A mãe de Patrick respirou fundo e olhou para o filho com doçura e firmeza:
— Meu filho, pense com carinho no que você quer para a sua vida. Casamento é coisa séria. E a Cindy... bem, ela não é mais a mesma desde que ficou noiva. Está cada vez mais soberba, intolerante. E isso me preocupa.
Patrick assentiu, cansado.
— Eu vou pensar, mãe. De verdade.
Foi então que a irmã de Harry, que até ali estava quieta, se inclinou curiosa sobre a mesa, com os olhos brilhando.
— E como é o nome dessas moças?
Lois foi o primeiro a responder, dando de ombros:
— A que trabalha na recepção é a Elana. O nome da irmã dela... não sei, não. Só sei que ela é filha do Francisco.
O pai de Patrick, que até então observava tudo em silêncio, ergueu uma sobrancelha.
— Francisco? Aquele Francisco? Funcionário antigo nosso?
Lois assentiu.
— Esse mesmo.
O homem sorriu com um ar nostálgico.
— Francisco praticamente viu vocês crescerem. Veio do Brasil com um amigo nosso, empresário também. Esse amigo acabou voltando anos depois para o Brasil, pra administrar a empresa de lá. Francisco preferiu ficar e aceitou trabalhar como porteiro. Desde então, está conosco. Sempre foi correto, educado. Sei que tem duas filhas. A esposa dele faz bolos, salgados... Teresa, não é?
A mãe de Patrick confirmou com um aceno:
— Isso. Teresa. Uma querida.
A irmã de Harry inclinou-se ainda mais, animada.
— E a Lana? Ela cursa faculdade?
— Cursa — respondeu o pai de Patrick. — Ou melhor, já se formou em Administração, está só cumprindo o estágio agora. As duas são estudiosas.
A jovem deu uma risadinha de reconhecimento.
— A Lana... a irmã da Lena?
Lois coçou a cabeça.
— Gente, não sei o nome da irmã dela. Só sei que o pai delas é Francisco e a mãe é Teresa.
A irmã de Harry abriu um sorriso largo:
— Eu conheço! Elas estudam na mesma faculdade que eu. A Lana já se formou em Economia, com ênfase em Logística. Mas a Lena ainda está na minha sala. Estuda Administração comigo. São duas pessoas maravilhosas, educadas, esforçadas, discretas... e lindas, mãe. Lindas. Sabe aquele tipo de beleza brasileira autêntica? Só que nascidas aqui, americanas, mas com sangue brasileiro. Elas têm aquele charme natural, sabe?
Harry arregalou os olhos e arqueou as sobrancelhas, interessado.
— É mesmo? Que interessante...
Patrick revirou os olhos e murmurou, quase sem querer:
— Ai, meu Deus... lá vem vocês dois.
A mãe dele o olhou com reprovação divertida.
— Não reclama, Patrick. Depois da Cindy, qualquer moça que traga paz já é um avanço, viu?
Todo mundo riu, menos Patrick, que estava pensativo, com o olhar perdido no fundo da taça de vinho. A imagem do sorriso tímido de Lana insistia em voltar à sua mente, como um sinal suave de que algo começava a mudar
Patrícia ajeitou-se na cadeira, visivelmente animada com o rumo da conversa.
— Mãe... vocês sabem o Bob, né? Filho do Hendrick. Aquele quarterback bonitão que acha que o mundo gira em torno do tanquinho dele?
— Aquele metido? — resmungou Lois. — Acha que é o Brad Pitt da nova geração.
— Esse mesmo — confirmou Patrícia, revirando os olhos. — Pois não é que ele tentou dar em cima da Lena?
— Da irmã da Elana? — perguntou Harry, inclinando-se curioso.
— Sim, a própria. E vocês não imaginam o que ela fez. Ele ficou rodeando, todo cheio de si, achando que ela ia cair nos encantos dele... aí, ela virou pra ele e disse: “Desculpa, querido, não tenho tempo pra essas suas diversões. Vai lá com as meninas que gostam de jogar autoestima fora, porque eu tenho coisa melhor pra fazer: estudar.”
A mesa caiu na gargalhada.
— Não acredito — murmurou a mãe de Patrick, rindo. — Ela disse isso?
— E mais! — continuou Patrícia, cheia de entusiasmo. — Quando ele tentou dar uma humilhada nela, pra não sair por baixo, sabe o que ela fez? Colocou ele no lugar com uma elegância cortante. Disse assim: “Eu não vou perder meu tempo nem minha beleza com alguém insignificante como você. Não é seu carro de luxo nem seu sobrenome que vão me fazer rastejar. Eu sou linda, maravilhosa e gostosa, e sei disso. E o melhor: não preciso provar nada pra ninguém. Agora, sai do meu caminho ou vai conhecer a lei.”
— Caramba... — murmurou Henry, visivelmente impressionado. — Essa Lena...
— É de tirar o chapéu — completou Patrícia. — E sabe por que o Bob está atrás dela? Não é só pela beleza. É porque na faculdade todo mundo sabe que as duas — a Elana e a Lena — são virgens.
Silêncio por alguns segundos.
— Virgens? — repetiu Patrick, franzindo o cenho, surpreso.
— Sim. Mas não por falta de oportunidade, viu? — disse Patrícia. — É por escolha. Elas dizem que não seguem modinhas, que não se moldam pra agradar ninguém, e que não têm tempo pra essas “sutilezas”. Elas são virgens por opção. Têm personalidade, integridade, e uma confiança que assusta. Eu admiro muito aquelas duas.
Patrick ficou em silêncio, os olhos levemente semicerrados, como se estivesse assimilando tudo. A imagem que tinha das meninas ganhava contornos muito mais fortes e envolventes. Havia algo ali que ele não conseguia ignorar.
Henry também não disfarçou o interesse.
— E como é a Lena? Quer dizer... fisicamente?
Patrícia sorriu, como se já estivesse esperando a pergunta.
— Tem quase um metro e oitenta. Cabelo castanho claro, liso, enorme, vai até a cintura. Olhos verdes, pele morena clara. Ela deve usar... sei lá, um tamanho 12 ou 14 aqui nos EUA. Corpo escultural, com curvas de dar inveja a qualquer modelo de i********:. Coxas grossas, cintura fina, s***s fartos, bumbum alto... e aquele rosto, gente... parece uma boneca de porcelana. Sabe aquele tipo de mulher que entra num lugar e muda a energia do ambiente? É ela.
Lois, que já estava com o queixo apoiado na mão, soltou um suspiro:
— Alguém me abana.
Harry gargalhou.
— Essa garota vai acabar com o sossego de vocês dois.
Patrick não disse nada. Apenas pegou o copo, girou o vinho devagar e murmurou:
— Pode ser... mas talvez ela seja exatamente o que eu preciso pra encontrar paz.
A mãe dele lançou um olhar significativo, mas não disse nada. Pela primeira vez em muito tempo, viu nos olhos do filho algo diferente. Algo que nem a Cindy, com todo seu brilho superficial, jamais conseguiu despertar: respeito.