais tarde na reunião.
Ela assentiu, e antes de sair, olhou para ele com um brilho novo no olhar. Um misto de orgulho e admiração.
Mais tarde… o cenário estaria pronto para um verdadeiro terremoto corporativo.
A sala de reuniões estava lotada. Os membros da diretoria se entre olhavam, inquietos com a convocação repentina. O clima era denso, silencioso, tenso.
O Sr. Donovan, pai de Patrick, entrou por último, com expressão séria. Sentou-se à cabeceira da mesa ao lado do filho.
Patrick entrou logo atrás, seguido por Lana — elegante, discreta, com a pasta de relatórios em mãos e uma postura firme, embora o coração batesse acelerado.
Hamilton, acomodado como sempre em seu lugar, fingia ignorar a presença da jovem, ainda confiante demais na própria máscara.
— Boa tarde a todos. — Patrick iniciou, firme. — A reunião de hoje foi convocada por um motivo grave. Encontramos inconsistências em documentos assinados pelo diretor Hamilton nos últimos meses.
Murmúrios se espalharam pela mesa. Hamilton franziu o cenho, disfarçando desconforto.
— Eu vou pedir à senhorita Lana Ferreira, minha assistente, que apresente os dados.
Lana levantou-se. Seus olhos percorreram os rostos ali, homens poderosos, engravatados, alguns subestimando-a de cara. Mas ela estava pronta.
Ela conectou o notebook ao projetor e iniciou:
— Como podem ver aqui — começou, apontando para o primeiro gráfico —, ao longo dos últimos seis meses houve alterações sutis em contratos de fornecedores terceirizados. Os valores parecem pequenos isoladamente, mas se observarem esta pirâmide de redistribuição de recursos…
Mudou o slide. Uma pirâmide clara, com setas, datas e totais.
—perceberão que, somando os desvios mensais, o total chega a US$ 9.823.000,00. Valor que está sendo desviado dos lucros líquidos da empresa para contas vinculadas a empresas de fachada. Algumas registradas em nome de laranjas, todas com conexão indireta com o nome de um dos nossos diretores.
Todos olharam para Hamilton.
— Você tá me acusando de quê, garota? — ele levantou abruptamente.
Patrick interveio, calmo, porém com voz de aço:
— Ninguém está acusando. Estamos apresentando fatos. E agora cabe à diretoria decidir. O dossiê será entregue à auditoria externa e, se necessário, ao departamento jurídico.
Hamilton estava lívido. Os outros diretores murmuravam, analisando os documentos impressos que Lana havia distribuído minutos antes.
— E tem mais uma coisa — completou Patrick. — A atitude que o senhor teve hoje pela manhã também comprometeu a imagem da empresa. Nossa política de conduta não tolera comportamento inadequado em ambiente profissional. E o que o senhor fez… vai além de inadequado. Vai além do ético.
O pai de Patrick, sério, murmurou ao ouvido do filho:
— Essa moça é um gênio.
Hamilton, sem chão, tentou argumentar:
— Isso é uma armação! Vocês estão tentando me derrubar!
Mas o irmão de Patrick, Louis, respondeu:
— Ninguém precisa te derrubar, Hamilton. Você cavou o próprio buraco. A empresa é séria. Aqui não tem espaço pra jogo sujo.
A sala caiu num silêncio pesado. E ali, no meio da elite empresarial, Lana, filha do porteiro, estagiária até algumas horas atrás, havia acabado de virar o jogo.
Patrick se levantou, encarando Hamilton.
— Você estava desviando dinheiro da própria empresa. Você é acionista, Hamilton. Minoritário, mas ainda assim, acionista. Isso quer dizer que você roubava até de si mesmo.
Hamilton empalideceu.
— Isso é loucura…
O Sr. Donovan, pai de Patrick, se manifestou:
— O que é loucura é você pensar que sairia impune. Eu compro suas ações. Mas quero o seu nome fora da nossa empresa. Pra sempre.
— Esperem… e quanto à minha imagem? As pessoas viram o que aconteceu hoje. Minha esposa… a minha família… vocês vão acabar com minha vida!
Patrick foi firme:
— O que aconteceu fora do financeiro da empresa diz respeito à sua vida pessoal. Se a sua esposa vai perdoar ou não, isso é problema seu. Aqui estamos tratando de ética, de integridade, de conduta profissional. E você falhou em tudo isso.
O restante da diretoria apenas concordou com acenos. Em poucos minutos, a votação foi unânime: Hamilton deveria vender suas ações e sair imediatamente do quadro societário da empresa.
Ele saiu da sala com os ombros caídos, humilhado, destruído. No corredor, trêmulo, sacou o celular e ligou para Cindy.
Ligação entre Hamilton e Cindy
— Oi? — ela atendeu, com voz mansa.
— Você acabou com a minha vida, Cindy! — ele vociferou, a voz quase trêmula.
— E você com a minha! — ela retrucou, ofendida. — O Patrick quer terminar comigo! Ele nem me atendeu hoje!
— Você me procurou desde o início. Você se insinuou, apareceu no meu escritório, me seduziu. Eu fui um i****a. Sabe por quê? Porque eu achava que você era só uma aventura. E era mesmo.
— Como assim? — ela sibilou, sentindo o sangue ferver.
— Você é uma mulher fácil, Cindy. Sempre foi. Você nunca me interessou de verdade. Eu só cedi porque você implorava com o olhar. Agora, graças a você, eu perdi minha família, meu cargo, meu nome.
— Você vai se arrepender de me tratar assim!
— Não me ameaça. Só não apareça mais na minha frente. Porque até pra amante você foi um erro. Adeus, Cindy.
Ele desligou.
Cindy arremessou o celular contra a parede. E ali, sozinha, sem noivo, sem amante, sem crédito com ninguém, a Barbie esvaziada começava a sentir o peso de suas próprias escolhas.