A arquiteta Ceci folheava seu portfólio com zelo, exibindo imagens detalhadas de quartos infantis encantadores, enquanto Lana observava tudo com olhos brilhantes. A delicadeza dos detalhes, as paletas suaves, a funcionalidade projetada com afeto — tudo fazia com que ela se emocionasse ainda mais com o futuro que se aproximava.
— Ceci… — Lana chamou suavemente, segurando uma das páginas plastificadas com uma das mãos. — Me permita mudar de assunto só por um instante?
— Claro, querida. Pode falar — respondeu Ceci, sorrindo com simpatia.
— É sobre a Lisbeth, a vendedora que nos atendeu na loja ontem.
Ceci olhou com curiosidade.
— Ah, sim, aquela moça muito educada. O que houve?
Lana ajeitou-se no sofá, respirando fundo antes de continuar.
— Ela nos tratou com tanto respeito, foi prestativa, cuidadosa... e mesmo sem saber quem éramos, fez tudo com tanto carinho, sem nenhuma ganância. Patrick e eu ficamos tocados. Nós demos uma carona para ela no fim do dia e tivemos a chance de conhecê-la um pouco mais. Descobrimos que ela cuida sozinha da irmãzinha pequena, depois que perdeu a mãe para o câncer. Trabalha o dia inteiro, estuda o quanto pode, e ainda se desdobra para manter tudo em ordem.
Ceci inclinou ligeiramente a cabeça, visivelmente emocionada.
— Meu Deus... Eu não fazia ideia. Ela é nova na loja, mas sempre me cumprimentou com tanta educação... nunca imaginei que tivesse uma história tão difícil.
Lana então se adiantou:
— Tem mais uma coisa que talvez você devesse saber… Ela cursava Design de Interiores. Mas precisou trancar a faculdade para cuidar da mãe durante o tratamento. E agora, com todas as responsabilidades que assumiu, ainda não conseguiu voltar.
A reação de Ceci foi imediata. Ela arregalou levemente os olhos, deixando o portfólio de lado, e murmurou:
— Design de Interiores?
— Sim — confirmou Lana, com um pequeno sorriso. — E por isso, acredito que ela tem esse olhar tão apurado. Ela não apenas atende bem — ela realmente entende do que está mostrando. Sabe o que combina com o perfil de cada cliente. Foi ela quem indicou você para a gente, aliás.
Ceci apoiou os cotovelos nos joelhos, o olhar agora distante, reflexivo.
— Isso explica muita coisa… — murmurou. — Você acredita que, só nos últimos seis meses, ela me indicou mais clientes do que qualquer outro vendedor da loja? E sempre os perfis certos. Os clientes ideais. Eu nunca precisei remanejar nada. É como se ela soubesse exatamente quem vai se encantar com meu estilo.
Ela então olhou para Lana, decidida.
— Sabe de uma coisa? Essa moça tem talento. E tem vocação. Ela só precisa de alguém que acredite nela. Assim que eu finalizar esse projeto do quarto dos seus bebês, eu mesma vou procurá-la. Vou convidá-la para trabalhar comigo, no meu escritório.
— Você está falando sério?
— Com toda a certeza. Se ela tiver vínculo com alguma instituição, eu posso até tentar conseguir bolsa, apoio para que retome os estudos. Tenho contatos em universidades e fornecedores. Eu mesma comecei sem nada, e só consegui porque alguém um dia me deu uma chance.
Lana, visivelmente emocionada, levou a mão ao peito.
— Ceci… você não faz ideia do quanto isso me alegra. Ela merece tanto… e você não vai se arrepender.
— Acredito em você — respondeu a arquiteta, sorrindo. — E vou fazer o possível para ser a ponte que ela precisa atravessar. Não é todo dia que encontramos alguém tão íntegra, tão dedicada e com tanto potencial.
— Patrick vai ficar feliz em saber disso — disse Lana com a voz embargada. — Ele ficou profundamente tocado. Ele quer fazer algo por ela, e eu também. E agora saber que talvez ela tenha uma chance real de recomeçar…
Ceci pegou novamente o portfólio, com um novo brilho no olhar.
— E vai recomeçar. Porque gente assim não pode ser desperdiçada nesse mundo. E se for para eu investir em alguém, que seja em uma jovem como ela. Que merece.
Lana respirou fundo, acariciando a barriga.
— E os nossos filhos… vão crescer aprendendo a importância da empatia, do respeito e da justiça. Como o Patrick sempre diz: “De que adianta termos tudo, se esquecemos de olhar ao redor?”
Ceci assentiu, comovida.
— E é por isso que eu gosto tanto de projetos como esse. Porque além de decorar ambientes, nós também decoramos destinos.
Um Segredo de Mulheres que Transformam Destinos
A conversa entre Lana e a arquiteta Ceci transcendeu o profissional. Já não era mais apenas sobre o quarto dos bebês. Era sobre vidas. Sobre propósitos. Sobre justiça feita em silêncio, com amor.
Lana olhou firme para Ceci, com os olhos brilhando de determinação.
— Ceci… se você realmente for dar essa oportunidade de trabalho para a Lisbeth, como me disse… então eu quero pedir algo.
— Claro, querida. Pode pedir — disse Ceci, com um sorriso acolhedor.
— Eu vou conversar com o meu noivo. Quero que ele custeie uma bolsa de estudos para ela. Para que ela consiga concluir o curso de Design de Interiores. Ela ama isso. E tem talento de sobra. Só precisa de uma chance.
Ceci arregalou os olhos, emocionada.
— Você faria isso?
Lana assentiu com firmeza, o tom suave, mas cheio de convicção.
— Sim. Mas com uma condição… Nós não vamos contar isso a ela. Para todos os efeitos, ela vai achar que ganhou essa bolsa por mérito. Como uma oportunidade vinda da própria faculdade, ou através do seu escritório. Nós vamos fazer isso parecer uma recompensa por seu esforço, sem que ela se sinta um peso ou uma caridade. Esse será o nosso segredo. Tudo bem, Ceci?
A arquiteta levou a mão ao peito, tocada pela generosidade daquela mulher que acabara de conhecer.
— Tudo bem, Lana… — sussurrou. — Combinado. Que segredo lindo o nosso. Essa menina… além de me trazer tantos bons projetos, me trouxe hoje uma cliente especial. Diferente de tudo que estou acostumada. Vocês não são cheios de exigências, não colocam pressão. São simples. Humanos. E você, Lana… você é admirável.
— Ah, Ceci… — Lana sorriu, acariciando a barriga. — Eu ainda quero que você conheça o Patrick. Ele é o verdadeiro responsável por tudo isso. É um homem maravilhoso. Humano. Sensível. Acredita que dinheiro nenhum vale mais do que ajudar alguém que merece.
— E eu acredito — respondeu Ceci com a voz firme, mas os olhos marejados. — E posso te dizer com convicção: ele escolheu a mulher certa para caminhar ao lado dele.
As duas se olharam, unidas por um propósito maior. E ali, naquele instante, firmaram um pacto silencioso — não apenas de ajuda, mas de transformação.
— Então está decidido — disse Lana, levantando-se devagar. — Nós vamos ajudar a Lisbeth. Sem que ela saiba de onde vem a mão que a ampara. E um dia, ela vai ajudar outros também. Assim como nós estamos fazendo agora.
Ceci sorriu, sentindo que havia participado de algo maior do que um projeto de interiores.
— E que segredo abençoado o nosso, Lana.
— Que seja sempre assim — completou ela. — Mulheres ajudando mulheres. Em silêncio, com amor. Porque é isso que muda o mundo de verdade.