Sala dos Diretores
Harry chegou ao trabalho com Patrick e Louis. Ainda estava com o semblante reflexivo, como quem ruminava uma revelação interna. Assim que se acomodaram na sala, ele soltou:
— Engraçado... Eu sou o mais velho da família, tenho trinta e dois anos nas costas, mas quem me deu uma lição de vida ontem foi a minha irmã mais nova.
Patrick arqueou a sobrancelha, curioso:
— Patrícia?
— Ela mesma. Lembra quando você disse que se gostava da Lena, tinha que se aproximar e investir, ao invés de esperar as coisas caírem do céu?
Patrick assentiu.
— Pois é, ontem foi a minha vez de ouvir isso. A Pathy olhou nos meus olhos e disse, com todas as letras, que se eu realmente gosto da Lena, preciso mostrar isso com atitudes. Que eu não posso ficar esperando que ela venha até mim como as outras vieram. Que a Lena não é como as mulheres com quem eu já me envolvi. Ela é uma moça de família, de princípios. Ela é o tipo de mulher que não se compra com presentes caros, viagens ou joias. Ela quer carinho, atenção. Ela quer ser valorizada como pessoa.
Louis, rindo, provocou:
— Ih, meu meu primo, vais ter que aprender a cozinhar arroz, então. Porque esse negócio de restaurante caro não vai te salvar, não.
Harry soltou uma risada seca, depois coçou a nuca.
— E o pior de tudo isso. Eu nunca namorei de verdade. Sempre foi só curtição, encontros passageiros. Nunca precisei me esforçar. As mulheres vinham até mim. Agora, estou perdido. Como é que começa isso?
Louis deu de ombros, entrando no clima:
— Pior , estamos juntos. Eu também nunca namorei. Só tive momentos, digamos assim. Mas confesso uma coisa: a ruivinha Nice. Está mexendo comigo. Se eu vacilar, vou perder feio.
Harry continua a Pathy também falou uma frase séria. Ela disse que a Lana, a Lena e a Nice são bem resolvidas com o corpo que têm. Elas não ligam para padrão nenhum. Que se antes isso já afetou elas, hoje não mais. Elas se amam como são. São seguras, confiantes. Sabem o valor que têm. E detalhe: elas não têm preço, elas têm valor.
Patrick ficou em silêncio por alguns segundos, depois cruzou os braços e sorriu de lado:
— Sabe o que eu acho? Que finalmente alguém coçou juízo na cabeça de vocês dois. E olha que eu sou o mais velho aqui. Mas, sinceramente? Pathy está certíssima. Vocês sempre valorizaram o que era fácil, o que vinha sem esforço. Mas agora vocês conhecem uma chance de valorizar o que realmente importa. E, pelo que vejo, estão os apaixonados por duas belas mulheres completamente diferentes do que já tivemos antes. Mulheres reais, com alma, com força. E, sinceramente? Eu não troco isso por nada, a Lana é o amor de mãe nhã vida.
Harry soltou um suspiro longo e, pela primeira vez, parecia determinado:
— Então vamos aprender a ser homem de verdade. Porque o jogo agora é outro. E eu estou disposto a aprender, nem que eu leve uns tombos no caminho.
Louis completou, batendo nas costas dele:
— Está aí! Se cair, levanta com classe. Porque nenhuma delas vai aceitar menos do que respeito, verdade e coragem.
— A própria. Só que agora ela é uma mulher, Louis. E me deu um conselho que me fez repensar tudo. Disse que, se eu gosto mesmo da Lena, eu tenho que parar de bancar o distante e ir atrás. Que não é com presentes caros que vou conquistar, porque ela não é como as outras.
Patrick assentiu, cruzando os braços com firmeza:
— Eu sempre enxerguei isso em Lana. Desde o início. Mas, na época, eu estava noivo. E esse noivado terminou justamente por causa do preconceito e dos julgamentos da minha ex. Ela não suportava a ideia de eu conviver com alguém fora do “padrão” dela. Mas graças a Deus, hoje ela está bem, resolveu a vida dela, e isso é o que importa.
