A madrugada chegou silenciosa, como um véu de estrelas cobrindo a cidade. Lá dentro, no refúgio de Patrick, os corpos permaneciam entrelaçados sob os lençóis macios de linho. O ar estava impregnado do perfume dela — floral e suave — misturado ao aroma amadeirado do sabonete dele. Um cheiro que ela jamais esqueceria.
Patrick ainda a mantinha nos braços, como se temesse que, ao soltá-la, tudo desaparecesse como um sonho bom.
— Você tá bem? — ele perguntou, os lábios tocando de leve a testa dela.
Lana assentiu com um sorriso pequeno e envergonhado, os olhos ainda meio marejados.
— Eu estou muito bem. Um pouco assustada, talvez. Mas feliz. Nunca pensei que fosse assim. Tão inteiro.
— Foi mais do que eu imaginei também. — ele respondeu com sinceridade. — Você me dá paz, Lana. E me dá vontade de fazer planos. Vontade de ser melhor.
Ela sorriu, virou-se de lado e passou o dedo pela linha do maxilar dele.
— E você me dá coragem. Eu me sinto segura. E amada.
— Porque você é. E sempre vai ser.
Silêncio. Só os corações pulsando juntos.
Do lado de fora, em frente ao prédio, uma figura feminina observava. Dentro do carro, Brittany apertava o volante com força, os olhos fixos na janela do apartamento. Ela viu quando Lana entrou mais cedo, de vestido claro e salto elegante. Viu quando as luzes se apagaram. E agora, mesmo na madrugada, ainda estava ali.
— Filha da... — rosnou entre os dentes. — Tirou tudo de mim. Mas não vai ficar assim. Não vai.
Seu celular tocou. Era a mãe.
— Volta para casa agora, Brittany! Pelo amor de Deus, você vai acabar presa!
— Não, mãe. Ele precisa saber que eu ainda estou aqui. Que ele ainda vai me ver de novo.
— Você já acabou com tudo, menina! Ele não quer nem ouvir seu nome! Volta já para casa!
Ela desligou sem responder. O rosto dela estava transtornado, com a maquiagem borrada e os olhos injetados.
De volta ao apartamento, Lana cochilava com o rosto encostado no peito de Patrick. Ele, no entanto, estava desperto. Os olhos fitavam o teto, mas o sorriso no canto da boca denunciava o estado de encantamento.
Ele sabia: aquela noite mudava tudo. Já não era apenas o desejo que os unia, mas a certeza de que havia encontrado a mulher da vida dele. E faria de tudo para protegê-la — inclusive do passado que insistia em bater à porta.
O primeiro raio de sol filtrava-se pelas cortinas leves, dourando os contornos da pele de Lana como se ela fosse uma pintura viva. Patrick despertou primeiro. Ainda nu, com os cabelos bagunçados e o peito exposto, ele virou-se devagar, observando a jovem adormecida ao seu lado.
Ela estava aninhada nos lençóis, uma das mãos sob o travesseiro, os cabelos soltos sobre o ombro. A imagem dela assim, tranquila, tão entregue, mexeu com ele de um jeito profundo.
“A mulher mais linda que já deitou nesse colchão não foi a que desfilou pelas festas comigo… foi a que deitou de alma,” pensou.
Cuidadoso, ele saiu da cama e caminhou até a cozinha americana. Vestiu uma calça de moletom, preparou café, suco de laranja, frutas e pães. Decorou a bandeja com uma rosa — que ele havia mandado entregar no dia anterior — e retornou ao quarto. Ao entrar, viu que ela já estava acordando, esfregando os olhos com delicadeza.
— Bom dia, minha linda. — ele disse, com a voz baixa e rouca. — Trouxe café da manhã para a minha musa.
Lana arregalou os olhos, surpresa.
— Patrick… você não precisava…
— Preciso sim. E vou fazer isso todos os dias, se você quiser acordar ao meu lado.
Ela ficou muda. Ele se sentou ao lado dela e lhe ofereceu uma xícara. Os dedos se tocaram, o olhar mergulhou fundo no dele.
— Você tá me deixando mimada… — sussurrou ela.
— Quero te mimar. Quero cuidar de você. Eu não tive isso antes. Achei que fosse feliz com pouco, mas com você descobri o que é transbordar.
Ela corou, mordendo o lábio inferior.
— Ontem... foi mágico.
— Foi nosso começo. Porque, Lana… — Ele colocou a xícara de lado, pegou a caixinha de veludo azul que havia deixado escondida na gaveta e a abriu. Era um anel de safira com pequenos diamantes cravados nas laterais.
— Eu sei que parece cedo, mas eu nunca estive tão certo de algo. Isso não é um pedido de casamento ainda. Mas é o meu compromisso com você. Quero que todo mundo saiba que eu escolhi você. Que você é minha mulher. Que esse é o início de uma vida juntos, com respeito, com planos, com futuro.
Ela colocou a mão na boca, emocionada.
— Patrick... é lindo. Mas o mais lindo foi o que você disse.
Ele deslizou o anel no dedo dela. E, em seguida, beijou sua mão, depois sua testa, e então a puxou para um abraço longo e apertado.
— Eu sou sua, Patrick.
— E eu sou seu, Lana.
Enquanto isso, lá embaixo, no carro parado discretamente a uma distância segura do prédio, Brittany observava a movimentação.
Ela viu quando a luz acendeu no quarto. Viu a silhueta dos dois juntos, próximos. Ela estava há horas ali, sem dormir, apenas alimentando o veneno da decepção.
— Ele deu o anel... maldito anel... — sussurrou, rangendo os dentes. — Mas eu vou acabar com isso. Nem que seja a última coisa que eu faça.
O jogo tinha virado.
E a guerra estava apenas começando.