Ela olhava para a tela do celular, perdida em pensamentos. A última mensagem de Luck ainda estava ali:
“Boa sorte hoje com os contratos. Espero te ver à noite para aquele sushi. Beijos, L.”
Suspirou. Não era justo comparar. Luke era gentil, inteligente, carinhoso. Tinha uma paz madura. Mas... Harry mexia com algo mais profundo — um lado dela que nem sabia que existia.
As palavras dele mais cedo ainda ecoavam:
“Quando você estiver pronta para ouvir com o coração, eu estarei aqui. Mas não por muito tempo.”
Ela fechou os olhos e sentiu o vento bagunçar seus cabelos. Era como se uma parte dela desejasse se jogar naquele sentimento novo e inesperado... mas a outra parte, a que tinha medo de sofrer, pedia cautela.
Foi quando Nice chegou, carregando duas garrafinhas de suco detox.
— Achei você aqui — disse a prima, entregando uma garrafinha. —Você está com cara de quem viu um fantasma ou recebeu uma declaração inesperada.
Lena deu um sorriso sem graça, aceitando o suco.
— Harry falou comigo. Foi intenso.
— Intenso? — Nice arregalou os olhos. — O galanteador oficial da família deu uma de romântico?
— E de sincero, Nice. Ele disse que não quer mais ser visto como o playboy da empresa. Que quer ser alguém por quem eu me apaixone.
Nice bebeu um gole e depois encarou a prima, séria.
— E o Luck?
— O Luck é tudo o que uma mulher pediria a Deus — respondeu Lena, encostando-se na grade do terraço. — Mas, somos amigos, e temos um acordo e quando o Harry falou comigo, eu senti algo que não sinto com o Luck. Uma inquietação. Um arrepio. Um calor na pele.
— Um furacão.
— Exatamente. E eu não sei se isso é bom ou r**m.
Nice pousou a garrafinha na mureta e pegou na mão da prima.
— Sabe o que eu acho? Que você precisa escutar seu coração. O Luck é o tipo de escolha segura. O Harry é aquele mergulho no desconhecido. Um deles pode te oferecer estabilidade. O outro, intensidade. E talvez, talvez você precise viver um pouco dos dois para descobrir o que realmente quer.
Lena sorriu, apertando a mão da prima.
— Às vezes eu acho que você é a mais velha.
— E às vezes eu acho que você está apaixonada — devolveu Nice com um sorrisinho matreiro.
Escritório do Luck — no final do expediente. Lena entra.
— Luck — ela bateu suavemente à porta. — Está ocupado?
— Só terminando um relatório. Entra — ele sorriu. — O que houve?
— O plano está funcionando demais. O Harry me encarou como se estivesse prestes a me puxar pelo braço e me levar pro altar à força — brincou ela, mas com um toque de nervosismo.
Luke riu e fechou o laptop.
— E a Patty? — perguntou ele, com um brilho esperançoso no olhar.
— Observando. Sabe quando a pessoa te olha disfarçadamente, mas finge que não? Eu vi. Ela te olha, Luck. Ela está te vendo.
— Está vendo um nerd de terno — ele brincou, mas havia um traço de insegurança real em sua voz. — Eu só queria que ela me visse como um homem, não como um cérebro ambulante.
Lena se aproximou e pegou uma caneta da mesa dele, brincando com ela.
— Você já é um homem. Inteligente, gentil, educado e bonito. Só que você vive se escondendo atrás do “sou muito nerd para ela”. Deixa eu te contar um segredo? A Patty acha que você é demais pra ela.
Luck a encarou, surpreso.
— Sério?
— Muito sério. Ela disse isso pra mim. E quer saber mais? Ela não está errada. Você é demais. Mas isso não é um problema — é a solução.
Ele abriu um sorriso sincero.
— Então, continuamos com o plano?
— Só até eles entenderem que não é um jogo. Que o que a gente quer é ser enxergado de verdade. Nada mais justo.
— Patty, preciso te contar uma coisa... — Harry disse, sério, sentando ao lado da irmã no sofá. — Eu me declarei pra Lena.
Ela arregalou os olhos, deixando o celular de lado.
— O quê? Irmãozinho... quer dizer... irmãozão, você tá apaixonado pela Lena?
Ele assentiu, decidido.
— Desde a primeira vez que eu vi aquela menina. E não é só paixão. É coisa séria. Eu não vou deixar ninguém tomar a única mulher que eu realmente quero levar a sério na vida.
— Ué... mas o teu tipo sempre foi aquelas modelos esqueléticas de passarela — ela provocou, arqueando a sobrancelha com humor.
— Era — ele respondeu, sorrindo com sinceridade. — Desde que a Lena cruzou meu caminho, meu padrão mudou. Ela é diferente. Forte, doce, linda do jeito dela. Ela me desarma.
— E o Louis? — Patty perguntou, rindo. — Tá fissurado na prima dela, né?
— Completamente. Aquela ruiva virou a cabeça dele.
Ela deu um risinho e se recostou nas almofadas.
— Bom... pelo menos você tomou coragem. Porque, olha... eu vejo o Luke com a Lena, eles vivem juntos, mas... nunca vi beijo, nem abraço diferente. Só aquele carinho, sabe? Companheirismo mesmo.
— Você sente ciúmes da Lena com ele?
Ela olhou para o irmão e suspirou, baixa.
— Não da Lena... do Luke.
Harry arregalou os olhos.
— Espera aí... você gosta do Luke?
Ela balançou a cabeça devagar.
— Não gosto... eu amo aquele nerd charmoso. É o único que realmente mexe comigo. Ele é inteligente, sensível, tem um coração enorme. Se formou super cedo, gerencia a empresa da família com maestria. Eu falei que não queria estagiar na empresa do papai, ele me ofereceu uma vaga na empresa dele. Disse que, se eu mandasse o currículo, ele me contratava.
— E vai mandar?
— Vou. Eu decidi que vou fazer como você: vou correr atrás do que eu quero. Sei que a Lena não tem nada com ele. E só por isso, eu vou lutar por ele. Não vou perder o Luke pra ninguém.
— E você tem certeza mesmo?
— Absoluta. Nunca vi eles se beijando, nem se abraçando de forma íntima. Eles andam de mãos dadas, mas parecem dois irmãos. Tem carinho, mas não tem paixão.
— E você acha que tem chance?
— Acho. Mas às vezes penso que ele é inteligente demais pra mim. Eu não me vejo à altura.
— Ei! Para com isso. Você é inteligente sim, Patty. Do seu jeito, com seu brilho. O Luke não precisa de uma cientista. Ele precisa de alguém que o enxergue além da genialidade. E isso, você já faz.
Ela sorriu, emocionada.
— Obrigada, maninho. Então tá decidido: você vai conquistar a Lena... e eu vou conquistar o Luke.
— Combinado — ele respondeu, batendo a mão na dela. — Missão declarada.