Harry olhou para ele com curiosidade, e Patrick continuou:
— Eu sou casado com a Lana porque sempre vi nela a mulher de verdade que ela é. A beleza física me chamou atenção, claro, mas o que me prendeu de verdade foi o que ela é por dentro. E a irmã dela, a Lena, e a prima Nice, são iguais nesse sentido. Podem não ter a mesma essência da Lana, mas têm o mesmo caráter, o mesmo tipo de pensamento. Elas sabem o valor delas. E não é qualquer um que vai conquistar uma mulher assim.
Louis se ajeitou na cadeira, pensativo, e murmurou:
— A Pathy me disse a mesma coisa. Que elas são bem resolvidas. Que não vivem mais presas a padrões, que se aceitam como são. Celulite, gordurinha, tudo. E quem quiser estar com elas, vai ter que aceitar também. Sem filtros, sem ilusões.
Patrick sorriu, com uma pontada de orgulho:
— Agora, senhores, quem vai ter que ensinar alguma coisa aqui são vocês dois. Porque nós três, eu sempre fui sério, o que namorou, noivou. E levei chifre. Mas nem isso me fez desistir de acreditar no amor.
Louis arregalou os olhos:
— Caramba. Você vai mesmo ser padrinho dos filhos da tua ex?
— Vou sim. Ela está noiva do Richard, o pai das crianças. Ele veio aqui, me agradeceu pessoalmente pela consideração de não termos exposto nada publicamente quando descobrimos o que estava acontecendo na empresa. Ressarciu cada centavo do desvio, assumiu os erros e resolveu o que precisava ser resolvido.
Harry ficou em silêncio por um momento, e Patrick encerrou com firmeza:
— Agora, a vida de vocês dois também precisa se resolver. Se vocês realmente querem essas mulheres, vão ter que mostrar isso. Mas da forma certa. Sem joguinhos, sem charme barato. Elas não caem nessas armadilhas. Elas querem verdade. E se vocês não estiverem dispostos a oferecer isso então abram espaço para quem esteja.
Patrick olhou os dois ali, sentados como se esperassem que a vida resolvesse tudo por eles. Respirou fundo, apoiou os braços na mesa e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu o peso da responsabilidade de ser o mais centrado dos três.
— Engraçado por muitos anos vocês me viam como o certinho, o noivo comprometido, o homem que seguia os planos e não quebrava as regras. E mesmo assim, eu fui traído. Levei um golpe onde mais confiava — no coração.
Ele encarou Harry primeiro, depois Louis. A firmeza na voz não era para intimidar, era para despertar.
— Mas isso não me fez desistir de acreditar no amor. Eu casei com a Lana porque vi nela tudo o que eu nunca vi em nenhuma mulher. E não falo só da beleza, porque sim, ela é linda. Mas o que me fez amá-la foi a mulher por trás dos olhos castanhos, da doçura, da inteligência e da coragem. E vocês sabem a Lana nunca se dobrou a padrões. Nem ela, nem a Lena, nem a Nice.
Patrick recostou-se na cadeira, cruzando os braços. Sua expressão era de quem falava com propriedade, com alma.
— Vocês ainda estão tentando entender essas mulheres com a cabeça de quem viveu cercado de luxo e conquistas fáceis. Mas não vão conquistar com joias, viagens ou status. Isso não impressiona nenhuma das três. Elas se conhecem, se valorizam, sabem que têm valor — não preço. E isso, meus irmãos, é raro.
Fez uma pausa breve antes de continuar, mais direto:
— Então, se vocês realmente querem essas mulheres, vão ter que mudar o jogo. Harry, você precisa mostrar para a Lena que existe um homem de verdade por trás do playboy. Louis, você precisa fazer a Nice enxergar que o que sente por ela é sincero e não só mais uma aventura. Vocês vão ter que conquistar com atitude. Com presença. Com respeito.
Ele se inclinou para a frente, como se dissesse a última verdade do dia:
— Não deixem o passado de vocês ditar o futuro. Vocês sabem que erraram, mas agora têm a chance de fazer diferente. E dessa vez não é só por vocês. É por elas. Mulheres assim, de fibra, não aparecem duas vezes. E se vocês perderem, alguém melhor preparado vai ocupar o lugar.